Violência doméstica quase dobra no começo do ano

COM ELEVAÇÃO DE 72% nos casos atendidos, ameaça e lesão corporal se destacam em relação ao mesmo período de 2019

A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Montenegro, responsável pelas 19 cidades do Vale do Caí, constatou um grande aumento nos registros de violência doméstica no mês de janeiro. Na comparação com o mesmo período de 2019, houve elevação de 72,2% nos casos que chegaram à DP. Chamam à atenção os números sobre “vias de fato” (agressões) e lesão corporal.

Os inquéritos instaurados pelo crime de ameaça quase dobraram: foram 38 registros em janeiro de 2019 e 68 no mesmo período de 2020. Os de lesão corporal aumentaram de 34 para 41. Já as situações tipificadas como vias de fato chegaram a 22 no primeiro mês deste ano, 18 a mais do que as 4 contabilizadas ano passado. E os casos de perturbação da tranquilidade tiveram elevação de sete para 11 casos. Outro dado que preocupa é o registro de uma tentativa de feminicídio. Em janeiro de 2019, não ocorreu nenhuma situação assim.

A delegada Cleusa Spinato, responsável pela Deam, explica que o aumento dos números no mês de janeiro deve-se a dois fatores principais. “O primeiro é o trabalho constante que vem sendo realizado no sentido de que as mulheres se encorajem a denunciar as violências sofridas, com ampla cobertura da imprensa, tanto em nossa região quanto no Estado”, diz. O segundo motivo é o acúmulo de ocorrências do mês de dezembro. Com vários dias de feriado, alguns registros acabaram sendo inseridas somente no mês de janeiro.

Para a Polícia Civil, a elevação dos casos de violência, nesta época do ano está associada ao consumo de bebidas alcoólicas. Muitos agressores se tornam ainda mais violentos e “corajosos” depois de beber. Com os sentidos alterados, qualquer situação que não os agrade vira motivo para discussões e brigas, até chegar ao ponto em que partem para a violência física.

Feminicídio cresce 330% no Estado
Os números da violência contra a mulher alertam para a necessidade de conscientização das vítimas quanto às denúncias. O número de feminicídios no Rio Grande do Sul em janeiro aumentou de três casos em 2019, para 10 neste ano, conforme dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do RS.

Entre as vítimas, apenas uma contava com medida protetiva concedida pelo Judiciário. Ou seja, na quase totalidade, os casos só chegaram às autoridades quando ações preventivas já não eram mais possíveis.

A situação reflete um dos principais obstáculos à atuação das forças de segurança para evitar feminicídios. Embora a maioria desses crimes seja o ponto final de um ciclo crescente de agressões anteriores, também na maioria dos casos, nenhuma informação que permitisse a adoção de ações para prevení-los chega às polícias.

A presidente do Conselho Municipal de Defesa da Mulher (Comdim) e coordenadora da Rede Mulher de Montenegro, Carliane Pinheiro, a Kaká, avalia os dados apresentados pela DEAM do Vale do Caí e a triste realidade que se abate sobre os demais municípios gaúchos. “Todos os dias, chegam casos de violência doméstica. As mulheres estão denunciando mais, porém é assustador o aumento do feminicídio”, diz.

23 atendimentos no fim de semana
Segundo o comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar de Montenegro (5ºBPM), tenente-coronel Rogério Pereira Martins, somente nos dias 07, 08 e 09, ou seja, no último final de semana, foram contabilizadas 23 ligações para o 190 e despachadas guarnições para atender a ocorrências de violência doméstica. Segundo ele, o crescente número de chamados continua ao longo desta semana.
Para o comandante, as denúncias são indicadores de que o trabalho de conscientização às vítimas está surtindo efeito. “São várias razões, inclusive as campanhas publicitárias e as ações das redes de atendimento, além da implantação, atuação e divulgação da Patrulha Maria da Penha em Montenegro e região”, conclui.

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