De acordo com pesquisa, 83% dos brasileiros costuma curtir um som no serviço. Essa questão gera discussão
Música no ambiente de trabalho é um tema que gera muitas discussões. Há divergências de opiniões entre estudiosos, especialistas, gestores de empresas e, claro, funcionários. Não é preciso ir longe. Afinal, quem nunca presenciou uma discussão entre colegas sobre o volume do rádio na sala da empresa? Ou, ainda, sobre o gênero musical escolhido? Já se irritou com aquele que não ouve nem o próprio telefone tocar porque está com os fones de ouvido no volume máximo? Sem dúvida, esse é um tópico que precisa ser discutido.
Para Luciano Lima, consultor em Gestão Empresarial e Gestão de Pessoas, o oferecimento da música, por parte da organização, vai depender do tipo da empresa. “O que deve ser feito (pelo gestor) é olhar o ambiente e ver se cabe a oferta de música. Vai estar muito ligado ao tipo de seguimento. Numa academia, a música terá um propósito. Em um escritório, outro. No varejo, por exemplo, ela tem mais essa questão de conectar com o ambiente da loja. Em uma indústria, talvez seja para dar uma descontraída. Vão variar os estilos e os propósitos”, explica.
Na empresa de software montenegrina Ivirtua, por exemplo, o propósito dado para o som é a concentração. Todos os que trabalham ali têm seu próprio fone de ouvido e podem escutar o gênero que preferirem. “É uma forma de se desconectar das conversas paralelas. Isso interfere positivamente. Tu bota uma melodia de fundo, com qualquer música, e tu não dispersa tanto”, comenta o coordenador de desenvolvimento da empresa, Guilherme Wunsch. A equipe utiliza um programa de troca de mensagens por computador para facilitar, diante do uso dos fones, a comunicação interna.
Para a funcionária Bruna Aparecida Parreiras Randt, que é programadora, a política da empresa é positiva. De gosto eclético, ela ouve música pop, sertaneja e até k-pop, enquanto escreve e analisa códigos de programação de softwares. Algumas vezes, opta, também, por escutar podcasts. “Depende muito do nível de concentração que a atividade requer”, comenta. Guilherme, o coordenador, conta que, além da questão de se desligar do ambiente exterior, a opção pelos fones de ouvido se deu justamente pelos diferentes gostos musicais. Somente em algumas sextas-feiras, para dividir um momento de descontração, que é usada a música ambiente.
Apesar do sucesso da decisão da empresa local, o consultor em Gestão Luciano Lima avalia que, em geral, os fones não trazem bons resultados para as organizações. “Isso por conta da interação das pessoas, o telefone que toca e a necessidade das pessoas conversarem, por exemplo. Talvez funcione para uma atividade em que as pessoas trabalhem sozinhas, mas eu acho menos produtivo”, opina. Para ele, mesmo a opção da música ambiente deve partir dos gestores, voltada ao perfil da empresa e não a gostos pessoais de cada membro da equipe.
“Isso não impede de, em alguns dias e alguns horários, fazer uma diversificação, dando para as pessoas a liberdade de escolha através de alguns critérios”, ressalta. O consultor, que é contratado pelas organizações para auxiliar no gerir do seu dia a dia, frisa que o optar ou não pela música vai depender da atividade e da proposta buscada, seja ela a de descontração ou de concentração da pessoa que está trabalhando.
Coldplay é sucesso entre os trabalhadores
O serviço de streaming de música Spotify, em parceria com a rede social profissional LinkedIn, propôs-se a responder a pergunta “O que o brasileiro escuta no ambiente de trabalho?”. De acordo com a pesquisa realizada, 83% dos trabalhadores do país ouvem músicas enquanto estão trabalhando. Dos que ouvem, 41% votaram na banda britânica Coldplay como a mais adequada para ser ouvida durante o horário de expediente.
O grupo, que se apresenta em Porto Alegre nesse sábado, é seguido pela dupla sertaneja Jorge e Mateus e pelo, também britânico, Ed Sheeran, empatados em segundo lugar, com 32% dos votos. Em quarto, está a banda Maroon 5 (30%), seguida pela banda Charlie Brown Jr. (21%).
O levantamento também apontou artistas considerados impróprios para serem ouvidos no trabalho, categoria que teve Anitta e Wesley Safadão como os principais citados.
O que dizem as pesquisas
O Instituto Brasileiro de Coaching publicou, recentemente, um artigo para tratar sobre a relação entre a música e a produtividade. A constatação do texto foi que, apesar dos muitos estudos realizados, cada indivíduo reage de maneira diferente diante do estímulo musical e, por isso, não se tem uma definição clara sobre esta relação. Em um sentido físico, no entanto, é comprovado que a música ajuda na liberação de dopamina no corpo, substância capaz de causar a sensação de bem-estar e diminuir o nível de estresse.
Um estudo realizado na Universidade de Miami (EUA), por exemplo, relacionou comprovadamente o hábito de escutar música com a finalização das tarefas mais rapidamente. Constatou, porém, que o fenômeno se deu com empregados de mais experiência na empresa, tendo a prática gerado distração entre os que atuavam há menos tempo na atividade. Em um sentido parecido, uma pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Wales (Reino Unido) apontou ser benéfica a música pela manhã, antes que o funcionário comece a trabalhar. No entanto, escutando durante o período de trabalho, constatou-se uma diminuição na produtividade.
O livro “A música no seu cérebro – A ciência de uma obsessão humana”, de 2010, foi escrito pelo neurocientista norte-americano Daniel Levitin e traz algumas considerações sobre o tema. O autor sugere, a exemplo da pesquisa citada anteriormente, que a melhor forma de ouvir música no trabalho é a pessoa escutar suas canções favoritas durante dez ou quinze minutos antes do início das atividades. De acordo com ele, a prática irá relaxar o cérebro e trazer uma sensação de prazer para que ela inicie o expediente bem-humorada.
Levitin diz, ainda, que escutar as canções durante o trabalho irá, sempre, prejudicar os níveis de atenção do funcionário, mas com uma exceção importante: a prática poderá ser uma aliada no caso da execução de tarefas repetitivas. Isso porque, em uma atividade que pode ser entediante, a canção ouvida irá auxiliar a pessoa a manter-se alerta e atenta.