Nossa Senhora. Seu Luiz Carlos se emociona ao lembrar da ocasião em que pediu à Santa para salvar o seu neto
Já se passaram 16 anos, mas a cena permanece viva na sua memória. A voz some por alguns segundos, os olhos ficam ligeiramente úmidos. “É difícil falar”, diz o aposentado Luiz Carlos Oliveira de Souza, 75 anos. Ele respira fundo, e segue recordando a ocasião em que seu neto, então com dois anos, estava muito doente, hospitalizado há cerca de um mês. “Eu cheguei no hospital, botei a mãe na mão dele, depois saí até a porta e disse: Nossa Senhora Aparecida, de agora em diante, Luiz Wilmar é seu, salve ele pra mim”. Enquanto fechava a porta, ele ouviu um grito de dentro do quarto: “Eu quero a minha mãe”.
O avô não tem dúvida de que a recuperação de seu neto é um milagre de Nossa Senhora Aparecida. Ele reforça que o menino estava em coma e de repente falou. “Foi aquele grito de ‘voltou de novo’”, observa Souza. “Até os médicos ficaram de boca aberta”, acrescenta. O avô conta que o neto havia passado por três cirurgias no pulmão.
Ele já era devoto de Nossa Senhora Aparecida e, desde então, tem um motivo a mais para alimentar sua crença. A santa padroeira do Brasil, cuja imagem foi encontrada há 300 anos hoje, recebe suas orações pela manhã e à noite. “Também rezo para Deus Nosso Senhor e ao Divino Espírito Santo”, acrescenta.
Em sua casa, Nossa Senhora Aparecida tem espaço especial, com um altar com quatro imagens, além da exposição de um informativo da Igreja com mensagem alusiva ao dia de hoje e a reprodução da santa. Entre as imagens, uma tem uma história que Souza também atribui a milagre. Ela fazia parte de um quadro fixado na parede do seu quarto, quando ele ainda estava com a primeira esposa. Poucos dias antes da separação, a imagem se desprendeu do quadro. “Ela saiu do quadro e foi pra cama, sem a moldura, sem nada, só a parte da santa, é como se dissesse que queria ir comigo”, acredita.
Na separação, Souza deixou a casa, levou apenas suas roupas, objetos da marcenaria que tinha e a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que havia sido presente da ex-esposa. Ele, no entanto, refez sua vida, casou-se de novo e sua mulher atual é devota de Santo Antônio. “Toda manhã levo café para ela na cama”, conta, Souza, revelando-se um romântico. Natural de Montenegro, ele é morador do bairro Ferroviário desde antes de o lugar receber esse nome.
Ministro na Capela de Nossa Senhora Aparecida, no bairro Faxinal, Mauro Henrique Kray observa que a devoção de Souza chama atenção. “A gente percebe que até quando se pergunta se está tudo bem, ele não responde só ‘graças a Deus’, mas diz ‘graças a Deus e a Nossa Senhora Aparecida”, resume.
Mauro acredita que a fé ajuda Souza a ser uma pessoa feliz, saudável e do bem. “A fé remove montanhas”, menciona o devoto. Oliveira frisa que reza diariamente, pela manhã e à noite, mas salienta que não basta falar, é preciso viver na oração. E para ele, isso significa respeitar a todos, ser honesto, não fazer nem desejar mal a alguém.
Rezar e correr atrás dos objetivos
“Eu tirei o tubo e gritei: quero minha mãe”, observa Luiz Vargas, neto de seu Luiz Souza. Suas lembranças são da ocasião em que soube da doença e o risco que correu. Ele ainda era pequeno, tinha por volta de 4 anos, quando lhe contaram sobre a gravidade da pneumonia e como ocorreu sua recuperação.
Hoje, aos 18 anos, Luiz é um jovem saudável que estuda no Ensino Médio, trabalha na loja com a mãe, a empresária Fabiani Andreia de Souza, e tem planos de seguir carreira militar. O episódio da infância lhe estimulou a também ser devoto de Nossa Senhora Aparecida. Luiz reza diariamente para a santa, pede auxílio e inclusive conselhos. E acredita que a resposta vem na forma de intuição sobre que caminho seguir. Ele salienta, no entanto, que não basta rezar e ficar esperando que as coisas aconteçam. “Eu corro atrás (dos objetivos) também”, resume.
Cavalgada em homenagem a Nossa Senhora Aparecida
Para marcar a data de hoje, feriado nacional em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, haverá uma cavalgada com concentração às 8h, no Parque Centenário. O roteiro segue até a capela que leva o nome da padroeira do Brasil, no bairro Faxinal, onde haverá missa. A programação inclui almoço campeiro com arroz carreteiro e feijão mexido no cardápio, ao custo de R$ 20,00.
Em Montenegro, a capela começou a ser construída em 2007. “Está quase pronta”, afirma Mauro Kray, lembrando que as obras são devagar porque dependem principalmente de doações. No Brasil, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada no Rio Paraíba do Sul, em São Paulo, há 300 anos, em 1717.