Sexting: parece normal, mas tem consequências

Prática de compartilhar fotos ou vídeos sensuais ganhou mais adeptos, mas chance de virar problemão é grande

O sexting, ato de enviar mensagens com conteúdo sexual, está em alta entre os adolescentes ao redor do mundo. De acordo com um estudo publicado no científico Journal of the American Medical Association Pediatrics, a prática está em nível ascendente. Foram analisados os resultados de 39 pesquisas realizadas em diversos países, como Estados Unidos, Bélgica, África do Sul, Holanda e República Tcheca, e ao menos 27% dos adolescentes afirmaram receber textos com conteúdo sexual e outros 15% admitiram mandar.

Agora preste atenção a estes números: ao menos 12% desse grupo afirmaram ter enviado material sexual sem o consentimento ou sem pedir permissão aos receptores. 8,4% tiveram suas próprias mensagens encaminhadas para outras pessoas, sem consentimento.

A psicopedagoga Valeska procura trabalhar com a autoestima e o autoperdão dos envolvidos

Para a psicopedagoga Valeska Marx Machado, a situação é semelhante no Brasil. Ela explica que adolescentes com idades entre 12 e 13 anos costumam ser os que mais trocam, entre si, imagens um pouco mais sensuais. “Geralmente essa é a idade em que o ser humano começa a entender não apenas o funcionamento da sua área sexual, mas também começa a despertar sensações e desejos. É o tempo em que geralmente aparecem as primeiras paixões e, muitas vezes, num gesto de imaturidade, acabam trocando conteúdos sensuais precocemente entre si e evitando o contato fisíco: como se a troca de materiais fosse algo totalmente seguro”, comenta.

Mas Valeska diz que esse ainda não é o maior problema. Por mais que seja inseguro compartilhar sua intimidade com alguém de sua confiança, ainda existe algo mais preocupante. “A maioria dos casos que chegam até mim são de meninas que namoravam ou mantinham uma relação muito próxima com um menino, e enviavam vídeos ou fotos suas. Só que esses materiais foram redirecionados a outras pessoas que continuavam a repassar. Esse é o grande problema”, afirma.

A psicopedagoga procura trabalhar com o auto-estima e o auto-perdão dos envolvidos. Para ela, os maiores motivos para que isso aconteça são o modismo ou a falta de confiança. “Se ela reconhece a sua beleza e compreende que não precisa fazer dessa forma, ela não faz. O problema é que, em muitos grupos de amizade, o ato de negar o compartilhamento de fotos ou vídeos sensuais soa como uma anormalidade, quando, na verdade, é uma maneira de prevenção”, diz a profissional.

Divulgação das imagens é caso de Polícia
A divulgação de conteúdo erótico sem consentimento dos envolvidos pode ser interpretado como crime pela Justiça, de acordo com várias leis. O ato pode ser classificado como difamação ou injúria, segundo os artigos 139 e 140 do Código Penal. Quando envolve adolescentes, o crime prevê pena de três a seis anos de reclusão e multa para publicação de materiais que contenham cenas com menores de 18 anos, segundo o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Quando há invasão de computadores ou smartphones para roubar fotos alheias sem autorização do titular, o “autor do crime” pode pagar multa e ser preso por três meses a um ano, de acordo com a Lei 12.737, conhecida como Lei Carolina Dieckmann.

Entre suas lembranças mais tristes, a psicopedagoga Valeska conta o caso de duas garotas que se suicidaram após terem suas imagens veiculadas. “Elas haviam mandado fotos para os namorados por rede social e eles compartilharam com amigos, que vieram mais tarde a repercutir essas imagens de forma pública. Receberam muitas críticas e se suicidaram poucas semanas depois do ocorrido”, conta.

Entretanto, existem casos de superação. Ela lembra de um caso semelhante envolvendo um casal de adolescentes, em que o rapaz também decidiu expor imagens intimas que sua companheira havia lhe enviado. “A diferença é que a família do rapaz conversou com ele e houve uma retratação. A família da menina também aceitou as desculpas e o caso foi solucionado de uma forma mais amigável, com ambos reconhecendo seus erros”, observa.

A solução é não compartilhar. Os jovens devem estar cientes de que suas atitudes têm consequências e, neste caso, geralmente são nocivas.

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