Mais de mil páginas foram preenchidas com informações dos séculos XIX e XX graças ao trabalho de voluntários
Se traduzir o alemão para o português não é uma tarefa fácil, imagine traduzir documentos históricos escritos com letras góticas e no idioma europeu. Este é o trabalho do montenegrino Eduardo Kauer e outras três pessoas interessadas em contar a história das comunidades evangélicas de Montenegro, Costa da Serra e Campo do Meio. Nesta semana, os resultados de todo esse processo foram apresentados em um evento no Memorial ao Imigrante Alemão.
Desde 2012, Kauer traduz e pesquisa livros de atas, estatutos, livros-caixa, registros de batismo, casamento e sepultamento. A partir da abertura do Memorial, pessoas ofereceram os documentos para que fossem digitalizados. A maior dificuldade deste processo foi transliterar a letra gótica para o idioma alemão escrito em letra latina. A partir disso foi possível transcrever os textos para o português. “Temos um material histórico desde 1864, mais antigo que o município de Montenegro e que diz muito sobre a vida das pessoas na época”, conta. O esforço da equipe se traduz na vontade da descoberta do que está escrito, preservar o original e facilitar a busca por assuntos históricos e dados da época.
O primeiro documento a ser traduzido foi o Livro de Registros da Comunidade Evangélica de São João do Montenegro (1864 a 1893), que possui 250 páginas e demorou dois anos até ser totalmente transcrito. Até hoje, 1.016 páginas foram preenchidas com as traduções de 14 documentos. A equipe é formada pelo teólogo Eduardo Kauer, pastor Johannes Friedrich Hasennack, produtor rural Clédson Pilger e tradutor Dankwart Bernsmüller.
Os resultados são disponibilizados para consulta apenas no Memorial ou por e-mail. Conforme Kauer, a ideia é fazer uma publicação resumida do conteúdo escrito em português e do processo realizado. Quem tiver interesse em participar das traduções, emprestar documentos históricos, doá-los e até mesmo pesquisar dados já catalogados pode entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone 51 998558232.
Fatos históricos descobertos
– Entre 1864 e 1919, isto é, em um período de 55 anos, foram encontrados registros de apenas nove suicídios de evangélicos. Para o período, segundo Kauer, é um número baixo.
– Com os livros-caixa, descobriu-se quem realizava doações para a paróquia, o valor doado e a frequência em que este gesto ocorria.
– A partir de uma foto da Igreja Evangélica de Costa da Serra foram cruzadas informações com o livro-caixa para confirmar a autenticidade da imagem. A confirmação veio por meio das descrições dos pagamentos da obra e dos coqueiros plantados no pátio da capela, os quais aparecem na foto e estão transcritos no livro-caixa.
– Nas atas constam discussões que existiam no final do século XIX. Em 1878, era negociada a possibilidade de cobrança de mensalidades na escola evangélica, única na cidade. Portanto, estava em pauta se o ensino deveria ser público ou privado.
– Outro fato curioso foi a vinda de muitos fiéis que moravam em outras comunidades da região. As pessoas eram de locais próximos ao rio e aos arroios, que facilitavam o deslocamento até Montenegro.