É inevitável, ao ter oportunidade de escrever para o Ibiá, pautar a catástrofe que acometeu o Estado nestes últimos dias. Como professor da rede estadual, estive afastado da sala de aula e presente nos mutirões de limpeza, organização e reconstrução de nossa cidade, desolador. Um cenário de pós-guerra nas ruas de nossa Montenegro e essas imagens estão por diversos municípios do Estado. Vivenciamos a maior catástrofe ambiental da história do Rio Grande e precisamos falar sobre isso.As intensas chuvas dos últimos dias levaram vidas que importam, levaram pertences pessoais, objetos, casas, memórias. A água desceu e com ela foram histórias e sonhos. O próximo período indica crise na saúde pública e também na economia, torna-se fundamental a ação da gestão pública.
Há pelo menos 10 anos, um amplo estudo encomendado pelo Governo Dilma já apontava chuvas acentuadas no Sul do Brasil em decorrência das mudanças climáticas. Também chamava atenção para a necessidade de sistemas de alerta e de planos de contingência. O projeto “Brasil 2040” apresenta resultados dramáticos para o sul do País e acabou engavetado pelo negacionismo climático que tomou posse do Governo Federal após o golpe de 2016 e foi ignorado por Eduardo Leite. O governador (PSDB) realizou alterações em pelo menos 500 normas do Código Ambiental do Estado durante seu primeiro ano de mandato, em 2019. As mudanças, sancionadas em 2020, resultaram na flexibilização de políticas ambientais, o que, segundo especialistas, teve impacto na extensão dos danos provocados pelas chuvas. Aqui em Montenegro, percebemos uma gestão muito semelhante ao negacionismo que assombra o cenário, temos uma gestão municipal que desmantelou as instâncias participativas como o COMDEMA, e quer aprovar um plano diretor que não contempla o momento que vivemos. Além disso, a precarização de órgãos importantes como a Defesa Civil, fazem a cidade se mobilizar em doações de pix e voluntariado, é fato que se não fosse à solidariedade e a mobilização dacomunidade, ainda estaríamos no barro.
Vale ressaltar que o governo federal sinaliza possibilidades para os gestores: um amplo acordo congelou a dívida do Rio Grande do Sul com a União, com a isenção dos juros por 36 meses,mais um pacote de medidas que aporta R$ 23bi, para o estado, num esforço conjunto para auxiliar o RS a se reerguer após a devastação causada pelas fortes chuvas. E ainda, já está sendo pago o auxílio de R$ 5,100,00 no Programa Volta Por Cima direto para os atingidos pelas águas. Outra medida, é o repasse de cota adicional do FPM- Fundo de Participação dos Munícipios de 4,75 milhões para Montenegro.
É necessário avaliar o cenário político, a atuação de nossos gestores, aprender com o caos e garantir que nas próximas eleições possamos eleger candidatos comprometidos com projetos que amenizam os impactos da crise climática.