Valorização do poder público e da comunidade são necessidades para agentes de saúde

Importância e demandas da profissão foram temas de bate-papo no Programa Estúdio Ibiá, na Rádio Ibiá Web

Visitar, acompanhar, orientar e auxiliar são algumas das milhares de funções dos agentes comunitários de saúde. Elo entre a comunidade e as unidades de saúde, o profissional teve a sua atividade regularizada pela Lei n°10.507, de 10 de julho de 2002, e cada vez mais mostra-se necessário a sua valorização.

Nesta segunda-feira, dia 4, é celebrado o Dia do Agente Comunitário de Saúde, e para conversar sobre a atividade e as inquietações da profissão, o Estúdio Ibiá recebeu na última quarta-feira, dia 29, a agente comunitária de saúde, Salete Kronhardt; a enfermeira da Secretaria da Saúde de Montenegro Lusiane Ströher; e o líder comunitário de Muda Boi, Ivonei Pires da Silva.

Enfermeira Lusiane Ströher ressalta que a luta pela valorização dos agentes é válida e necessária

Com a sua origem no estado do Ceará em 1987, os agentes de saúde tinham como objetivo na época reduzir a mortalidade infantil, dar uma alternativa de trabalho às mulheres e, principalmente, estender o direito à saúde a todos os cidadãos daquele estado. Incorporado ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), em 1991, pelo governo Federal, a profissão vem se atualizando e assumindo atividades diversas ao longo dos anos.

Segundo a enfermeira da USF 4 Santo Antônio, Lusiane Ströher, os agentes de saúde vêm para complementar a equipe da atenção básica, atuando na comunidade onde está inserido. “Ele conhece costumes, rotinas, ele é conhecido daquela população. Então a gente diz que ele é o braço da atenção básica, é o que a gente consegue olhar além do que nos é trazido dentro daquela Unidade de Saúde”, fala.

No município há 54 agentes comunitários de saúde e Salete Kronhardt é uma delas. Atuando há quase sete anos na profissão, ela acompanha principalmente as famílias do bairro Panorama. “Abrange muita coisa, o agente de saúde tem capacitação para ver o problema daquela família e ajudar como puder”, diz. Salete explica que o agente é responsável, por exemplo, por fazer o cadastro da família; conversar; dar informações sobre vacinas, consultas médicas, agendamentos, exames; além de fazer o acompanhamento e monitoramento com visitas periódicas.

Líder comunitário de Muda Boi, Ivonei Pires da Silva

De acordo com ela, um vínculo com as famílias é criado durante esse processo. “É muito importante o trabalho do agente de saúde. Porque o enfermeiro, o médico, ficam na unidade, mas nós estamos lá na residência. Então nós passamos a realidade da situação das famílias”, declara.

O líder comunitário de Muda Boi e integrante do Conselho Municipal de Saúde, Ivonei Pires da Silva (mais conhecido como Nei) alerta que em todas as localidades há alguém que não aceita muito bem as visitas do agente de saúde, e é importante ressaltar a sua necessidade. “Os agentes de saúde são muito importantes, porque eles orientam até da medicação, do que a pessoa precisa, se precisa de um encaminhamento médico, psicológico, então eu acho fundamental”, completa.

O agente na comunidade
Com a pandemia as visitas dos agentes comunitários de saúde diminuíram bastante, e novas restrições foram colocadas. Agora os profissionais não podem entrar nas residências, e somente dialogar no portão com as famílias. “Temos que seguir à risca os protocolos, porque tanto nós podemos levar o vírus e transmitir, ou pegar”, explica Salete.

Mesmo com essa restrição a enfermeira Lusiane destaca a importância da visita para o usuário. “A gente seguindo a linha de que a saúde não é somente a ausência de doença, e sim tudo que está relacionado à vida do indivíduo: se ele possui e

Salete Kronhardt em visita na casa de Érica de Quadros Mariano e seu esposo. Foto: Arquivo Pessoal/Salete Kronhardt

mprego, as condições de moradia, as condições do meio ambiente, então o agente de saúde vai até as residências e nos traz essas informações. […] Sem esse olhar do agente de saúde é muito mais difícil”, comenta.

Segundo ela, em Montenegro, nem todos os bairros são contemplados por agentes comunitários. “A gente percebe uma diferença muito grande nas ações desenvolvidas em bairros que têm agente comunitário e bairros que não têm agente comunitário”, declara. O ideal de acordo com Lusiane seria ser 100% de cobertura, porém não é permitido que um agente comunitário cubra um grande território.

Para Nei, é importante que aqueles que morem em bairros contemplados aproveitem a oportunidade, e valorizem a visita dos profissionais os tratando com educação e respeito. “Eu acredito que eles fazem sempre o melhor e atribuem muito, tanto verificando se a pessoa precisa de alguma coisa ou se a pessoa tem algum problema. […] Às vezes as pessoas até acham o agente de saúde chato, porque vai lá te pedir para fazer aquilo (algo), mas no final do andar eles dão razão, porque o agente de saúde está ali para te orientar”, conclui.

Demandas dos profissionais
Assim como em toda profissão, os agentes comunitários de saúde de Montenegro também possuem demandas pendentes em relação a sua atividade. Pensando em como solucionar, em junho foi realizada uma reunião na Câmara de Vereadores, que contou com a presença dos agentes e integrantes do Executivo.

Dentre os temas debatidos e solicitados estava a ajuda de custo para o transporte e o retorno do incentivo financeiro. “O salário do agente de saúde é um salário um pouco baixo, então esse incentivo sempre nos ajudava a fazer um investimento, a comprar uma coisa que a gente precisa […]. Nós somos mães, temos filhos, muitas pagam aluguel, então esse incentivo é importante para nós”, diz Salete. A agente de saúde relata que o incentivo anual não é pago desde 2019.

Pedidos de agentes de saúde foram apresentados na Câmara de Vereadores. Foto: Div./Câmara de Vereadores

Outra preocupação é quanto a ajuda de custo no deslocamento dos profissionais durante as visitas, principalmente para aqueles que cobrem áreas do interior. “Eles têm uma distância às vezes de quase dez quilômetros de uma residência para outra. Então é impossível eles fazerem visitas a pé, eles precisam se deslocar se não eles vão fazer no dia uma, duas visitas”, afirma.

Nei exemplifica que em Muda Boi, de duas agentes comunitárias de saúde há atualmente só uma, que precisa cobrir uma distância muito maior sozinha. “O transporte é muito caro, se tu andar em torno de 10 a 12 km para visitar”, diz.

Segundo Salete, ela e os colegas encaminharam à Prefeitura um ofício com as demandas, mas até o momento não houve nenhum avanço. “Então o que nós pedimos agora é fazer uma nova reunião”, fala. “Sobre a ajuda de custo no deslocamento, sobre o incentivo para nós, isso tudo alimenta, é uma forma de nos incentivar, não só pelo amor, mas como ajuda”, completa. Em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Montenegro, o Jornal Ibiá foi informado que a Administração está estudando os pedidos e deve se manifestar nos próximos dias.

Lusiane acredita que dentro da área da saúde há poucos profissionais valorizados, e que é necessário lutar pela valorização dos agentes de saúde. “Hoje a gente tem um piso nacional do agente comunitário de saúde. O município aqui segue esse piso nacional, então a gente tem que lutar ou a nível municipal para aumentar o salário mínimo municipal ou fazer essa luta a nível nacional para aumentar o salário. Acho que a luta é válida sim, e apoio eles de continuarem pedindo essa valorização, porque é um serviço muito importante”, expõe.

Relação entre a rede
Dentre as diversas coisas detectadas e absorvidas pelos agentes comunitários de saúde estão as questões sociais. Próximos e confidentes das famílias, muitos conseguem observar possíveis agressões a mulheres, maus-tratos com idosos, descaso com crianças e adolescentes, dentre outras urgências. “É a questão do vínculo mesmo que o agente de saúde começa a criar e eles têm essa intimidade de chegar e falar”, comenta Salete.

Ela menciona que muitos problemas já passou para a rede de cuidados, que envolve diversos atores como a Assistência Social, a Educação e outros órgãos de proteção e promoção à vida. “Nós fazemos aquele trabalho de formiguinha, o olhar ali dentro do que está acontecendo com essa família”, comenta.

Diretora de Assistência Social e Cidadania, Carliane Pinheiro, a Kaká, diz que o diálogo entre a Assistência Social e os agentes comunitários de saúde é muito importante. “Eles ligam bastante para cá, inclusive vem agentes comunitários de saúde. A gente sempre tenta manter o diálogo”, assegura.

Em agosto uma capacitação foi promovida para os agentes de saúde. Foto: Arquivo Pessoal/Kaká Pinheiro

Com o foco no usuário, Kaká relata que a aproximação entre os agentes e a rede é necessária para que todos tenham as suas dificuldades sanadas. “São eles que estão lá na ponta, são eles que estão visitando as famílias e que estão observando as situações. Por isso que a gente precisa ter essa ligação com os agentes comunitários de saúde. Quando eles chegarem com essas demandas a gente tem que suprir, ir acompanhar com a equipe técnica ou então pedir para eles virem até os serviços”, explica.

“O agente de saúde apesar de não ser um profissional técnico de formação, ele é um profissional capacitado pela atenção básica, então no momento que ele se tornou agente de saúde ele começa a receber capacitações, em relação a vacina, hipertensão, diabetes, dengue,etc. […] Ele é capacitado para conseguir chega no domicílio, levantar a demanda e tentar procurar uma solução”, afirma Lusiane. Com as capacitações reduzidas devido a pandemia da Covid-19, a expectativa agora com a vacinação de grande parte da população é que as conversas e encontros retornem aos poucos.

Vínculo com as famílias
Como Salete relatou, é comum criar vínculo com as famílias. Um exemplo disso é o caso dos vizinhos Érica de Quadros Mariano e João Edegar da Rosa que recebem constantemente auxílio da agente comunitária de saúde. “Ela é bem atenciosa quanto à saúde, a gente não tem o que reclamar dela. É uma pessoa boa, que está sempre disposta a ajudar”, diz Érica.

Moradora do bairro Panorama, Érica conta que Salete até criou um grupo no whatsapp para atualizar a comunidade sobre a vacinação e outras demandas do bairro. “Ela bota todos os dias o que tem das vacinas, tudo pra gente ver. Está tudo atualizado”, fala.

João Edegar da Rosa declara ser muito bem atendido pela agente comunitária de saúde do seu bairro

Érica ressalta o trabalho atencioso que Salete presta ao seu vizinho João Edegar, que passou por um longo processo de cuidado devido a um câncer na garganta. “Sempre que ele precisa ela está aqui ajudando ele. Ela pega receita pra ele, ela marca consulta, ela é bem atenciosa”, comenta.

Segundo João, Salete acompanhou todo o processo, desde a detecção até o fim do tratamento. “A gente precisa, ela está sempre em prontidão, não tenho do que me queixar”, diz. De acordo com o montenegrino, a agente de saúde o ajuda sempre quando precisa ir ao médico, pegar receitas e marcar consultas.

Ele relata que Salete está sempre o orientando. “Eu acho um bom trabalho. Tem muita importância, porque no que a gente precisar é só ligar pra ela”, reitera.

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