Quis o destino que o Hospital Montenegro (HM) completasse seus 90 anos de história nessa segunda-feira, 22, no que as autoridades estão chamando de um dos pontos mais críticos de toda a pandemia de coronavírus. As medidas de controle acabaram não permitindo a reunião da comunidade; nem a realização de um simbólico parabéns ao ar livre que estava marcado. Mas ainda deixaram que montenegrinos celebrassem a casa de saúde com uma doação à instituição feita em modelo drive thru. Quem pôde, passou por lá e, de carro, doou para ajudar o HM a continuar seus serviços.
“É mais um ato simbólico da comunidade ajudando o hospital”, definiu o diretor executivo da instituição, Carlos Batista. Durante o dia, funcionários fizeram escalas para receber os donativos na entrada da sala onde, por grande parte do ano passado, ficava a Ala Covid do Montenegro. Alimentos não perecíveis e fraldas geriátricas foram os itens mais doados para a casa que, apesar de viver um de seus melhores momentos em termo de finanças, sempre precisou contar com a ajuda da comunidade ao longo dessas nove décadas.
“Eu não consigo imaginar essa região sem o Hospital Montenegro”, destaca Batista, que foi um dos responsáveis pela transformação dele em 100% SUS, mudança sem a qual o HM não teria saído de uma de suas maiores crises no início dos anos 2000. “Nós seguimos preparando ele para os próximos 90 anos. Já vamos estar longe e ele vai continuar aqui atendendo as pessoas.” A casa de saúde é fruto do sonho e do esforço da Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas, que conseguiu reunir recursos e inaugurar o hospital em 1931; e é sua mantenedora até hoje.
Há 46 anos
Não faltam histórias de quem se curou, nasceu, trabalhou no HM. São centenas de milhares de nomes envolvidos nessa trajetória. Um deles é o de Maria Noeli Leindecker Scherer, 66 anos, hoje a funcionária mais antiga da casa de saúde.
“Eu estou aqui desde setembro de 1974”, declara, orgulhosa de estar junto à instituição na marca histórica dos 90 anos.
Ela tinha 20 quando ingressou em busca daquele que seria o 2º emprego da vida. “Era tudo manual, tinha que fazer até um teste de datilografia”, recorda. Passou por recepção, pelo setor de raio x, mas foi no Serviço de Arquivo Médico que se encontrou e está até hoje; fazendo o arquivo de todos os registros do Hospital Montenegro. “E mudou muita coisa”, avalia. Em 46 anos, a funcionária viu grande parte do seu setor se digitalizar e, na instituição, acompanhou a chegada de muitas outras tecnologias e o avanço da própria medicina.
Nesse meio tempo, casou, constituiu família, passou por epidemias sérias, como a de meningite e a do próprio coronavírus. Mas segue se dedicando ao emprego. “Eu acho que o segredo é gostar”, confidencia ela, que já é até aposentada, mas não pensa em deixar o seu HM. “É gostar e trabalhar direitinho!”