Estudo do SPC e CNDL mostra que 46% dos usuários do serviço no último ano recorreram ao limite todos os meses
A falta de uma boa gestão financeira pessoal tem refletido seriamente no bolso dos brasileiros. Segundo uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todo o país, 17% dos consumidores recorreram ao cheque especial nos últimos 12 meses, principalmente os das classes A e B (29%). Desse total, quase a metade (46%) possui o hábito de utilizar o recurso todos os meses e 20% a cada dois ou três meses. Por outro lado, 80% afirmam não ter usado o limite neste período.
Além dos números preocupantes, o levantamento ainda mostra que maioria desses usuários não buscou outra alternativa de crédito antes de entrar no limite do banco, onde 63% desconhecem as taxas e os juros cobrados pelo uso do limite, principalmente as classes C, D e E (72%). Em contrapartida, 48% disse ter avaliado os custos cobrados na hora de usar. O serviço foi destinado, principalmente, para cobrir imprevistos com saúde e pagar dívidas. O professor de economia da Ulbra Marcel Jaroski Barbosa, atribui os altos percentuais a falta de conhecimento da população sobre finanças pessoais.
“Grande parte das pessoas começam a trabalhar ainda jovens e buscam por formação para se inserirem no mercado de trabalho, porém, não se interessam em aprender a administrar seus próprios recursos. Com isso, elas contraem dívidas por fazerem escolhas erradas e acumulam juros absolutamente impagáveis, como é o caso do cheque especial”, explica o professor.
Conforme a pesquisa, o cheque especial foi usado para cobrir imprevistos com doenças e medicamentos (34%), quitar dívidas em atraso (23%) e realizar manutenção de automóveis ou motos (18%). Outros 17%, entraram com o recurso por descontrole no pagamento das contas. Boa parte dessa realidade é resultado da falta de burocracia na contração do serviço, uma prova disso é que quase a metade dos entrevistados (45%) reconhece não ter analisado as tarifas e os juros ao utilizar o cheque especial, seja por que não pensou nisso na hora (20%) ou porque precisava muito do recurso e acabou contratando independentemente dos custos (19%).
O professor comenta que a crise econômica também refletiu e influenciou no comportamento dos consumidores. “A pessoa passa por algum aperto financeiro e já procura os empréstimos”, disse Marcel. A inadimplência dos que recorrem ao limite do cheque especial e não conseguem cobri-lo levou um terço dos entrevistados (30%) a ter seu nome sujo. Dentre esses, 15% já regularizaram a situação e 14% permanecem negativados.
A pesquisa ainda mostra que antes de entrar no limite do banco, mais de um terço dos usuários de cheque especial (36%) até tentou outras alternativas de crédito, mas não conseguiu. Já 53% sequer cogitaram essa possibilidade.
Falta educação financeira
Os dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelam a grande dificuldade que os consumidores brasileiros enfrentam no dia a dia quando o assunto é educação financeira. Para Marcel Jarosk Barbosa, falta incentivo dentro das próprias escolas para orientar os jovens antes de ingressarem no mercado de trabalho.
“Seria importante se houvesse na matriz curricular do ensino médio algumas horas destinadas a ensiná-los como administrar seus próprios recursos financeiros. Isso iria contribuir para a população como um todo que, consequentemente não se endividaria tanto”, salienta Barbosa.
Metodologia
Foram entrevistados 910 consumidores no mês de março, nas 27 capitais brasileiras, acima de 18 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para uma confiança de 95%.
Novas regras do cheque especial
Em 1º de julho, uma série de mudanças nas regras do cheque especial entrou em vigor. As medidas têm por objetivo melhorar esse quadro, onde as instituições financeiras passarão a entrar em contato com os clientes que usarem mais de 15% do limite da conta por 30 dias consecutivos. Pela regra, os bancos deverão oferecer como alternativa um financiamento pessoal mais barato, com possibilidade de parcelamento.
Embora o intuito das novas regras seja evitar que os consumidores entrem no efeito bola de neve, o economista Marcel Jaroski Barbosa acredita que são necessárias mudanças mais profundas. “O banco fará esses avisos por imposição legal, mas o que realmente vai resolver o problema dessas pessoas é uma reorganização financeira”, frisa o economista.
Organização financeira, por onde começar?
Olhando para o atual cenário econômico do país e os altos índices de inadimplência dos brasileiros, parece ser impossível coseguir se organizar financeiramente. Mas de acordo com o economista Marcel Jaroski Barbosa, seguindo determinados passos o caminho se torna menos complicado, e o primeiro é se perguntar “quanto eu me custo?”.
“Isso significa responder quanto eu gasto com comida, vestuário, moradia, transporte, entre outros. Depois disso, é necessário planilhar todos os gastos, ou seja, cada real que ganho e gasto, buscando saber o destino dele”, orienta o economista. “A partir disso, é possível adequar o que eu ganho com aquilo que gasto, assim, começo a estabelecer metas de economia para atender determinados objetivos”.
Nos casos daqueles que já se encontram endividados, o economista explica que estes devem procurar suas respectivas intuições financeiras para uma renegociação. “Nessa situação, as pessoas podem tentar equalizar a dívida e passar a pagá-la mensalmente”, salienta Jaroski. “Paralelamente a esse processo, é preciso uma reorganização financeira sempre”.