A casa de Ninfa Maria Moraes se tornou um canil. Além de cuidar, ela também encaminha os animais para adoção
Há dois anos, a pensionista Ninfa Maria Moraes, 67 anos, mudou sua rotina de vida em nome do amor aos animais. Em 24 meses, ela adotou mais de 40 cães, entre machos e fêmeas. Além disso, passou a ajudar equinos vítimas de maus-tratos e abandono.
Os dois primeiros cachorros de Ninfa foram encontrados no Litoral e, outro, em uma das estradas próximas ao sítio onde mora, na localidade de Potreiro Grande, zona rural de Montenegro. Por algum tempo, eles foram os “donos do pedaço”, mas a situação mudou quando outros dois animais foram abandonados na porteira da propriedade.
Ambos foram acolhidos por Ninfa e, assim, teve início a formação da grande família canina. Até o mês de janeiro, ela teve sob sua guarda 44 cachorros. Agora, após doar quatro para um vizinho, este número diminuiu um pouco. Em média, o grupo consome 30 quilos de ração por semana. E, na semana passada, a família ganhou oito novos membros: a cadela Mamacita encheu a casa de filhotes.
Cada animal tem um nome dado de acordo com sua aparência ou situação de ingresso no sítio, como Batoré e Mamacita. Ninfa Maria trata a todos com carinho especial. Para ela, poder ajudar os cães é muito gratificante. “É muito bom a gente poder auxiliar essas criaturinhas”, exclama.
A paixão pelo que faz é tão grande que Ninfa não se importa de ter que abrir mão de uma série de coisas, como viajar, por exemplo. O que ela não gosta é de saber que algumas pessoas tratam mal e abandonam os animais à própria sorte. Como foi o caso de Teresa. A cadela foi largada de um automóvel a poucos metros de distância do carro de Ninfa. Vendo a situação, ela chamou o animal e o levou para casa. O fato ocorreu no dia 4 de janeiro, data do aniversário da voluntária. Teresa é considerada o principal presente ganho este ano.
Os cavalos também ocupam um lugar especial na vida da voluntária. Atualmente, ela possui dez animais. Um deles, a égua Lídia, foi adotado após ser ferida por um tiro. Lídia ficou com sequelas na pata, mas sobreviveu graças aos cuidados de sua nova e dedicada dona.
Cães de caça e de pequeno porte estão à disposição
Apesar do imenso carinho que tem pelos animais, Ninfa acredita que muitos deles poderão ser felizes em outros lares. Alguns cachorros que estão sob seus cuidados, por apresentarem perfil de cães de caça, podem ser úteis para trabalhadores rurais, observa a mulher. E se a busca é por filhotes ou animais de pequeno porte para conviver com crianças, ela também tem.
A maioria dos cachorros pode ser adotada por quem tiver interesse. Contudo, a “mãezona” ressalta que só permite a saída de um de seus “filhos” de casa se tiver a certeza de que estará bem cuidado. “Quem quiser um cachorro pode pegá-lo, mas só se for para cuidar bem dele”, reitera.
Comunidade pode ajudar com ração e casinhas
A família não para de crescer e, por isso, é preciso pensar onde os novos moradores serão abrigados. Ninfa construiu um canil nos fundos de sua residência. Além disso, várias casinhas estão espalhadas pelo terreno, mas, ainda assim, faltam abrigos para tantos cães.
Ninfa salienta que tomar conta de tantos moradores requer mais do que atenção e carinho. Os custos são elevados. Além da alimentação e dos medicamentos básicos, é preciso ter muitas casinhas para tantos cães.
A voluntária aceita doações de alimentos, casinhas, novas ou usadas, e também de material de construção, para que novos lares possam ser feitos. Quem quiser colaborar pode entrar em contato com Ninfa pelos telefones 51- 980485121 ou 995224751. Mas se preferir, pode entregar os donativos na loja Top Line Suplementos, na rua Santos Dumont, nº1.357.
Pela criação do canil municipal
Ninfa não se importa em receber dezenas de animais em sua propriedade. Ela gostaria de ajudar um número ainda maior, mas não possui condições para tanto. Para ela, a melhor maneira de auxiliar os cães abandonados seria a criação de um canil municipal.
Ela sugere que a Prefeitura construa a estrutura física e deixe à disposição de voluntários, como as ONGs existentes na cidade, e de pessoas que, assim como ela, se preocupam e querem ajudar. A ideia é que cada um dedique frações de seu tempo à causa animal. “Essa é a busca que a gente tem”, revela.
Atualmente tramita na Câmara de Vereadores de Montenegro uma proposta que visa a doação de uma área de terra, próximo ao campus da Unisc, no bairro Zootecnia, para as entidades que cuidam dos animais. Contudo, durante a tramitação do processo, a Associação dos Tradicionalistas de Montenegro (ATM) também reivindicou um espaço para cuidar e abrigar cavalos com problemas de saúde, ou que tenham sido largados por seus donos.
Conforme o vereador Cristiano Braatz (PMDB), nos próximos dias, a Câmara deve votar o requerimento para agendamento de reunião a fim de discutir o assunto. O objetivo principal do encontro será definir a divisão do terreno entre a ATM e as ONGs da cidade. Posteriormente, o pedido de doação segue para o Executivo para que seja formatado o projeto de lei autorizando a entrega.
No entanto, a intenção inicial das ONGs é diferente daquilo que Ninfa tem em mente. O objetivo é construir uma clínica de atendimento para os animais de rua. O local deve funcionar como uma casa de passagem. Após serem acolhidos e tratados, os bichos serão encaminhados à adoção.