Demora e dúvidas à espera do auxílio emergencial

Sem RENDA, mulheres relatam dificuldades enquanto aguardam o recurso em meio a pandmeia

Destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados de famílias em situação de vulnerabilidade, o auxílio emergencial – criado pelo Governo Federal durante o enfrentamento da pandemia da coronavírus (aCOVID-19) – tem gerado muitas dúvidas e uma longa espera entre a população. Sem nenhuma fonte de renda, mulheres relatam as dificuldades que estão enfrentando no dia a dia enquanto aguardam o recurso.

A demora no saque do benefício é tanta, que para lidar com a situação de maneira mais descontraída, muitas pessoas têm recorrido aos memes para ilustrar como estão encarando a espera do benefício. Em um deles, um esqueleto aparece sentado em uma praça com a legenda: “Esperando o meu auxílio emergencial ser aprovado”. Em outro, um homem aparece em frente a um caixa eletrônico com os dizeres: “A espera de um milagre”.

Desempregada há cerca de quatro anos, a montenegrina Silvana machado de Oliveira, 35, conta que encontrou na faxina e vendas de salgados uma forma de sobreviver, mas que por conta da pandemia, passou a fazer parte dos brasileiros que encaram a aprovação do benefício como “acontecimento divino”. “Na quarentena não aparece nada para fazer, então a situação ficou bem difícil. No início, ganhei uma cesta básica do Cras [Centro de Referência de Assistência Social], outra de um amigo e é isso que está me ajudando”, disse a autônoma, que já tem planos sobre o que fazer quando o benefício sair. “Quando eu pegar esse dinheiro a primeira coisa que vou fazer é encher a minha geladeira de coisas porque ela está vazia”, completou.

Serão pagas três parcelas de R$600,00, duas em abril e a última em maio. Nesta segunda-feira, 27, começaram os saques em dinheiro conforme o cronograma da Caixa Econômica Federal, sendo que essa primeira etapa foi destinada aos trabalhadores nascidos entre janeiro e fevereiro que receberam o depósito na conta-poupança sociais digital da Caixa, aberta especificamente para este programa.

Além da Silvana, esse também é o caso da artista visual Mariana Amaral, 34, que apesar de ter tido o benefício aprovado, não conseguiu mais ter acesso ao aplicativo. “Eu pensei que poderia ser por causa do horário, mas já tentei pela manhã, tarde, noite, madrugada e não funciona”, lamenta Mariana, acrescentando que já desinstalou e reinstalou o aplicativo (app) várias vezes, mas sem sucesso. De acordo com as normas, para autorizar o saque liberado a partir desta semana, é preciso que o beneficiário tenha acesso ao app e solicite a retirada, assim, ele receberá um código que será necessário na hora de buscar o dinheiro na Caixa, o que nem sempre é possível e tem trazido alguns problemas e gerado muitas dúvidas.

Quando questionada sobre quais os planos para gastar o dinheiro, Mariana reforça a realidade enfrentada pela maioria dos brasileiros. “Vou usar para pagar as contas e comprar comida”, disparou, a autônoma. Enquanto isso, Silvana teve sua espera compensada e finalmente poderá encher a geladeira como queria, já que na última quarta-feira, 29, conseguiu sacar o benefício.

Um em cada 4 brasileiros não tem acesso à internet
Para sacar o auxílio emergencial do governo, os beneficiários tiveram que recorrer aos aplicativos de celulares, revelando um problema social no acesso à internet. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. Os dados, que se referem aos três últimos meses de 2018, mostram ainda que o percentual de brasileiros com acesso à internet aumentou no país de 2017 para 2018, passando de 69,8% para 74,7%, mas que 25,3% ainda estão sem acesso

Cronograma
De acordo com a data de aniversário para trabalhadores com poupança digital gratuita
27 de abril – nascidos em janeiro e fevereiro, com poupança digital gratuita da Caixa
28 de abril – nascidos em março e abril, com poupança digital gratuita da Caixa
29 de abril – nascidos em maio e junho, com poupança digital gratuita da Caixa
30 de abril – nascidos julho e agosto, com poupança digital gratuita da Caixa
04 de maio – nascidos em setembro e outubro, com poupança digital gratuita da Caixa
05 de maio – nascidos em novembro e dezembro, com poupança digital gratuita da Caixa

Busca pelo pagamento tem gerado longas filas na Caixa

Recebeu auxílio e teve o valor estornado da conta
A espera e as tentativas para obter o auxílio emergencial do governo federal tiveram um desdobramento a mais para Letícia Wilhelm, moradora de Brochier. Ela entrou em contato com a reportagem para relatar que seu namorado – pedreiro, microempreendedor – recebeu o benefício em 17 de abril e, de imediato, utilizou parte do dinheiro, através de transferência. Só que dias depois, o governo simplesmente retirou os R$ 600,00 de sua conta. Como o valor já tinha sido gasto, a conta ficou no negativo.

“Eu sou professora e, com as aulas online, usamos R$ 300,00 do auxílio para concertar o computador que queimou”, conta Letícia. Começava uma saga para localizar onde tinha ido parar o dinheiro; que só foi concluída nesta quinta-feira, 30 de abril.

Fato é que não aconteceu só com eles. A reportagem foi atrás do Ministério da Cidadania, que confirmou que houve casos em todo o país de brasileiros que receberam o pagamento do auxílio e, logo depois, tiveram o valor estornado de suas contas. Não chegaram a serem divulgados os motivos exatos para tais ocorrência, que são tratadas como pontuais.

“Desde o início do processo, estão sendo tomados todos os cuidados para que o dinheiro chegue o mais rápido possível aos elegíveis de acordo com a lei. Os créditos que por algum motivo foram pontualmente estornados serão analisados e fazem parte da rotina de cuidados que temos ao avaliar a compatibilidade dos dados cadastrais do recebedor, ao perfil público do auxílio, ou seja, os que mais precisam”, colocou nota oficial da pasta.
Sem saber dos demais casos, a moradora de Brochier buscou primeiro o Sicredi, para onde havia transferido o dinheiro, e foi instruída a procurar a Caixa. Ela tentou contato através do canal de atendimento telefônico do 111, onde apenas ouviu que tinha sido contemplada pelo auxílio, sem mais explicações. O SAC da instituição financeira lhe passou um 0800, mas Letícia conta que o número não funcionou. O sistema do emergencial apenas dizia que ela já tinha sido contemplada pelo benefício.

Com juros sendo cobrados pela conta no negativo, foram dias de apreensão e correria até que, nesta terça-feira, 28, o sistema atualizou a mensagem para apontar que o auxílio do namorado ainda estaria em análise. O pagamento foi realizado pela segunda vez nesta quinta-feira. “Vou sacar dessa vez, ao invés de fazer a transferência”, relatou a moça. Ao Ibiá, o Ministério da Cidadania reforçou que esse tipo de situação deve ser tratada através do telefone 111, canal de atendimento do auxílio. A Caixa Econômica Federal, que gerencia os pagamentos, também foi contatada pela reportagem, mas não comentou o caso.

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