Economista observa tendência de volatilidade da moeda americana ante ao Real, o que reflete no bolso dos brasileiros
Embora a moeda seja norte-americana, a alta do dólar em relação ao Real impacta nos preços de boa parte dos produtos que estão na mesa dos brasileiros. Essa relação aparece inclusive no pãozinho de todo o dia, e vários outros artigos feitos a partir da farinha de trigo, uma vez que boa parte desse produto é importada. O dólar ultrapassou os R$ 4,00 e não há razão para esperar uma queda significativa em curto prazo.
O economista e professor de Ciências Econômicas da Unisinos, Marcos Tadeu Lélis, observa que a alta da moeda está atrelada a fatores externos e internos. No Brasil, a relação é com o ano eleitoral e o clima de indefinição no cenário político do país. Entre os fatores internacionais, ele cita a “guerra comercial” entre a China e os Estados Unidos e a crise econômica na Turquia.
Sobre perspectivas futuras, Lélis observa que na economia internacional não deve haver mudanças em curto prazo. Em relação aos fatores internos, Lélis reforça que a incerteza no campo político é grande, e essa sensação deve permanecer até que haja um quadro mais bem definido ou que ocorram as eleições. Ele, no entanto, acredita que, embora a variação continue, a moeda não deve subir muito mais.
Em sua avaliação, o economista menciona a influência do dólar no dia a dia, uma vez que parte dos insumos do que os brasileiros consomem é importado. “Qualquer choque de câmbio vai impactar na inflação”, acrescenta. Por isso, Lélis salienta o impacto nas compras de vários produtos, assim como em viagens ao exterior, por exemplo.
Ele lembra ainda que a política de preços dos combustíveis é atrelada ao valor do dólar. O economista acrescenta que, sendo mantida essa política, o preço do combustível terá aumento. “Se (o combustível) for afetado, reflete no transporte e em toda a cadeia de consumo”, observa Lélis.
Alguém ganha com a alta do dólar? O economista observa que especuladores ganham com essa variação da moeda. Em princípio, os exportadores também poderiam ganhar, mas Lélis afirma que a volatilidade do dólar é um problema. “A moeda nacional desvalorizar ajuda, mas a volatilidade pode afetar a capacidade de calcular o preço do produto”, esclarece. “Por um lado ajuda, mas por outro tem problema no cálculo do preço, pode errar o preço”, complementa. Ele esclarece, no entanto, que o efeito nas exportações só ocorre em longo prazo, já o aumento nos custos e na inflação é mais imediato.
Impacto nos preços chegará em curto prazo
“O aumento ainda não chegou às lojas, mas os fornecedores falam que vai ter reajuste em setembro”, afirma o diretor comercial de supermercado, José Augusto Mombach. A previsão é que o impacto nos preços ocorra no meio do próximo mês. Ele observa que o impacto maior deve ser no pão e em todos os produtores derivados do trigo, assim como no feijão e na lentilha. “Parte desses produtos são importados”, acrescenta. O diretor acredita que a alta vai refletir em menor demanda, pois o consumidor tende a reduzir o uso ou substituir itens que passam a pesar mais no bolso. “E a situação (financeira) das pessoas já não está boa”, acrescenta, lembrando que o impacto do dólar é mais um problema na economia do país.