Não é de hoje que o gênero feminino sofre com certas “proibições” e julgamentos na hora de competir. A área dos games não é exceção. Mas também não é todo dia que uma mulher conquista o 1º lugar no ranking mundial do Super Street Fighter IV: Arcade Edition, um dos jogos mais populares de luta de todos os tempos. A responsável pela façanha, que aconteceu em 2013, foi a paulista Cristina Santos. O feito demonstra que o gênero não influi em nada no combate com os joysticks.
A montenegrina Kimberly Machado, de 22, já perdeu as contas de há quanto tempo joga. Ela divide o tempo de diversão com as aulas de ginástica que leciona, e conta que, quando era criança, todos os seus primos eram meninos. Por isso se adaptou ao ambiente desde cedo. “Mas só entrei de cabeça nisso aos 14 anos, quando comprei um computador bom o suficiente para rodar os jogos mais novos”, diz. Para ela, o game é o meio de diversão. Este é o seu hobby favorito e, se conseguisse, levaria até como profissão.
A jogadora acredita que o recorde alcançado pela brasileira Cristina é a conquista feminina de cada dia, dentro do mundo virtual, o que a deixa confiante de que, algum dia, estarão no mesmo nível do cenário competitivo masculino. “Ultimamente, jogo em torno de três a cinco horas quando sobra tempo. League of Legends é minha área. Comecei a jogar logo que veio o servidor pro Brasil, em 2013, e jogo até hoje”, explica.
Também montenegrina, Miriã Fröhlich Teixeira, de 17, conheceu esse mundo virtual muito cedo e logo se interessou por ele, gosto que herdou do pai. “Desde criança, meu pai sempre jogava Super Mario, então foi com esse jogo que me iniciei. Aí eu conheci a internet, jogos online, jogos com plataformas diferentes e tal”, conta a jovem.
Por mais incrível que pareça, a motivação da estudante para continuar jogando cerca de oito horas por dia são as críticas. “Quanto mais as pessoas criticam, mais eu me esforço pra mostrar que sou melhor do que aquilo que elas falam”, diz.
Preconceito e assédio incomodam as jogadoras
Kimberly aponta que ainda existe muito preconceito. Ela também lamenta que, em alguns jogos que já tem abrangência mundial, não há cenário competitivo feminino oficial. Há confrontos regionais ou os onlines, que abrange todo o país, mas nada oficial, com divulgação e patrocínio, comparado ao cenário masculino. “Ainda se tem a ideia de que mulher não joga tão bem quanto o homem. Algumas vezes, quando descobrem que sou mulher, há aquela pressão de querer acesso às minhas redes sociais, telefone e etc”, diz. Ela afirma que não mostra que é mulher para evitar esse tipo de situação. O que ela mais enfrenta é o machismo.
Com Miriã não é diferente. Ela conta que ainda precisa enfrentar muitas críticas, assédios e xingamentos. “Normalmente, quando descobrem que você é mulher, já pedem seu Skype, face e por aí vai. Ou falam que você só conquistou o que tem por ser mulher”, comenta. Miriã relata ainda que meninos já chegaram a pedir fotos e a ofenderam verbalmente simplesmente por seu gênero.
Um levantamento revela que 63% das 874 jogadoras entrevistadas pelo blog PriceCharting já sofreram assédio em jogos online. Em alguns casos, as competidoras são obrigadas a ouvir comentários do tipo “Volta pra cozinha”, “Já terminou de lavar a louça?” ou, então, “Pega uma cerveja pra mim”.
O estudo apontou ainda que, por causa do assédio, 35% das jogadoras optaram por dar um tempo no joystick. Outras 9% tomaram uma decisão mais drástica: mudaram de hobby. Entre as saídas para jogar sem medo, as meninas usam o “nickname”, nome de usuário, masculino ou desligam o microfone quando não conhecem os demais integrantes.
Kimberly decidiu começar, em 2015, um canal na rede Twitch.TV, direcionado principalmente a transmissões ao vivo. “Como eu amo jogar, achei legal compartilhar esse meu lado e mostrar que não é só homem que joga bem. Dei uma pausa disso por falta de tempo e de um computador melhor pra levar uma qualidade decente para quem tá assistindo”, explica. O nome do canal de Kimberly é IceKim.