Mau cheiro invade a cidade e revolta população

Segundo a Smam, o odor é fruto do uso de adubos orgânicos em áreas rurais próximas ao perímetro urbano

Um cheiro forte, comparado ao odor de esgoto e de esterco, voltou a ser sentido em diversos bairros de Montenegro nos últimos dias. As primeiras reclamações ocorreram em outubro do ano passado e foram registradas pelo Jornal Ibiá. Em janeiro, o problema voltou a ser sentido pela população, que cobra explicações das autoridades.

“É um cheiro forte, parece esgoto. Mas às vezes parece daqueles chiqueiros de porco”, relata Tamires Motta, moradora do loteamento Mão de Pilão, no bairro Santa Rita. Tamires retornou de suas férias nessa quarta-feira e foi pega de surpresa pelo odor. “É horrível, pois tenho um bebê de sete meses e não posso deixar a casa aberta para arejar devido ao mau cheiro vindo da rua”, acrescenta.

No Facebook, os depoimentos das pessoas deixam claro que a situação não é algo pontual, ou seja, o mau cheiro é percebido em variadas regiões de Montenegro. “A cidade fede”, comenta a escritora Karina Luft, moradora do centro. Cada um se vira como pode para tentar suportar o odor. “Tá difícil! Acendendo incenso direto, pra amenizar um pouco”, revela a empresária Daniela Müller.

Os relatos chegam também de moradores dos bairros Timbaúva e Estação. “Aqui no bairro Estação, tem cheiro de chiqueiro de porcos, não dá pra aguentar, é todos os dias”, avalia Mara Vanderlei. Para Ingred Rosa, moradora da rua Dr. Bruno de Andrade, o cheiro é insuportável. A lista de reclamações é grande, assim como a dos locais onde o fedor se apresenta: bairros Germano Henke, São Pedro, São Paulo, Centenário e por aí segue, inclusive em comunidades mais afastadas, como no Passo da Amora. “É na cidade inteira esse cheiro terrível. Precisamos ficar com a casa fechada, porque não dá para aguentar”, desabafa Maria Vargas, moradora do bairro Industrial.

Um cidadão, que não quer ser identificado, conta que desistiu de comprar uma chácara próxima à localidade de Muda Boi devido ao problema do “perfume”. “Soube que uma usina de compostagem está com problemas e solta os gases na atmosfera. Os gases são derivados da decomposição orgânica. Fui comprar uma chácara ali perto e não dava para aguentar o cheiro. Descobri porque os moradores estão vendendo as terras por ali”, revela.

O que dizem os órgãos ambientais…
Em outubro de 2018, o secretário municipal de Meio Ambiente, Adriano Chagas, informou que o cheiro era fruto de um elemento oriundo de compostagem. Conforme o secretário, a explicação do responsável pelo uso do produto foi de que a máquina para fazer a remoção da terra, misturando com o adubo, estragou e, por isso, o composto ficou algumas horas exposto, sofrendo a ação do calor, que liberou gás e o mau cheiro.

Ontem, Chagas apresentou explicação parecida. “Há aplicação de compostos orgânicos, devidamente estabilizados, nas áreas rurais de Montenegro. Esse composto deve ser incorporado no solo imediatamente, e muitas vezes isso não ocorre, devido à necessidade de uma máquina para fazer a mistura”, detalha Adriano. Com isso, segundo ele, a temperatura elevada, desta época, provoca o desprendimento de gases odoríferos, ou seja, o cheiro que é sentido na cidade. “Esse gás fica retido na atmosfera próximo ao solo e pode ser conduzido pelo vento para áreas urbanas”, acrescenta.

Contudo, Adriano afirma que o mau cheiro é o único desconforto que o gás pode causar à população. “Ele não é um gás agressivo à saúde porque já está estabilizado”. O secretário acrescenta que o odor poderá ser sentido novamente, principalmente durante o verão. “Enquanto tivermos temperaturas elevadas e por se tratar do início da plantação de alguns grãos, pode acontecer de novo esse desconforto olfativo”, conclui.

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), por meio da assessoria de comunicação, informou que não recebeu nenhuma denúncia sobre odores registrados em Montenegro. Porém, o proprietário da usina de compostagem Bio C, localizada em Potreiro Grande, Paulo Lenhardt, relata que, na tarde dessa quarta-feira, recebeu a visita de representantes do órgão, e que nenhuma irregularidade foi constatada.

As duas maiores empresas de compostagem da cidade são citadas, mesmo sem a comprovação técnica para tanto, por alguns cidadãos, como as responsáveis pelo mau cheiro.

… e o que dizem os produtores de composto
Paulo Lenhardt, da Bio C, nega que o mau cheiro percebido em Montenegro esteja relacionado com sua atividade empresarial. Paulo garante que atende a todas as exigências ambientais para funcionamento da usina e que a empresa está de portas abertas para quem quiser visitar e averiguar que não é de lá a origem do fedor. “Não digo que não há algum tipo de odor, o que é normal, mas nenhum que saia fora dos limites da empresa e cause mal-estar para a vizinhança. Se tem algum odor na região, não é da Bio C. Isso deve ficar claro”, afirma o proprietário.

Paulo conta que passa por frequentes auditorias da Fepam e também é vistoriado por seus fornecedores. “Está tudo em ordem. Recebo visitas de grupos de agricultores, de universitários e professores e todos questionam como é o processo que utilizo, porque não há cheiro”, conclui.

Contatada pela reportagem, a cooperativa Ecocitrus, que também produz composto orgânico, até o fechamento desta edição, não se manifestou sobre as desconfianças da população. Uma equipe do Jornal Ibiá esteve nas duas unidades no fim da tarde de ontem e, naquele momento, não constatou cheiro forte em nenhum dos dois endereços.

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