Líder dos caminhoneiros garante que a paralisação vai continuar

Mobilização. Categoria deixará as rodovias só depois que acordos valerem

O Jornal Ibiá conversou ontem pela manhã com o caminhoneiro montenegrino João Rosa, um dos líderes da paralisação junto à rótula da BR-470, RSC-287 e ERS-240. Segundo ele, a greve vai continuar até que as medidas negociadas no último domingo, entre o governo e os representantes das categorias, percorram todos os caminhos burocráticos — como aprovação pela Câmara, Senado e publicação no Diário Oficial —, ou seja, sejam implantadas na prática. “Enquanto isso não acontece, segue tudo parado”, garante.

Na entrevista, João reconhece que veículos de pequeno porte, mas com capacidade de carga, são revistados pelos grevistas, para que o movimento não perca força e também para que ninguém se aproveite da situação para elevar os preços dos produtos nem faça transportes clandestinos, como já foi flagrado em Montenegro, no final de semana. Confira a entrevista a seguir:

Como vocês receberam as medidas anunciadas pelo governo? Elas são suficientes para acabar com a greve?
A gente segue orientação do movimento grevista [com base em] em Três Cachoeiras. Enquanto [o pacote de medidas] não se transformar em lei, não vai terminar a paralisação. Enquanto não passar pela Câmara e pelo Senado, as paralisações não vão terminar. Uma de nossas maiores reivindicações é a tabela de frete. Esta tabela seria montada ainda hoje [segunda-feira] para depois a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) regulamentá-la. Aí passa pela Câmara e o Senado, aí sim terminam as paralisações. Enquanto isso não acontece, segue tudo parado. Ninguém vai se desmobilizar.

Vocês estão mesmo parando caminhões com cargas de insumos essenciais, como produtos para hospitais, medicamentos, alimentos para animais, produtos da Corsan para tratamento de água?
Ninguém está trancando nada. Ontem [domingo] mesmo passaram aqui por Montenegro produtos para o Polo Petroquímico e para [a Corsan] tratar a água. Passa caminhão de oxigênio. Caminhões de ração a gente não está trancando; só ontem [domingo] houve um incidente, porque a polícia escoltou um caminhão para colocar mais insumos dentro da JBS, mas não aconteceu aqui, porque esses caminhões foram apedrejados na Serra. Nós também colaboramos com os negócios dos incubatórios dos pintinhos, para que eles pudessem ser retirados. Colaboramos com tudo mundo e não estamos trancando ninguém. Mas tem muito carro que está passando com mercadoria, com carne. Foi pega essa semana, de sexta para sábado, uma caminhonete lotada de carne. Dentro da caminhonete estava um comerciante aqui de Montenegro. Mas aí foi encaminhado à delegacia. Estava transportando carne dentro do bagageiro de uma caminhonete EcoSport. Foi uma abordagem de um grupo de manifestantes. Havia entre 600 a 800 quilos de carne. Também há pessoas tentando coagir a gente, tentando intimidar a gente. Teve até caso de caminhão com escolta armada para tentar passar. Mas não vai passar. Lá na Vendinha, por exemplo, vimos um carro de funerária com botijão de gás dentro. Se nós paramos para reivindicar alguma coisa, todos nós temos que parar. Esse botijão do carro de funerária, ele vai se aproveitar da situação, vendendo um botijão de gás de R$ 60,00 por R$ 100,00. Aí começa a exploração.

A Brigada Militar garante que essa abordagem aos veículos é ilegal, porque os manifestantes não têm esse poder de olhar o que as pessoas estão levando. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Também é ilegal transitar com carne dentro de bagageiros, sem procedência. Vamos manter isso. Caminhonete, Kombi, não vai passar nada. E outra… a gente não pega nada de ninguém. Não pega uma bergamota, se não for doada. A carga parou, está ali [no ponto de concentração dos grevistas]. No caso da carne, a gente chamou a polícia e deu. Tu acha certo consumir uma carne que vem dentro de um rabecão de funerária? Isso é gente que quer explorar o momento. Estamos aqui pacificamente, tratando todo mundo bem. Neste momento, tem um grupo ali do interior dando bergamota para as pessoas.

Vocês recebem doações da comunidade, não é?
O povo de Montenegro está de parabéns, pois tem vindo aqui nos fazer doações. Vem bastante coisa. E aquilo que a gente vê que sobra, a gente repassa como doação. Porque o nosso objetivo aqui é ajudar todo mundo. O povo tem que se mobilizar. O governo ontem deu 46 centavos [de desconto em cima do preço do óleo diesel na bomba], só que hoje já subiu 17 centavos o litro da gasolina. Agora, falando como cidadão, não como representante dos caminhoneiros, quem vai pagar essa conta para nós. Seremos nós mesmos.

E o apoio dos comerciantes, que foram convocados por vocês a aderir ao movimento?
Tem que tomar a iniciativa. Assim como a gente tomou a iniciativa e parou o Brasil. Aqui, se nós quisermos alguma coisa, temos que parar Montenegro. Não adianta o Brasil parar para depois parar Montenegro. Fica o chamamento aos nossos empresários. Fechem. Fiquem de braços cruzados, façam isso pacificamente. Não se sabe se vamos alcançar o resultado que se espera, mas alguma coisa tem que se fazer para melhorar.

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