Consumidores montenegrinos, no entanto, dizem não sentir no bolso os resultados expostos pelo instituto
A inflação está baixa. É isso que aponta o dado recentemente divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com o índice oficial de preços do país. Esse índice que em 2016 acumulava 5,51% de janeiro a setembro, neste ano está em 1,78%. O principal fator responsável por essa diminuição, de acordo com o instituto, é o preço dos alimentos, que teria baixado nos últimos meses.
O levantamento trouxe a média de preços dos produtos que estariam em queda. O feijão, o arroz, a batata e o alface, por exemplo, são listados com reduções de 8,93%, 34,71%, 24,45% e 5,43% em seus valores desde janeiro, respectivamente. Frutas também são citadas, com a laranja reduzindo em 35,50% e a maçã em 26,85%. Os consumidores da cidade, no entanto, dizem não sentir este impacto.
O auxiliar de produção Júlio Fernando Vargas é um deles. Diz que tem que pesquisar muito para localizar o valor mais em conta. “Tu só consegue barato na promoção. Eu pesquiso muito. E tem diferença de um mercado para outro. Às vezes centavos, às vezes um real, e já vale a procura”, comenta. Ele considera o dado sobre a inflação um mascaramento do governo, perto das altas do gás de cozinha e da gasolina, por exemplo. “O governo diz que não, mas as coisas tão subindo”.
Opinião parecida tem a proprietária de uma fruteira e minimercado no Centro. Eva Vargas não observa nem a diminuição citada para feijão e arroz. Ela vai à prateleira de seu estabelecimento e confirma o valor. “Olha aqui. Ainda não senti baixa nenhuma”, afirma. Quanto às frutas, diz que, normalmente, a variação de preço se dá de acordo com a época e a safra.
A pesquisa do IBGE compõe o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — índice oficial de medição da inflação pelo governo. A doutora em Economia Maria Carolina Rosa Gullo diz que essa é média nacional, o que explica a percepção contrária dos consumidores montenegrinos. Os alimentos, por sua importância na despesa das famílias, têm grande influência no resultado do índice.
Banco Central acompanha meta da inflação
É a partir do IPCA que se dá o controle da meta da inflação do Banco Central, que está fixada em 4,5% para 2017. Em torno dela, há intervalo de tolerância de um ponto percentual e meio para mais ou para menos. “Para chegar à meta, o banco se baseia no índice para ir corrigindo e controlando o valor por meio da política fiscal e monetária, como os ajustes feitos na Selic, por exemplo”, esclarece Maria Carolina.
Terminar o ano com índice fora do estipulado obriga o órgão a enviar carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Com isso, são previstos mais ajustes para o ano seguinte. “Além disso, se passar muito da meta, significa que o poder de compra do consumidor diminuiu. Se ficar muito abaixo, quer dizer que as pessoas não estão consumindo.”
Em uma audiência no Senado, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, falou sobre a questão: “Houve um choque de preços de alimentos, que às vezes depende de safra, de clima. Neste ano, tivemos mudança relevante da inflação de alimentos, que acumula queda de mais de 5%, contra alta de mais de 10% no ano passado”. Com a situação atual, é preciso cuidado para que o IPCA suba um pouco até o final do ano, chegando à média.
Com ou sem meta, montenegrinos como Iris Ramos seguem atrás das promoções para compra dos mantimentos de casa. Aposentada, ela chega a passar o dia todo indo de um mercado a outro, carregando seu carrinho de compras na busca pelo melhor preço. “Cada um tem que saber como comprar e onde comprar. A gente faz toda uma manobra pro dinheiro render”, relata. Para o consumidor local, o índice nacional chega a ser irreal.