É hoje o dia da alegria!! E“tristeza nem pode pensar em chegar, diga espelho meu se há na avenida alguém mais feliz que eu?” (Samba Enredo União da Vila do governador RJ 1982) É pensando nos sambas da antiga que vamos saudar a folia do Momo. O carnaval é a única festa negra que lutamos incontestavelmente para manter, é a maior manifestação de resistência que une forças e mantém viva a chama dos foliões. Sou da família das avenidas, do samba de rua, do carnaval das escolas de samba e das muambas. Sou Bambas da Orgia (POA) de Coração, herança de meus ancestrais, e conheço bem o brilho de torcer e desfilar em escolas de samba. Em 1961, minha mãe era passista da Escola de Samba Saímos Sem Querer, bloco da ACB Floresta Montenegrina, e participava dos “Assaltos Carnavalescos”. E alguém vai perguntar: Isso acontecia em Montenegro? Tem tradição de carnaval? Então… deixa eu te contar uma história.
Nossa cidade por muito tempo promoveu os Assaltos e Corsos Carnavalescos, que eram cortejos onde os foliões dançavam e eram recebidos nas casas das famílias para prosseguirem a festa, cantando e dançando: “Saímos sem querer cantando, cantando para as mágoas da vida esquecer…”(Samba Enredo do Bloco Carnavalesco Saímos sem querer). O carnaval por aqui sempre foi um esforço, uma batalha que envolve dedicação, criatividade, originalidade e uma homenagem sincera a vida, as histórias, as manifestações sociais e aos feitos da comunidade. Já tive escola de samba de dentro de casa, sou filha de Rei Momo, prima de Rainhas, já fui comissão de frente, tomei banho de chuva na avenida (quem nunca), viajei por cidades vizinhas e acompanhei outros carnavais pelo estado, meu sonho sempre foi ser porta bandeira, não deu, mas quem sabe.?! Afinal “Jogo é jogo, sorte é sorte, e neste embalo coração bate mais forte, estou aí de novo, trago raça e emoção…” (Samba Enredo da Escola Acadêmicos) e se falando em carnaval é um jogo em que as peças se movimentam cedo, em que se trabalha um ano todo para entregar o melhor de nós. E como no célebre samba da minha amada Escola de Samba Floresta Montenegrina já dizia “E a juventude encara o bicho de frente, nos cantando nas ruas retomando e amando tudo, o que sempre foi da gente…”, queremos retomar o que sempre foi da gente, encararmos o bicho de frente sempre que for necessário e faremos do carnaval nossa manifestação de arte. Porque é nesta festa popular que homenageamos todos os batuqueiros, baianas e nos tornamos príncipes, princesas, rainhas e reis.
Carnaval é um sonho, uma manifestação de cultura e de liberdade de expressão. Hoje nossa reverência vai aos dirigentes das nossas entidades carnavalescas locais como por exemplo Acadêmicos, Floresta Montenegrina, Bateria Independente, Leões de Ouro, Whiskeira, Mangueira, Esubi, entre outras também importantes, que foram pioneiros, mestres em promover a folia do Momo. Com o axé de nossas baianas, a ala mais importante nas escolas de samba, que começam os festejos porque “filho que é filho de umbanda não cai…”( Samba enredo Bambas da Orgia). E sigo na certeza que Montenegro vai voltar a ser referência de carnaval no vale. A cultura afro-brasileira merece ser valorizada.
Esta coluna é dedicada a nossa Izabel de Souza, que neste ano foi eleita Embaixatriz do Carnaval do RS e a minha mãe, Regina Helena, maior carnavalesca que já vi, daquelas que dança dentro de casa lembrando de todos os carnavais da vida, dos sambas de enredo, dos amigos que fez e dos nossos grandes sambistas, que viveram muito esse sonho. E carnaval é sobre isso, vida. Asè.