Semana Municipal do Autismo inicia nesta sexta-feira
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância. Pessoas dentro do espectro, ainda que em intensidades diferentes, costumam apresentar déficit na comunicação e na interação social – dificuldade nas linguagens verbal ou não verbal – e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Um desafio e tanto para o desenvolvimento de quem sofre com o transtorno; e um desafio maior ainda para os pais que, ao lidar com o problema dos filhos, também precisam enfrentar o preconceito de uma sociedade que ainda não o compreende.
“E isso em todos os lugares, tanto na escola, quanto em locais públicos, quanto na família. Às vezes é por uma inocência, de não conhecer como é uma criança autista, e às vezes é um preconceito já bem estruturado”, expõe a montenegrina Júlia Esswein Barreto, mãe do pequeno João Lucas, de cinco anos de idade, que tem o TEA. “Ele ainda não fala. E às vezes a gente está num lugar com ele e ele começa a dar uns gritinhos, ou de feliz ou por algo estar incomodando ele, e as pessoas já nos olham com um jeito de ‘nossa, que criança mal educada’. ‘Essa mãe não manda ela ficar quieta?’”, narra a mãe.
Ela carrega consigo outros casos. Histórias de ocasiões em que levou o filho na pracinha para brincar e viu os outros pais afastando suas crianças com receio do comportamento do menino. De olhares julgadores na rua ou em estabelecimentos comerciais quando o João, cercado de muitos estímulos, acabou tendo um comportamento não considerado “normal”.
E até de quando precisou ter que trocar o menino de escolinha ao descobrir que ele era excluído da turma e deixado em um carrinho de bebê para dormir e não gerar “trabalho extra”. “Às vezes, a gente percebe esse tipo de situação e tenta até dar uma disfarçada para a criança não notar que está sendo alvo daquilo ali; pra ele não sofrer, porque ele não tem culpa. Ele não está fazendo aquilo porque ele quer”, conta Júlia.
Tratamentos auxiliam no desenvolvimento
O autismo não é doença, por isso não se fala em cura do transtorno, mas existem uma série de tratamentos que existem para minimizar seu impacto e auxiliar no desenvolvimento das crianças no espectro. E segundo a terapeuta infantil Camila Kerber Gehlen – especialista na chamada “Terapia ABA”, forma de intervenção que trabalha comportamentos alvo da criança – o mais indicado é iniciar esse processo o mais cedo possível, mesmo ainda sem um diagnóstico fechado.
“O ideal é iniciar com atendimento por um equipe multidisciplinar com vários profissionais para atender essa criança em várias áreas do desenvolvimento. Um fonoaudiólogo, um fisioterapeuta, um terapeuta ocupacional, um preparador físico”, explica. “O ideal é cercar essa criança com essa equipe que vai conversar e fazer um trabalho conjunto e integrado com o mesmo objetivo fim.”
A especialista indica que os pais – em média, a partir de um ano e meio da criança – já podem ficar atentos a alguns sinais do transtorno. “Dos principais fatores é a ausência ou pouco contato visual com adultos, até com o pai e com a mãe. Outra coisa bem pontual é dificuldade de se voltar ao som quando é chamado, quando a criança não atende pelo nome”, exemplifica. Dificuldades no desenvolvimento da fala e busca por isolamento de outras crianças também são sinais de alerta.
“E existem graus do autismo, do leve ao severo”, adiciona Camila. “Crianças com autismo leve têm maior capacidade de alcançar uma criança típica, embora talvez demore um pouco mais. Vai depender da quantidade de terapia que essa criança vai fazer e que vai alavancar e dar qualidade de vida para ela. Já crianças com autismo severo, a gente vai conseguindo desenvolver, mas dentro da capacidade dela.”
Para Júlia, mãe do pequeno João Lucas, que abriu essa matéria, o diagnóstico veio após um alerta da creche onde o menino estava matriculado. No caso dele, o transtorno tem o grau mais severo. Além da dificuldade de fala, hoje, aos cinco anos, ele ainda não come sozinho e tem dificuldades em fazer coisas da rotina e que levem mais de poucos segundos, como a escovação dos dentes. “É uma constante insistência em cima dessas ações que, pra gente, são tão fáceis e automáticas. É preciso muita paciência, de ir entendendo o jeito dele e que ele vai fazer aquilo de um jeito diferente”, relata.
A montenegrina destaca que, para além dos tratamentos, pesquisa muito sobre o tema e tem trocas com outras mães na mesma situação. “O que a gente busca é que ele seja feliz e que consiga fazer as coisas da rotina dele o mais independente possível.”
Carreata solidária no sábado e programação especial durante a semana
É num contexto de luta contra o preconceito e para incentivar o diagnóstico precoce que ocorre neste sábado, dia 3, em Montenegro, uma carreata de visibilidade ao autismo. A iniciativa está sendo organizada por um grupo de pais e interessados no tema que estão, inclusive, em fase de constituição de uma associação montenegrina que está sendo chamada de “Ser Autista”. A carreata sairá às 15h30min do Posto Triângulo, na rua Buarque de Macedo, e o pedido da organização é que os participantes levem balões azuis em seus carros. Passará por toda a cidade, indo até a Grande Timbaúva; e também terá caráter solidário, com arrecadação, antes da saída, de fraldas, leites e alimentos não perecíveis ao Hospital Montenegro.
Para além do evento, inicia nessa sexta – Dia Mundial de Conscientização do Autismo – a primeira edição da Semana Montenegrina do Autismo. Serão cinco dias de conscientização que começam com uma live, às 19h, no Instagram da neuropediatra Sara Kvitko de Moura, que trará profissionais falando sobre o transtorno. Na segunda-feira, dia 5, haverá um debate às 20h30min na programação da TV Mon com o tema “Como uma Criança Autista Aprende Melhor”.
Terça, dia 6, ocorre o 1º Seminário Autismo em Pauta, de forma virtual, a partir das 19h no Facebook da Câmara de Vereadores. Terá o tema “Meu Filho é Autista. E Agora?”, com a presença de especialistas convidadas. Quarta, às 19h, acontece a live “Autismo em Tempo de Pandemia”, transmitida pelo Facebook do Movimento Orgulho Autista. A última atividade será durante a sessão ordinária da Câmara de Vereadores, na quinta, às 17h, com a apresentação de vídeo sobre o transtorno. A Semana Municipal foi criada por iniciativa das vereadoras Ana Paula Machado (PTB) e Camila Oliveira (Republicanos).