A Montenegrina Marina Reidel conduziu o evento de respeito à diversidade
Marina Reidel esteve em Montenegro na tarde de ontem, 17, ministrando um workshop com o tema “Fortalecendo a cultura de Direitos Humanos e o respeito à diversidade”. Marina é montenegrina e é a primeira transexual a conquistar um mestrado no Rio Grande do Sul. Ex-professora, ela ficou conhecida por ter assumido a transexualidade e ter contado sua história em rede nacional, durante um quadro de depoimentos da novela das 21h da Rede Globo, “Viver a Vida”, em 2010.
Hoje, ela mora em Brasília e atua como Diretora de Promoção de Direitos LGBT no Ministério dos Direitos Humanos. Por seu destaque na defesa da causa, ela foi convidada para o evento, que ocorreu no Teatro Therezinha Petry Cardona, em uma promoção das Secretarias Municipais de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania; de Educação e Cultura; e da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Câmara de Vereadores. O workshop recebeu cerca de 70 pessoas.
Aos presentes, Marina falou do preconceito, dos retrocessos e de algumas conquistas de gays, lésbicas, bisexuais, transexuais e travestis. “Eu tenho toda a minha história de vida aqui em Montenegro e é importante pensar que estes espaços ainda estão abertos ao diálogo. A sociedade precisa se tratar do preconceito e é preciso pensar em como lidar com esta questão”, afirmou. Trazendo dados do Disque Direitos Humanos, ela apontou que, no ano passado, 1720 pessoas LGBT sofreram algum tipo de violência. Destas 435 foram assassinadas.
“Então como construir uma política de direito humano, para conseguir ações afirmativas?”, refletiu. Durante o workshop, ela problematizou alguns pontos que, especialmente aos travestis e transexuais, seguem sendo muito delicados. Desde o acesso aos serviços de saúde; ao sistema carcerário; ao ciclo vicioso de uma família que expulsa, de um mercado que não contrata e de um indivíduo que acaba na rua; até a simples decisão de qual banheiro usar. Muitos são os abusos diários e há muito a se fazer. “É um trabalho de formiguinha que a gente tenta ir construindo aos poucos”, colocou.
Confira a entrevista que Marina concedeu ao Jornal Ibiá
JI: Hoje, você largou a profissão de professora para se dedicar ao trabalho no Ministério dos Direitos Humanos. Conte-nos um pouco sobre o que você faz.
Marina Reidel: Nosso trabalho é de articular as políticas, de modo transversal. A gente faz esse trabalho com organismos nacionais, com os próprios ministérios, com organismos internacionais, com os estados, etc. É um trabalho bem de articulação e da manutenção da pauta LGBT. Você precisa sempre estar trazendo essa pauta para a realidade local e social.
JI:Neste ano, as pessoas trans já podem solicitar ter seu nome social (no sexo em que se identificam) e o seu gênero alterados em seus documentos. Estamos avançando nesta aceitação?
MR: Falta muita coisa. A gente tem avançado em alguns espaços. Tem retrocedido em outros. Mas eu acho que, na medida do possível, em um cenário tão difícil como o que a gente está vivendo, a gente tem conseguido manter, fazer campanhas, construído uma política de estado e não de governo, para deixar alguns registros destes direitos.
JI: Há anos, você já não mora em Montenegro. Sua saída teve alguma relação com a aceitação ou com a falta dela aqui na cidade?
MR: Na verdade, foi o momento. A decisão de sair e de avançar, indo para novos caminhos. Eu sempre digo: você vivendo em uma cidade de interior por muito tempo, você consegue romper com essas questões do preconceito. E, também, você pode ir para um espaço maior, mas também vai encontrar dificuldades. Menos, talvez, que em uma cidade do interior. Mas a falta de aceitação não foi o estopim para eu sair da cidade. Até porque, eu fiquei com um vínculo aqui.
JI:Você conquistou o título de mestra e está, agora, para entrar no doutorado. Me parece que você é a exceção à regra no sentido de acesso ao estudo e até ao mercado de trabalho para pessoas trans. Como você vê isso?
MR: Na verdade, hoje, a gente tem visto um avanço neste ponto. Temos visto muitas trans e travestis nas escolas, tentando estudar e se inserindo em algum lugar, seja em programas técnicos ou até em universidades. Mas ainda é, sim, uma dificuldade isso. Da sigla LGBT, o trans ainda é o que tem mais problemas com este preconceito.