Uso de sacolas plásticas no comércio acende debate em Montenegro

IMPACTO AMBIENTAL descarte inadequado gera preocupação e requer medidas de contenção

O uso de sacolas plásticas é discutido em diversos países. Dezenas de nações já adotaram medidas para controlar a emissão exagerada do item. Em 2018, o Chile foi o primeiro país sul-americano a limitar o número de sacolas plásticas emitidas pelos estabelecimentos comerciais, cada cliente passou a receber apenas duas embalagens. No Brasil, diversos municípios vêm adotando medidas e colocando o tema em pauta.

Com mestrado em Engenharia Civil na área de Concentração e Gerenciamento de Resíduos, Elisa Kerber Schoenell, professora de Gestão Ambiental da Unisinos, comenta que as sacolas plásticas têm impactos diretos e indiretos no meio ambiente, podendo afetar os animais, as condições estéticas e sanitárias do meio e os próprios seres humanos. Doutora em Qualidade Ambiental, a especialista dá exemplos dos danos que podem ser causados pelo material. “Quando não destinadas corretamente, as sacolas inteiras ou partes delas (quando rasgadas) podem poluir os solos, rios e mares, podendo ficar presas em animais ou até mesmo serem confundidas com alimentos por eles.”

Nos centros urbanos, essas embalagens podem agravar o entupimento de bueiros, gerando diversos transtornos durante a ocorrência de enxurradas. “Estima-se que os plásticos levam muitos anos para se decompor no meio ambiente, por isso os impactos acabam permanecendo por muito tempo”, complementa a ambientalista. “Além disso, é importante pensar no impacto da produção de sacolas plásticas, que devem considerar a extração de matéria-prima, como o petróleo, o processo de refino do mesmo e os impactos do transporte das sacolas até os consumidores, como emissões atmosféricas.”

Para João Batista Dias, o Tita, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACI) Montenegro/Pareci Novo, o problema não está nas sacolas e sim no destino dado a elas. Além disso, segundo ele, outros tipos de plásticos são mais facilmente vistos espalhados pelas ruas que as sacolas. “Todo plástico é 100% reciclável. Acredito que se trata mais do processo de conscientização das pessoas para a destinação de todos os tipos de plástico, não só das sacolas. Por que não pegamos as sacolas plásticas que sobram e descartamos no dia da coleta seletiva? São atitudes que a população pode tomar. A grande vilã no meio ambiente não é a sacola plástica, porque existe processo para reutilização dela”, opina Tita.

O vereador Gustavo Oiliveira (PP) acredita que a mudança cultural da população só vá ocorrer mediante medidas drásticas, como a criação de uma lei municipal. “Não se tinha a cultura de andar de carro com o cinto de segurança. Não se tinha a cultura de andar de motocicleta com capacete. Era permitido fumar em todos os locais. E hoje, com a mudança de cultura, as pessoas respeitam as regras”, compara o vereador. “No Brasil, a maioria das capitais já proibem a utilização das sacolas plásticas. No Rio Grande do Sul, a cidade de Gramado aprovou a proibição da utilização das sacolas plásticas. Este assunto precisa ser debatido”, enfatiza Gustavo.

Para dar mais atenção ao tema, o representante do Legislativo propôs debater a questão na Câmara de Vereadores. A data ainda não foi definida, mas a ideia é envolver diversos segmentos da sociedade na discussão, entre eles ACI e secretaria municipal de Meio Ambiente.
O secretário de Meio Ambiente de Montenegro, Ronei Cavalheiro, reconhece os problemas causados pelas sacolas e diz que, Executivo e Legislativo podem, sim, unir esforços para construir um projeto de lei municipal visando atender a demanda das sacolas plásticas no comércio local. “As sacolas são feitas com derivados do petróleo e quando descartadas de forma inadequada no meio ambiente, demoram de 400 a 450 anos para se deteriorar. É um grande problema que a gente tem e precisa resolver”, comenta Ronei.

Em outubro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que os municípios podem exigir do comércio o uso de sacolas biodegradáveis. O STF  declarou a constitucionalidade a uma lei do município de Marília (SP), que exige a substituição de sacos e sacolas de plástico por outras de material biodegradável. A decisão tem repercussão geral, ou seja, deverá ser seguida em casos semelhantes pelas demais instâncias da Justiça.

Elisa Schoenell é Consultora de Resíduos Sólidos na Confederação Nacional de Municípios (CNM).Foto: arquivo pessoal de Elisa Schoenell

Reutilização e reciclagem

Consultora de Resíduos Sólidos na Confederação Nacional de Municípios (CNM), Elisa Schoennell lembra que, diminuir o consumo de produtos e realizar compostagem caseira são formas de reduzir a utilização de sacolas plásticas para armazenagem de resíduos. Outra dica é reaproveitar embalagens de papel higiênico e de papelão (como as de tele entrega) para armazenar recicláveis em casa.
Em relação ao chamado plástico ‘verdes’ ou biodegradável, Elisa diz que é importante buscar informações sobre ele, como o tempo exato de decomposição. “O plástico denominado ‘verde’ muitas vezes levará o mesmo tempo de decomposição do plástico comum, sendo a única diferença que a matéria-prima foi proveniente de outras fontes que não o petróleo, como a cana-de-açúcar”, explica.

O que vem sendo feito e o que pode mudar

Os supermercados estão entre os estabelecimentos comerciais que mais distribuem sacolas plásticas aos clientes. Algumas lojas em Montenegro, mesmo sem uma lei que regulamente a adoção de medidas, oferecem alternativas para que os consumidores levem menos plástico para casa. “Nossas lojas oferecem caixas de papelão para transportar as compras, mas ainda é muito baixo o número de pessoas que adere”, relata Fernanda Barcarollo, diretora financeira da Rede de supermercados Via II.

Quando não recebem o descarte adequado, muitas sacolas acabam nas ruas entupindo bueiros e causando transtornos

Fernanda é favorável a discussão e a adoção de medidas. Contudo, para ela tais mudanças devem ser bem elaboradas e com prazos para entrar em vigor. “Essa iniciativa deve fazer parte de um plano conjunto com órgãos do meio ambiente, criando um programa, ou cronograma”, opina Fernanda.
Gerson Gauer, proprietário do Supermercado Centenário, é favorável a criação de uma lei municipal para balizar a emissão de sacolas plásticas em Montenegro. “As sacolas plásticas deveriam ser proibidas, se fossem não teríamos tanto lixo nas ruas e nos rios. O meio ambiente está cada vez mais poluído”, opina.
O empresário conta que, também, oferece caixas de papelão como alternativa para os clientes carregarem suas compras. Mas eles preferem as sacolas porque, depois, utilizam para colocar lixo. Outras medidas são adotadas com foco na conscientização, porém não têm surtido o efeito desejado. “Fizemos mil sacolas retornáveis com o nome do mercado, só que ninguém traz quando vem fazer novas compras”, relata Gerson.

A ambientalista Elisa Schoenell concorda que para minimizar os impactos causados ao meio ambiente pelas sacolas plásticas é preciso atuar de diversas formas. “A fim de evitar e reduzir impactos ambientais negativos, é preciso recusar sacolas plásticas, e reutilizar outros materiais para esta finalidade, como sacolas de pano”, sugere. “Os saquinhos das frutas e verduras também devem e podem ser evitados. Existem materiais que podem ser reutilizados”, completa Elisa.

Enquanto não há lei municipal constituída, a secretaria de Meio Ambiente trabalha para promover a conscientização da população sobre o tema. Conforme Ronei, a SMMA analisa recursos financeiros para comprar sacolas biodegradáveis e ofertá-las a população. “Queremos distribuir essas sacolas nas escolas e durante ações de conscientização, como no Dia do Meio Ambiente”, detalha o secretário. “Temos que começar a ter essa consciência. Muitos países já usam as sacolas biodegradáveis, elas se deterioram em curto período de tempo e não causam tanto impacto ao meio ambiente”, avalia o titular da pasta.

Os supermercados distribuem grande parte das sacolas que são levadas para casa dos consumidores

Últimas Notícias

Destaques