Cães nas ruas. Medidas de controle de natalidade e conscientização da população são extremamente necessárias
Não é de hoje que quem passa pelas ruas de Montenegro se depara com um problema sério: os cães de rua. Pouco importa o bairro, eles estão sempre lá e são vários. Uns avançando em carros e em pessoas, a maioria passando fome ou frio, uns doentes ou com pulgas. O problema é de saúde pública, de meio ambiente, de postura, de educação e, na Prefeitura, perpassa diversas secretárias que tentam lidar com a questão. A população também se envolve, principalmente por meio das ONG’s voluntárias que atuam, com o recurso que conseguem adquirir, em ações paliativas numa situação que parece não ter solução.
“Eu vim pra Montenegro há mais de 30 anos e não tinha tanto cão de rua como tem hoje. Cada vez tem mais. É desanimador”, desabafa a presidente da Associação Montenegrina dos Guardiões dos Animais (Amoga), Maria Luiza Rodrigues Kimura. Ela afirma que tem batalhado para conseguir recursos que viabilizem soluções para o problema dos animais. Maria cita o encaminhamento para adoção, o tratamento de doenças e a castração como as principais ações que a organização tenta promover neste sentido. “A gente vem ‘apagando o fogo’ com o dinheiro que arrecadamos em nossos eventos, já que renda mensal nós não temos. Seguido estamos na Prefeitura, no Ministério Público ou na Câmara tentando buscar essa ajuda.”
A médica veterinária do município, Ana Paula Araújo, reconhece a importância destes projetos. “As ONG’s ajudam muito nessa questão com os trabalhos que realizam, ainda mais com o pouco recurso que têm”, relata. “A situação dos cães é bem complexa, pois envolve a saúde pública e também o cuidado dos animais. Eu sou a única veterinária do município e eu atuo na Secretária de Saúde. Não se tem nenhum veterinário específico no Meio Ambiente, então é complicado.” No âmbito da saúde, ela aponta que a grande quantidade de cães pode ser agravante na transmissão de doenças, como a leishmaniose, por exemplo, que, ainda que não tenha sido registrada em Montenegro, encontra nos cães de rua o ambiente ideal para se proliferar.
Não há, no município, nenhum lugar específico de acolhimento ou onde possa ser feito um tratamento para os animais, seja de castração ou de uma eventual doença. Ana Paula explica que a viabilização de um local como este necessitaria de um plano arquitetônico aprovado pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) e também um número mínimo de funcionários no atendimento. Foi sinalizado pela Prefeitura, em reunião ocorrida em junho, que estava sendo buscado um terreno para a construção de uma casa de passagem para os cães, possivelmente próxima da Unisc, onde esse tipo de acolhimento seria oferecido. Não há, no entanto, nenhuma novidade sobre o andamento desta procura ou a viabilidade da construção.
Projeto para castrações está em análise
Atualmente está em análise um projeto municipal que prevê a parceria com clínicas veterinárias privadas para que sejam feitas castrações nos animais de rua. Se viabilizado, 1 mil procedimentos são previstos. “A gente sabe que as mil castrações prometidas ainda são poucas, mas é um começo diante de um trabalho tão necessário”, comenta a veterinária do município, Ana Paula. Está sendo analisado o orçamento, a partir de uma verificação média dos valores no mercado, para que, posteriormente, seja aberta licitação e sigam os demais trâmites legais. “Isso leva um tempo, porque existe um protocolo a se seguir, mas o projeto está andando”, afirma.
Falta responsabilidade e respeito às leis
A presidente da Amoga indica que, na sua percepção, a população está cada vez mais deseducada e irresponsável. “O próprio centro, onde a gente tinha conseguido dar uma controlada na população de cães, agora já está cheio de bicho”, aponta. Ela afirma que são os próprios habitantes que geram o problema ao abandonar os animais na rua. O fato se alia a um ineficaz controle de natalidade, e a quantidade de cães cresce exponencialmente.
A Vigilância Sanitária, pensando na conscientização, realizou no ano passado uma iniciativa de palestras nas escolas. O projeto, no entanto, foi descontinuado pelo aumento na demanda do serviço do órgão. “Eram encontros bem didáticos, que mostravam para os pequenos que ter o animalzinho dá trabalho, que ele cresce, e que não é descartável. A gente frisava, então, os cuidados, as doenças e, principalmente, as responsabilidades.
Verificamos essa importância porque, em grande parte, o aluno que leva o conhecimento para a família”, conta Ana Paula, que orientava o projeto.
A lei municipal 4.293, de 2005, coloca como crime os maus-tratos e o abandono de animais. A ineficácia desta lei, fator claro pela quantidade de animais de rua, se dá pela cultura de parte da população, que não denuncia estas ocorrências. “Dessa lei, para se chegar a algum resultado, é preciso saber quem abandonou. Mas as pessoas não querem se envolver, daí não fazem o registro”, relata Maria Luiza. “Na minha opinião, se quer defender, se é protetor dos animais, tem que agir contra.”
Essas denúncias devem ser feitas oficialmente na Secretaria do Meio Ambiente. O agente fiscal do órgão Gustavo Stürmer Hanauer aponta que eles precisam de informações mínimas para a averiguação dos casos. “Precisamos ter o número de placa de algum veículo que abandonou, por exemplo”, explica. Ele relata que, nas épocas de enchentes, o trabalho da secretaria com os cães aumenta, pois eles acabam soltos e não retornam às suas casas.
Além do abandono, quando o cão de rua tem dono, mas traz problemas para a população, a reclamação sobre o animal deve ser feita para a Diretoria de Fiscalização e Posturas, da Secretaria Municipal de Obras Públicas. São casos em que um morador tem um animal e o deixa solto, por exemplo, ameaçando moradores. É feito então o registro e algum fiscal age para solucionar o problema.
Animais de rua também precisam de apoio
Aos cães que já estão na rua, nos resta, como cidadãos e humanos, cuidá-los. Como aponta a presidente da Amoga, se vive com o problema e, com um bom projeto de conscientização para parar com os abandonos e um eficaz programa de natalidade, se chega a solução com o passar do tempo. “Ações como canil e carrocinha não! Isso é ultrapassado em termos de proteção aos animais”, afirma Maria Luiza.
Na cidade, há bons exemplos destes cuidados, com casas e lojas que oferecem água, comida e espaços onde os cães de rua possam dormir. Um exemplo disso é a iniciativa do empresário Michael Wentz que, todos os dias, coloca em frente ao seu estabelecimento água e ração para os animais. “É baratinho comprar uma ração e não custa nada largar um potinho com água. Os coitados dos bichos ficam passando fome e sede”, conta.
Sua estimativa é de que, no mínimo, quinze cachorros por dia aproveitam o alimento disponibilizado. “É uma forma de ajudar, né!?”