Protagonistas, eles provaram que não há idade para começar

Silvério Nabinger e Isaac Lima são inspirações para muitos esportistas

Eles são protagonistas em suas modalidades e inspirações para muitos atletas. Porém, o início de ambos no esporte foi repleto de desafios e obstáculos. Todos superados. Hoje, Silvério Nabinger e Isaac Lima são referências no Rio Grande do Sul quando o assunto é corrida de rua (no caso de Silvério) e jiu-jítsu (modalidade praticada por Isaac).

Os dois esportistas provaram que não há idade para começar no esporte e obter resultados expressivos. Silvério começou a correr quando tinha 55 anos de idade. Isaac realizou seus primeiros treinos de jiu-jítsu aos 53 anos. O ano de 2024 foi emblemático para a dupla. Em abril, o maratonista participou da 128ª edição da Maratona de Boston, a mais tradicional corrida de longa distância do mundo.

Entre os inúmeros adversários que o lutador enfrentou neste ano, o mais difícil foi a histórica enchente de maio, que atingiu sua residência pela primeira vez. Nos tatames, Isaac não deu chances para seus oponentes, dominou o ranking estadual e conquistou o tetracampeonato mundial em sua categoria no mês de novembro.

Saúde como prioridade

Silvério disputou sua primeira corrida em 2013. De lá para cá, milhares de quilômetros foram percorridos e diversas provas foram vencidas pelo experiente maratonista. O início, porém, não foi nada fácil. “Comecei a praticar esporte como consequência de um problema de saúde. Sou celíaco, tenho rejeição ao glúten, e tive um problema sério que quase me levou à morte. Na época, quando me pesei, lembro de ter olhado na balança e estava com 42 kg. Foi uma crise muito grave, de oito meses, que eu me desidratei muito”, relembra.

Após a crise, Silvério começou a fazer atividades na academia do Sesc. Depois de um ano, foi convencido pelos instrutores Lázaro e Débora a fazer sua primeira corrida. “A corrida noturna do Sesc foi minha primeira prova, no final de 2013. Na semana seguinte, o Lázaro me perguntou se eu não queria investir na corrida, porque eu tinha ido bem. Ele me deu uns exercícios de fortalecimento, específicos, eu treinava sozinho. Não tinha objetivo nenhum, a não ser melhorar a saúde”, acrescenta.

Nos anos seguintes, Silvério disputou outras provas na região. Distâncias curtas, mas nunca de 3 km. “Comecei no percurso de 5 quilômetros já, nunca fiz uma prova de três quilômetros. Em 2016, com a chegada da Patrícia (Atkinson) ao Sesc, ela montou um grupo de corrida. E ali foi o início de tudo. Naquele ano, corri minha primeira prova de 10 km, em São Leopoldo”, declara.

A cada ano que passava, o atleta ia “dobrando” a meta. Em 2017, disputou sua primeira meia-maratona em Porto Alegre. Em 2018, cinco anos depois de começar a correr, Silvério disputou sua primeira maratona, também na Capital gaúcha. “Fazia toda preparação física, atlética, e também cuidava da alimentação, tudo direitinho. Não tive mais nenhum problema, graças a Deus”, enaltece.

A primeira maratona disputada foi uma virada de chave para o atleta montenegrino. “A partir disso, me tornei maratonista e ultramaratonista. Já fiz três provas de 82 quilômetros, a TTT (Travessia Torres-Tramandaí). Gosto das provas longas, mas elas exigem uma preparação muito grande. Tem que ter muito foco, muita resiliência e persistência. Nunca fiz uma prova dessas simplesmente por participar. Sempre quis ir 100%”, ressalta.

Atleta montenegrino disputou a tradicional Maratona de Boston em abril deste ano

Persistência e recompensa

O maratonista frisa que a maior dificuldade quando começou a correr, aos 55 anos de idade, era manter o foco e ser persistente. “Tu sujeita o teu corpo a uma preparação física maior. A própria alimentação fez com que eu me cuidasse mais. A doença fez com que eu tivesse que eliminar muitas coisas, que na realidade não fazem muito bem para a saúde. A principal delas é a farinha”, salienta.

“A celíaca são quatro fontes: farinha de trigo, centeio, cevada e aveia. Mesmo em pequena quantidade. Se eu comer uma bolacha, por exemplo, passo três dias mal. Então, isso fez com que eu tivesse que me cuidar mais. Não tomo mais refrigerante, cerveja, não posso tomar. Nos períodos em que tenho três, quatro dias mais tranquilo, me dou ao luxo de tomar um copo de vinho. Isso eu gosto”, explica.

Em relação às conquistas que o esporte lhe proporcionou, Silvério destaca duas em especial. “A minha maior conquista foi a saúde, com certeza. Em termos de competição, tem muitas provas que foram importantes, e a maior dela foi em Boston, neste ano. Foi um prêmio participar. Para todo maratonista, correr uma prova internacional é um prêmio”, exalta.

Após realizar o sonho de disputar a Maratona de Boston, aos 67 anos, Nabinger mira agora novos objetivos. “A Maratona de Berlim (na Alemanha) tem mais de 50 mil inscritos, mas 17 mil vagas. É uma prova que almejo fazer, assim como a Maratona de Londres”, projeta.

“Digo para todas as pessoas que nunca é tarde e não tem idade para começar a praticar esportes. Eu acabei entrando para esse mundo da corrida, principalmente, através de um problema de saúde. Mas as pessoas não precisam esperar por isso, as pessoas podem usar o esporte justamente para melhorar a sua saúde, prevenir problemas. Sempre é hora de começar”, completa Silvério.

Maratonista participou de sua primeira corrida em 2013, e desde então conquistou inúmeras provas

Isaac se encontrou no jiu-jítsu e domina sua categoria

Tetracampeão mundial de jiu-jítsu neste ano, o montenegrino Isaac Lima começou a praticar a modalidade em 2018, quando seu professor, Luciano Pinto, o venceu no “cansaço”. Apaixonado por esportes, Isaac já jogou futebol, já foi piloto de MotoCross e estava fazendo aulas de boxe há um mês antes de migrar para o jiu-jítsu.

“Lembro que fiz um mês de boxe, mas não gostei. Queria fazer uma arte marcial, pois sempre tive uma autoestima muito baixa, andava de cabeça baixa, envergonhado. Conhecia o Luciano, ele ia seguido no lugar onde eu trabalhava e sempre me convidava para fazer jiu-jítsu. Passaram muitos anos, até que um dia resolvi ir. Fui, e nunca mais parei”, recorda.

Depois de um período treinando, Isaac foi convencido por seu professor a competir pela primeira vez, na faixa branca. A primeira experiência, no entanto, não foi das melhores. A derrota fez o atleta cogitar não lutar mais. “Disse pro Luciano que não queria mais competir. Mas ele insistiu para eu lutar novamente. Aí surgiu o Mundial em São Paulo, em 2021, eu já era faixa azul. Me inscrevi e fomos. Na minha categoria, tinha vários caras, fui passando um por um e ganhei”, declara.

Insistência do professor Luciano Pinto deu certo: hoje Isaac é um dos expoentes de sua categoria no Brasil

“Fui ganhando confiança, e o professor falou que ia me inscrever no absoluto. Eu disse: ‘não, cara, não faz isso… No Absoluto os caras são muito fortes’. Ele disse que eu tava bem e me inscreveu. Eram quatro lutas. Ganhei as três primeiras e fui para a final. O adversário que enfrentei na final tinha 118 kg. Botei no chão e ganhei. Deu tudo certo. No outro ano já levei a família junto e também deu tudo certo”, complementa Isaac.

Imbatível em sua categoria, o lutador montenegrino foi campeão mundial nas quatro últimas edições da competição. Além disso, também subiu no topo do pódio duas vezes no Absoluto nesse período. Neste ano, Isaac também se sagrou Top Ranking Estadual. O próximo objetivo é a conquista do cinturão, que escapou de suas mãos em duas oportunidades.

Das dificuldades à superação

Desde que iniciou no jiu-jítsu, Isaac enfrenta, praticamente todos os anos, um grande adversário. “O financeiro, ele é terrível. Tem vários campeonatos na Argentina e no Uruguai, mas não consigo ir, porque demanda um grande investimento. No Mundial deste ano eu decidi ir porque um patrocinador particular me ajudou”.

Apoio da família é fundamental para o sucesso do lutador nos tatames

Recentemente, na graduação da academia, o lutador de 59 anos trocou de faixa e agora é faixa marrom. Em 2025, os desafios serão maiores, mas Isaac garante estar preparado. “O nosso professor não dá grau a troco de nada, ele é muito rígido. Tem que fazer por merecer. O esporte me deu mais confiança, deu uma energia positiva”, diz.

Espelho para muitos alunos de sua equipe, Isaac destaca as amizades feitas na academia desde 2018. “A minha maior conquista são as amizades que faço. É uma família”, afirma.

“Tem uma coisa que me marcou muito, até me emociono. Quando a enchente nos atingiu aqui, estávamos limpando, mas não conseguíamos dar conta. Tirava a água para um lado, a água ia para o outro. Aí eu disse para a Tati: vou chamar o pessoal do jiu. Mandei a mensagem no grupo… Aí tu vê que tem amigos. Os caras vieram, as esposas que a gente nem conhecia ainda também vieram… Isso me emocionou muito”, enfatiza.

Após um ano de desafios e conquistas, Isaac exalta a importância do esporte para o corpo e para a mente. “O jiu-jítsu consegue trabalhar tudo, e tu se obriga a se dedicar, a se cuidar. Sempre digo: faça uma aula. É importante as pessoas praticarem esporte, qualquer modalidade, porque esporte é vida, é saúde”, conclui.

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