Bairro mais atingido foi o Aeroclube, onde diversas residências foram danificadas pela ventania da tarde
A fúria da natureza mostrou mais uma vez seu poder em Montenegro no entardecer de quinta-feira, dia 25. O temporal que chegou por volta das 16h trouxe fortes ventos que deixaram dezenas de residências destelhadas. O bairro mais atingido foi o Aeroclube, onde ao menos quatro casas foram totalmente destelhadas. Também houve registros de destelhamento em bairros como Olaria, Imigração e Estação, além de árvores caídas em rodovias e outros danos por toda a cidade. A Metsul Meteorologia registrou, na base de Canoas, ventos de 109,9 quilômetros por hora.
Paulo Ricardo Oliveira da Rosa, 62, estima cerca de R$ 50 mil em prejuízo. Ele, que tem um serviço de conserto de refrigeração, teve a casa toda destelhada e perdeu tudo, inclusive equipamentos de clientes. “Os equipamentos de fregueses estragaram. Como eu vou prestar conta disso?”, questiona. Telhas da casa onde ele e a família moram, de aluguel, foram parar na outra quadra da rua Ernandes A. Fernandes, há cerca de 50 metros, com a força da ventania. “As telhas que caíram daqui foram arrebentando tudo”, relata Paulo. O morador ainda teve a cabeça machucada por pedaços de destroços que caíram com o temporal. “E fiquei num cantinho e tentei proteger a cabeça”, recorda.
A uma quadra dali, ainda na mesma rua, a moradora Ruth Fernandes da Silva olhava atenta para as equipes da prefeitura que chegavam ao bairro para calcular os prejuízos e tentar solucionar – ainda que paliativamente – a situação. “Foi pior do que da outra vez”, diz, recordando a única vez, antes dessa, que sua casa havia sido atingida por um temporal, em 10 anos que mora no bairro. “Lá em cima não sobrou nenhum quarto, as roupas estão tudo molhadas. Demoliu tudo, tudo, tudo”, conta. Além do destelhamento, a falta de luz, internet ou sinal de telefonia dificultavam que os moradores pedissem ajuda às autoridades.
Também morador do bairro Aeroclube, Aníbal Ferreira de Souza, 55 anos, é outro morador que sofreu com os danos causados pelo temporal. Ele estava com o filho no mercado quando a tormenta chegou. Ao chegar em casa, deparou-se com a residência destelhada. O vigilante contou que nunca antes passou por este problema antes, mas que os moradores já sabem que quando dá vento forte as residências correm perigo no bairro. No entardecer de quinta-feira ele aguardava auxílio por parte do Poder Público com lonas para colocar no lugar das telhas levas pelo vento. “Material a gente vai ver a partir de amanhã, hoje não tem mais o que fazer”, apontou.
Prefeitura avaliará decreto de calamidade
Diante dos estragos causados pelo temporal, a Prefeitura de Montenegro poderá decretar estado de calamidade pública. Tal ato é um recurso que o Município adotaria para auxiliar de maneira mais rápida as vítimas do temporal através da compra e distribuição de telhas, por exemplo. Uma reunião na manhã desta sexta-feira, dia 26, deverá definir se haverá ou não decreto.
No sede do Executivo, no anexo aos fundos do Palácio Rio Branco, o vento deslocou uma telha sobre a secretaria municipal da Fazenda. Já na Casa do Produtor Rural, parte do forro caiu.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil em Montenegro, Carlos Ferrão, só no bairro Aeroclube foram mais de 30 casas destelhadas. Num primeiro momento, os moradores receberam lonas para proteger suas residências. Nos próximos dias, os atingidos pelo temporal poderão fazer um cadastro para conseguir telhas junto ao Executivo.
Foram mais de 50 pessoas da Defesa Civil, secretarias municipais de Viação e Serviços Urbanos e de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania e albergados auxiliando no atendimento após o temporal.
Destruição também no Olaria
Na outra ponta da cidade, no bairro Olaria, Alessandra Camila, 37 anos, viu a casa onde mora há cinco meses com seu marido ter as telhas arrancadas e perdeu tudo o que havia dentro da moradia. Ela tinha recém chegado à residência depois do trabalho quando o temporal teve início. Em questão de poucos minutos, as telhas foram levantadas e a casa foi destelhada rapidamente e por completo, encharcando seu interior. Passada a tormenta, o marido de Alessandra, com auxílio de amigos, já colocava uma lona para cobrir o telhado da casa.
“O povo trabalha e acontece isso”, lamenta moradora que teve casa atingida novamente
Moradora do bairro Aeroclube, Ivete Luisa Jahn, 52 anos, teve danos em sua casa, mas em menor proporção: o muro e o forro de parte de dentro da casa caíram. No entanto, ela entende o desespero passado pelos vizinhos que tiveram um destelhamento completo da moradia por ter passado por isso há cerca de cinco anos. “Foi uma vez que deu um temporal bem forte e eu perdi tudo, fiquei sem nada. Só com as quatro paredes”, contou.
Ivete revelou que quando o tempo fecha já fica apreensiva. “Hoje eu fiquei em estado de nervos, porque da outra vez eu também estava dentro de casa quando eu vi o telhado voando. Foi horrível, então, hoje, eu fiquei bem nervosa. Quando vi o muro caindo achei que ia arrancar tudo de novo”, relatou.
A moradora agradece por ter perdido apenas o muro e o forro. “Graças a Deus ninguém se machucou. Dessa vez eu saí de dentro de casa, fiquei com medo”, afirmou. Apesar de ter perdido pouco se comparado há cinco anos, Ivete lamenta a situação. “É triste. O povo trabalha e acontece isso. Eu nem consegui arrumar minha casa direito ainda”, lastimou.
Região sem danos
Felizmente, nas cidades da região poucos foram os danos registrados.
Em Pareci Novo, segundo a Assessoria de Comunicação da Prefeitura, não há indícios de qualquer estrago. Já em Maratá, foi constatado muito vento durante a tarde, e os moradores ficaram sem luz na cidade. Em São José do Sul, também foi registrado somente a queda de energia geral.
Até o fechamento desta matéria não havia informações sobre a passagem do temporal em Brochier.
Árvores caídas, vias bloqueadas
Nas rodovias, a queda de árvores também impactou o trânsito. Na ERS-124, pelo menos quatro pontos de bloqueios total ou parcial foram registrados e os motoristas precisavam de atenção ao trafegar pela rodovia.
Participaram desta reportagem: André R. Herzer, Andressa Kaliberda, Isadora Ferreira, Marielle Gautério, Reinaldo Ew e Wellington Marques