Solidariedade. Agricultores se voluntariaram para livrar a cidade do coronavírus
Os exemplos de solidariedade se multiplicam em Montenegro durante esta pandemia do novo coronavírus. E a noite, quando todos estão em família na segurança do seu lar, agricultores que passaram o dia na lavoura, sob o sol deste insistente Verão sem chuva, estão higienizando as ruas da cidade. Entre cultivar a comida que chega à mesa da população e sair em uma cruzada contra o vírus, a ligação é a saúde de todos.
A solução sanitizante de hipoclorito de sódio é responsabilidade da Secretaria de Saúde, manuseada por equipe dos Serviços Urbanos e aplicada desde 27 de março. Uma ação possível graças ao voluntariado de dezenas de produtores, que colocaram à disposição seus tratores e máquinas de pulverização (atomizador). “A motivação foi de ajudar. Nós também vamos à cidade, também temos parentes na cidade”, explicou Jaime Antônio Kochenborger, presidente da Associação de Produtores Rurais de Campo do Meio e Região (Citruscampo).
Ele não fala em nome de todos, sendo apenas mais um no “exército” que veio socorrer a zona urbana. A avaliação lógica é que, se não houver problema na cidade, não haverá problema no campo, pois a relação social e econômica é inevitável. “Não é porque nós estamos aqui no interior que a gente é imune às doenças que estão na cidade”, enfatizou. Ainda sobre a iniciativa, Kochenborger assinala que o trabalho voluntário é natural aos moradores do meio rural, que doam um pouco de seu tempo em favor de uma entidade ou alguém que precise.
Produtores se ofereceram
A atitude de oferecer trabalho e equipamento, segundo soube Kochenborger, surgiu durante um diálogo onde o prefeito Carlos Eduardo Müller, o Kadu, revelou a ideia de sanitizar as vias públicas. Um agricultor presente teria apontado que o pulverizador é o ideal para a tarefa. Foi assim que a primeira turma, composta por cinco produtores rurais de Santos Reis e suas máquinas, trabalhou até as 2 horas da madrugada do dia 28 de março.
A segunda turma foi formada por associados da Citruscampo, que trouxeram nove tratores, trabalhando até 1h30min do dia seguinte. E assim, consecutivamente, houve um revezamento de voluntários. “A gente foi para colaborar com a Prefeitura da melhor maneira que achamos que poderíamos”, reitera o agricultor.
Kochenborger assinala a experiência de todos na condução adequada dos tratores e na operação eficaz do pulverizador. Os equipamentos possuem inúmeras regulagens e possibilidades de troca de bicos. Nesta missão os operadores definem combinações que permitem uma aplicação uniforme do produto que mata o vírus causador da Covid-19.
Não foi pedido nada em troca
Para somar à união de esforços, os produtores rurais pediram apenas escolta, especialmente no deslocamento pelas rodovias, da Guarda Municipal, e orientação de uma equipe da Prefeitura nas ruas. Foi a Prefeitura que ofereceu o combustível aos tratores. “Alguns inclusive foram para Montenegro com os tratores já abastecidos”, lembra.
Kochenborger diz que gastou em torno de 10 litros de óleo diesel, e tratores que puxaram tanques maiores devem ter gasto algo como 25 litros. Ainda assim, em sua opinião, o voluntariado é mais barato para o Município do que qualquer outra forma de viabilizar a limpeza das vias. A Prefeitura de Montenegro utiliza ainda um trator com pulverizador cedido pela empresa John Deere.
Hora de a cidade entender a realidade do campo
O presidente da Citruscampo faz uma análise mais profunda a respeito da presença dos agricultores e suas máquinas nas ruas. Kochenborger acredita que o morador urbano está conhecendo mais a respeito do trabalho na terra, compreendendo inclusive que nesta rotina não há má intenção. “Vamos mostrar para o pessoal da cidade que, quando a gente pulveriza, não estamos com a intenção de poluir o mundo, de poluir os alimentos. A gente também está combatendo uma doença”, defende.
Ele argumenta que pragas que fazem a plantação convalescer também precisam ser enfrentadas com aplicação de defensivos. O citricultor aproveita então para lembrar que o setor passa por sérios problemas na safra 2020 devido à estiagem, e muitos não colherão quase nada. “Hoje, as pessoas que estão em isolamento e com água, nem sabem deste problema”, lamentou. Pessimista, projeta que a Bergamota Caí, colhida neste mês, terá perda de 80 ou até 100%.