Educação transformadora. Cerca de 80 alunas, a maioria já atuando como professoras, receberam orientações
O Cultura Doadora Montenegro — iniciativa da Fundação Ecarta, Jornal Ibiá e Hospital Montenegro (HM) com apoio de uma série de entidades montenegrinas — dá seu primeiro passo em 2018. Agora no embalo de duas recentes doações de órgãos no município, algo que não ocorria desde 2014, a comissão organizadora traz a médica intensivista pediátrica, Fernanda Paiva Bonow, para duas palestras aos cursos de Pedagogia no Polo Científico da Uninter Montenegro nesta semana. Coordenadora da Organização de Procura de Órgãos (OPO) 1 da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a especialista busca desmistificar a questão da morte encefálica, momento em que as famílias têm a possibilidade de autorizar a doação de órgãos. No país, mais de 32 mil pessoas aguardam pela continuidade da vida mediante um transplante.
“Infelizmente, muita gente ainda não compreende que morte encefálica é um quadro com nenhuma chance de a pessoa voltar a viver. É a situação em que o cérebro está comprovadamente morto, mas algumas partes do corpo continuam funcionando por algum tempo graças a máquinas ou medicamentos”, destaca Glaci Borges, coordenadora do Cultura Doadora na Ecarta.
Segundo ela, a explanação a um público de professores em processo de formação é excelente, já que essas futuras professoras estarão capacitadas a trabalhar oportunamente a doação de órgãos em sala de aula com seus alunos, formando uma rede de solidariedade. “Esses esclarecimentos são muito importantes, porque ainda há na sociedade uma visão muito errada quanto à doação de órgãos. Mas passo a passo estamos mudando essa realidade e Montenegro, com duas doações recentes, tem respondido positivamente”, enaltece.
Coordenadora de marketing na Uninter Montenegro, Tatiana Henke conta que assistiram à palestra cerca de 80 alunas — a maioria delas já inseridas nos corpos docentes de escolas municipais e estaduais. “É uma iniciativa muito interessante, porque é preciso estimular as famílias a conversarem entre si sobre esse assunto, senão vira um tabu. Temos que dizer à nossa família que somos doadores, pois ninguém, nem mesmo o jovem, tem como prever que vai precisar de uma doação ou tornar-se doador”, destaca.
Apesar de a morte ser um assunto delicado, as estudantes de Pedagogia, segundo Tatiana, são favoráveis a abrir diálogo neste sentido, inclusive em sala de aula, com crianças e adolescentes. “Pode até ser que nem todo mundo concorde ser doador, talvez por uma questão religiosa, mas todos acham importante e se propõem a debatê-la. A morte, afinal de contas, é a única certeza da nossa vida”, salienta.
Cultura Doadora amplia ações e agrega novos parceiros
Dada a necessidade de continuar com o processo de sensibilização da comunidade de Montenegro e região, o Cultura Doadora Montenegro planeja uma série de atividades ao longo das próximas semanas. Ainda em março, em data a ser marcada, o Hospital Montenegro dará início a um programa aberto de educação continuada a fim de esclarecer como funciona o sistema de transplantes no país. “O nosso objetivo é explicar, em linguagem para leigos, toda a legislação que normatiza a doação de órgãos, o processo de captação. O Rio Grande do Sul é uma referência nacional nesta área”, destaca a médica nefrologista Tatiana Michelon, que é diretora clínica do HM e uma das coordenadoras do projeto.
A capacitação é aberta a todas as categorias profissionais, mas é dirigida especialmente a alunos e professores da Escola de Enfermagem Schwester Emmy. Como os currículos escolares ainda não são bem desenvolvidos neste sentido, os profissionais da área de saúde precisam de mais conhecimento na hora de identificar potenciais doadores, de fazer as notificações e ter sensibilidade para falar com os familiares sobre doação de órgãos.
Experiências de campo comprovam que educar traz resultados. O Sistema Estadual de Transplantes do Paraná implementou, nos últimos anos, vários cursos semanais para os profissionais que atuam com pacientes críticos e, com isso, aumentou de 6,8 doadores por milhão de população em 2010 para 34,3 doadores por milhão no primeiro semestre do ano passado. O Paraná é o segundo em doações do país.
Tatiana comemora que o número de parceiros do projeto Cultura Doadora não para de crescer em Montenegro. Ainda em março, o escritório local da Emater/Ascar abrirá uma porta para que a campanha chegue às comunidades rurais da região. A ideia é que palestras sejam realizadas durante as reuniões dos Grupos Organizados do Lar (GOLs). “Também já temos o apoio oficial da secretaria municipal da Saúde. A Cristina Reinheimer, assessora da secretária da Saúde [Ana Maria Rodrigues], já trabalhou com captação de órgãos durante 14 anos no Hospital Pompéia, em Caxias”, enaltece a diretora clínica do HM.
Aula-show com Spencer Camargo e Los 3 Plantados
O Cultura Doadora Montenegro também contará com ações na área cultural. Sob a coordenação da Fundação Ecarta, entidade ligada ao Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS), a cidade vai receber uma aula-show com Spencer Camargo e Los 3 Plantados, no teatro Therezinha Petry Cardona/Fundarte, no dia 12 de abril.
Neste evento, o médico Spencer Camargo, integrante da equipe de transplante pulmonar da Santa Casa de Porto Alegre, apresentará um histórico do transplante de órgãos no mundo, os diversos processos e momentos da doação de órgãos e do próprio transplante. Doutor em pneumologia, especialista em cirurgia torácica e parceiro do projeto Cultura Doadora, ele também irá informar e esclarecer sobre a estrutura hospitalar para essa área no Rio Grande do Sul e país. A aula será seguida pelo show Los 3 Plantados, com os músicos Jimi Joe, King Jim e Bebeto Alves, transplantados em 2013.