Falta de saneamento básico é um das principais queixas da população que teme pela saúde do grupo e da comunidade
A concentração de aproximadamente sete barracas em uma parte da área verde na rua Dr. Celso Müller, no bairro Cinco de Maio, tem chamado a atenção de quem passa pelo local. As tendas, que pertencem a um pequeno grupo de povos ciganos, preocupam a população devido à falta de saneamento básico, o que, segundo os moradores, pode impactar na saúde e facilitar possíveis transmissões de doenças, como o novo coronavírus (a Covid-19).
A permanência do grupo, com cerca de 12 integrantes, levantou alguns questionamentos por parte da comunidade local. “Aqui em casa estamos seguindo todas as orientações de higiene, mas me pergunto como eles poderão fazer isso se não têm acesso à água?”, questionou a aposentada Lenir Terezinha da Rosa, que reside próximo ao acampamento. “Não sabemos de onde o grupo veio, se estão tendo assistência e se as pessoas estão se cuidando contra esse novo vírus. Infelizmente é uma situação muito difícil, tanto com a nossa saúde quanto com a deles”, salienta a moradora.
Segundo dona Lenir, em toda extensão da rua o número de idosos é significativo, o que torna a situação ainda mais delicada, já que essa população faz parte do grupo de risco da Covid-19. “Não sei se é certo ou errado, mas se eles não estão tendo acompanhamento e não estão seguindo as orientações de quarentena, todo o trabalho de prevenção não adianta em nada”, lamentou a aposentada, sem ter muitas informações sobre os novos vizinhos.
Bastante hospitaleiro, o grupo recebeu a reportagem do Jornal Ibiá e ficou surpreso com a repercussão negativa da instalação do acampamento. “Nós somos nômades e não ter um lugar fixo faz parte da nossa cultura”, disse um dos integrantes do grupo, que preferiu não se identificar. “Sabemos os cuidados que devemos ter contra o coronavírus e, por isso, estamos em quarentena buscando forma de sobreviver porque ficamos sem renda”, completou.
Para tomar banho, usar o sanitário e ter acesso à água potável, o grupo se desloca até um posto de combustível próximo do local. É o que conta dona Maria Galvão, integrante do grupo. “Não fazemos nada aqui, temos o banheiro do posto para isso, além do mais, juntamos o nosso lixo e o caminhão passa e pega, como todo mundo faz em suas casas”, destacou a cigana.
Conforme dona Maria, a venda de roupas de cama é uma das principais fontes de renda do grupo, mas por conta das restrições para barrar a disseminação da Covid-19, estão todos parados contando com a ajuda de diferentes pessoas. “Estamos nos cuidando como podemos, sempre usando álcool em gel nas mãos e não estamos circulando nas ruas para evitar a contaminação dessa doença, mas como estamos proibidos de trabalhar, falta alimentos e a única alternativa é contar as doações da comunidade”, detalhou dona Maria. “Sempre tem alguém que ajuda. Aqui na rua, por exemplo, tem uma pessoa que nos fornece água, e isso é muito importante”, salientou.
Estatuto do Cigano prevê garantias sociais
Há quase três anos, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou o Estatuto do Cigano (PLS 248/2015). O documento determina ser dever do Estado e da sociedade garantir à população cigana a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Além disso, a proposição garante oportunidades nos diversos setores da vida social aos povos ciganos, no acesso a saúde, terra e trabalho, e nas políticas de promoção da igualdade social.
O que diz a Prefeitura
Questionada sobre as reclamações dos moradores e a falta de assistência ao grupo ciganos no bairro Cinco de Maio, a Prefeitura de Montenegro não se manifestou até o fechamento desta edição.