Educação. A previsão é que essa parcela da população seja convocada para suprir a falta de mãe de obra no mercado de trabalho nos próximos anos
Nos últimos anos, as universidades do Brasil vêm sendo palco de um fenômeno que é percebido por todo o País. Aos poucos, a presença de idosos nas salas de aulas de Ensino Superior torna-se cada vez mais comum, e alunos com idades acima de 60 anos já faz parte da realidade de muitas instituições de educação.
De acordo com o Censo-2016 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), das mais de 8 milhões de pessoas matriculadas em cursos de graduação, presenciais e a distância, cerca de 24 mil têm idade superior ou igual a 60 anos. Os dados mostram uma inversão na pirâmide social que tende a aumentar conforme a nação brasileira envelhece. Segundo o Ministério da Saúde, a população idosa do Brasil já era a quinta maior do mundo em 2016. Para 2030, a previsão é que essa fatia da população ultrapasse o total de crianças entre zero e 14 anos.
São muitos os desafios para quem entra no mundo acadêmico nessa faixa etária e busca conquistar um diploma. Natural do município de Maratá, a estudante de Direito Maria Sirlei Duarte de Souza, 66, conta que para realizar o sonho de se tornar advogada, tem percorrido uma longa caminha. “Eu comecei a graduação quando ainda tinha 55 anos, mas tive que trancar algumas vezes”, disse Maria, que pretende se formar no próximo ano.
Condições financeiras e problemas de saúde foram alguns dos grandes desafios que a também auxiliar de escola enfrentou durante os anos de faculdade. Além das aulas, ela também trabalha para complementar a renda, já que a aposentadoria não é o suficiente para cobrir as despesas de sua família.
“Pagar os custos da graduação com certeza foi o mais desafiador, e ainda é”, disse a estudante. “Quando eu decidi que iria cursar Direito, fiz um levantamento das melhores universidades aqui da região e escolhi uma que oferecia descontos especiais para pessoas com mais idade. Isso foi fundamental”, completa Maria, destacando a importância de incentivos para que esse público consiga obter a formação superior.
Com o envelhecimento da população brasileira, essa fatia da sociedade será convocada para o mercado de trabalho, uma vez que não haverá reposição suficiente de mão de obra mais jovem. Com isso, as instituições de ensino verão a presença cada vez maior de pessoas idosas procurando qualificação para corresponder às demandas do mercado. Para dona Maria, a graduação é apenas um passo de tantos outros que ela almeja. “Depois que me formar, tenho planos de fazer uma especialização em Direito do Trabalho”, salienta a estudante.
Experiência da vida acadêmica
Entre desafios e superações, dona Maria Sirlei Duarte de Souza coleciona muitas histórias sobre a vida acadêmica. “Não tenho muito o que me queixar, está sendo uma experiência muito boa”, disse Maria. “Fiz muitas amizades e até viajei com a minha turma para Portugal”.
Na reta final da graduação, a estudante revela que gostar de aprender foi o combustível fundamental para realização desse sonho. “Toda vez que descubro um novo assunto, me sinto motivada a seguir em frente”, completa a estudante. “É muito bom sonhar e concretizar aquilo que se deseja”, conclui dona Maria.
Sonho de juventude
Conforme os dias passam, mais se aproxima a realização de um grande sonho para dona Maria Sirlei Duarte de Souza: se forma no curso de Direito. “Eu não me lembro o momento ou situação exata que me levou a querer estudar nessa área, mas quando jovem, eu admirava a profissão, ficava encantada”, revela.
Para chegar na graduação, dona Maria conta que concluiu o 1º e 2º grau através do supletivo, depois, conseguiu passar em duas universidades para o curso. “Não tive condições de estudar quando era jovem, depois casei e dei prioridade para que meus filhos se formassem”, diz, orgulhosa das duas filhas pedagogas e o filho filósofo. “Eles foram minha inspiração, e depois de tanto sonhar, resolvi concretizar esse desejo”.