Produtores de leite do RS têm prejuízo

Duas realidades. Mas redução no preço referência deve derrubar valor ao consumidor

Após a reunião mensal do Conseleite RS, no último dia 27 de setembro, o preço referência do litro do leite caiu 12,04%, em relação ao mês de agosto. Para o mês de setembro ficou projetado valor de R$ 2,2799 pago ao produtor rural, contra R$ 2,5920 do mês anterior. A nova queda preocupa a cadeia leiteira gaúcha ao derrubar a rentabilidade da atividade.

Foto: Site Conseleite RS

Segundo o coordenador do Conseleite e primeiro-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Edevino Zanetti, é inadmissível mais uma queda no preço. Ele argumenta que tanto indústria quanto pecuaristas não suportarão manter a atividade recebendo valor que sequer cobre custos. Ele defende mudanças drásticas no setor no que se refere às importações e no ‘modus operandi’ dos supermercados com os produtos lácteos.

Em nota, na qual alerta para a queda do valor pago aos agricultores, a Fetag observa que são muitos os fatores que levam a cadeia para essa situação. Porém, também destaca as importações da Argentina e do Uruguai. Na observação da entidade, para varejos e indústrias tem sido mais vantajoso importar do que comprar do mercado interno.

Ela insiste que há concorrência desleal criada pela forte taxação sobre o leite brasileiro, o que não ocorre com o importado. Em agosto, o valor de referência aos produtores já havia caído 14,80% em relação ao consolidado do mês de julho. A Universidade de Passo Fundo (UPF) é responsável pela coleta e cálculo dos parâmetros definidores deste preço.

Sem competitividade
Outro fator que deixa os gaúchos em desvantagem é a logística de transporte até a região sudeste do país, principalmente para São Paulo. A estimativa é de que 60% do leite produzido no Estado necessite, obrigatoriamente, fazer este caminho, o que faz com que haja uma perda de competitividade frente a outros estados.

Mercados estão na ponta desta cadeia
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, refuta algumas destas afirmações. “Não há situação de importação. A bacia leiteira gaúcha é autossuficiente e atende muito bem ao mercado”, garante. Ele defende ainda o diálogo entre as entidades representativas, ao invés de apontarem culpados pela alta ou baixa. Longo dá um conselho curioso, colocando o consumidor como definidor do preço. “Para reduzir o preço do leite, basta reduzir o consumo, como aconteceu há dois meses e reduziram os preços”, defende.

Ele explica que os supermercados são a última ponta da cadeia e obedecem às oscilações de preços determinadas pela “irrevogável lei da oferta e da procura”. O presidente da Agas garante ainda benefício ao consumidor; desde que essa queda do preço aos produtores também chegue às indústrias fornecedoras. “O que podemos garantir é que o supermercado é um repassador de preços, não há interesse nenhum em aumentar margens nos alimentos; sobretudo em um item de alto giro, como é o leite”, diz.

Griebeler nem calcula suas perdas com as 53 cabeças de gado. Foto: Arquivo Particular

Pequenos pecuaristas de Montenegro sentem
Pequenos pecuaristas em Montenegro relatam as dificuldades criadas pela queda no lucro e aumento nos custos. “Está ficando muito difícil produzir! Infelizmente vai tirar muitos produtores da atividade”, relatou Gediel Griebeler. Com um rebanho de 53 vacas em lactação e produção média de 1.700 litro/dia, o produtor em Linha Catarina afirma que a simples manutenção do valor referência já teria ajudado.

“O Diesel subiu muito, nem sei a porcentagem. Fertilizantes, na média, subiram 180%”, calcula. Griebeler explica que avaliar o custo médio por animal é uma conta complexa, pois deve considerar desde o nascimento. “Então ela come por dois anos até virar vaca (e dar leite). Olha, o valor é alto!”, observa. Mas, para dar uma ideia, afirma que, hoje, vender uma vaca adulta por menos de R$ 15.000 sequer cobriria este investimento na criação.

A agricultora Raquel Caroline Schu confirma que essas quedas são fator de desistência entre quem produz. “Pois ganhamos em centavos por cada litro de leite vendido”, declara. Com 35 cabeças em Bom Jardim, ela aponta alimentação como o maior custo por animal. Raquel observa que primeiro os insumos dispararam devido à pandemia, e depois veio outra seca para afetar as pastagens. “Numa lavoura colhemos metade do que sempre era colhido”, explica. E quando esperava um alívio para vender com rentabilidade, a nova baixa obrigou a mexer na sobra para cobrir custos.

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