Daiane dos Santos. Ex-ginasta esteve sábado em Montenegro para um bate-papo sobre a importância do esporte
Foi por acaso que teve início a história de sucesso da ex-ginasta gaúcha Daiane Garcia dos Santos, a Daiane dos Santos. Em 1994, aos 11 anos, ela brincava numa pracinha que ficava junto à Associação dos Amigos do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (AACETE), em Porto Alegre, quando foi abordada pela professora Cleusa de Paula. “A professora passou e viu que eu tinha porte físico (para a ginástica) e fui convidada”, relata a atleta que tem apenas 1,46 metros.
Com o consentimento dos pais, Daiane começou a treinar e logo passou a fazer parte da equipe de ginástica do Grêmio Náutico União. Lá ela ficou de 1995 até 2005, década na qual viveu grandes momentos de sua carreira na Seleção Brasileira de Ginástica Artística. “O caminho foi rápido, em 1997 eu já estava na Seleção”, recorda. Ela fez parte do selecionado até 2012, quando se aposentou após os Jogos Olímpicos de Londres. Durante esse período, ela só ficou de fora entre 2008 e 2011 por ter feito uma cirurgia no joelho direito.
Dos 15 anos de Seleção Brasileira, Daiane guarda boas lembranças. Entre elas está a medalha de ouro na categoria solo no Campeonato Mundial de Ginástica Artística de 2003, disputado em Anaheim, Estados Unidos. Segundo ela, a conquista no Mundial foi marcante não apenas pelo título individual, mas também pela classificação para levar a equipe completa de ginástica para as Olimpíadas de Atenas, em 2004. “Foram dois grandes títulos, duas grandes respostas positivas”, afirma.
Outro grande momento guardado na memória de Daiane ocorreu em 2005 na Copa do Mundo de São Paulo. Durante sua apresentação embalada pela música “Brasileirinho”, do compositor carioca Waldir Azevedo, o sistema de som falhou, mas a plateia fez a sua parte para não prejudicar a apresentação da ginasta gaúcha. “A música parou e as pessoas a continuaram com palmas”, lembra.
Hoje, Daiane trabalha como gestora técnica do projeto social “Brasileirinhos”, que visa iniciar as crianças na ginástica artística, bem como formar cidadãos, fortalecendo a disciplina, o trabalho em equipe, a determinação, o respeito e a amizade. O programa desenvolvido no bairro Paraisópolis, em São Paulo, oferece aulas para crianças de sete a 14 anos e ainda dá oportunidade de participação em festivais, visando o conceito de esporte de inclusão.
Movimentos batizados em sua homenagem
Para ganhar a medalha de ouro do Mundial de Anaheim, Daiane dos Santos surpreendeu a todos com o duplo twist carpado, que foi batizado de Dos Santos. O movimento é uma variação do salto twist – uma pirueta de giro em torno de si – seguido por um mortal duplo e foi criado em parceria da ginasta com o treinador da Seleção Brasileira, Oleg Ostapenko, que é ucraniano. Segundo Daiane, a ideia de realizar o movimento se deu durante um período de treino e reabilitação de uma cirurgia.
“É a evolução de uma manobra”, explica. Segundo Daiane, ela não sentiu pressão ao realizar o movimento pela primeira vez numa competição, justamente na final do mundial que lhe rendeu o ouro. “São muitas horas de treinamento e o treinador Oleg é muito maduro e consciente (do que o atleta pode fazer)”, destaca a ginasta.
Além do Dos Santos, Daiane tem outro movimento batizado em sua homenagem: o Dos Santos II. Esta manobra é um duplo twist esticado e foi criado através de um próprio pedido da ginasta. “Havia um elemento parecido que eu não conseguia fazer e pedi para fazer o duplo twist esticado”, conta. Ela lembra que o treinador ucraniano a desafiou dizendo que ela não seria capaz de realizar tal movimento e que ele riu após ela executá-lo. “Aquilo era um incentivo. Me colocar a prova me motiva”, destaca.
Ginasta participa de bate-papo em Montenegro
Integrando as atividades de comemoração aos 30 anos de atuação do Retiro Comunitário de Reabilitação Ocupacional (Recreo), na tarde de sábado, a ex-atleta da ginástica artística e campeã mundial Daiane dos Santos realizou uma palestra no Espaço Cultural Braskem, na Estação da Cultura. O tema foi dedicado a prevenção ao uso de drogas com o esporte. Durante a conversa, Daiane contou a sua história, desde a sua infância em Porto Alegre, passando pela descoberta da Ginástica Olímpica e sua carreira na área. A ex-atleta ressaltou, ainda, a necessidade de os jovens investirem na educação.
Nelson Lopes de Souza, vice-presidente da Recreo, conta que a ideia de trazer a ex-ginasta é uma forma de mostrar que é possível que o esporte atue como ferramenta de prevenção às drogas. Para ele, Daiane é um exemplo de superação. “Ela é uma pessoa humilde e representa que é possível vencer através do esporte. Superou todas as dificuldades, rejeitou as coisas ruins e se dedicou ao esporte. Graças a isso ela construiu a vida e uma carreira de sucesso”, enfatiza.
Antes da conversa, Daiane dedicou sua atenção aos admiradores que pediram fotos. Entre eles, Alice do Canto Ignácio, de 10 anos, que praticava ginástica. “Ah…fiquei muito feliz quando vi ela”, conta a menina que abraçava o álbuns de recordações do esporte e que agora possui um autografo da atleta que a inspirou. Em 2015, Alice foi capa de uma edição do Ibiá e contou que um dos seus sonhos era conhecer Daiane. “Hoje esse sonho se realizou”, comenta o pai Marcelo Ignacio.