Uma figura controversa por trás da imigração alemã no Brasil

Vilão ou herói. Debate sobre major Von Schäffer aconteceu no mês do Patrimônio Histórico

Todos os anos, em 17 de agosto, é celebrado o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, tornado este o Mês do Patrimônio Cultural. E dentro da programação estudual, o Memorial ao Imigrante Alemão de Montenegro promoveu, sábado, 20, o debate “Major Von Schäffer: Herói ou Vilão?”. Ele aconteceu na véspera de completar 200 anos da polêmica viagem feita pelo secretário da Coroa à Europa com intuito de cooptar soldados para defender o novo Império do Brasil.

O diretor do Memorial, professor Eduardo Kauer, classificou o militar como “figura controversa”, que recebeu a patente na Guarda de Honra das mãos do próprio Dom Pedro I e gozava da admiração da imperatriz Maria Leopoldina.  Georg Anton Von Schäffer nasceu em Muennerstadt, na Franconia, hoje estado alemão da Bavária; mas foi um viajante do mundo. Entre muitas jornadas, esteve na Rússia, onde fez doutorado e depois representou os interesses de expansão daquele império, comandando expedições ao Alaska e ao Hawai.

Chegou ao Brasil aos 38 anos, onde sua presença, vulgar e hebréia, na Corte, causava estranheza. Uma influência que lhe rendeu a posse de colônia na Bahia, onde morreu solitário, com pouco mais de 50 anos.

Dom Pedro teria mandado Von Schäffer para o território onde hoje é a Alemanha já pensando na independência, que proclamou 17 dias depois de sua partida. Eles precisariam de homens para formar um exército leal, pois não poderiam contar com os portugueses. Uma missão que pedia alguém com a lábia para fazer promessas (que depois não foram cumpridas) a agricultores pobres e a jovens solteiros.

O enviado da Corte no Brasil dizia que seria uma imigração “à moda dos Cossacos” no Leste Europeu. Isso significava que, em troca de lote de terra, ficariam à disposição de convocação do Exército, para qualquer momento e local. Foi uma operação que burlava acordo internacional de não haver militares europeus na América, na qual Von Schäffer trazia nos navios umas oito famílias entre cerca de 200 soldados declarados como agricultores.

Enquanto os homens solteiros desembarcavam no Rio de Janeiro, os trabalhadores seguiam para colônias pouco valorosas, como a Feitoria de São Leopoldo. “Na verdade foi uma malandragem do Dom Pedro, da Leopoldina e do José Bonifácio”, comentou Kauer.

Ao longo da história o major passou a ser detratado, inclusive por um alemão que tinha 17 anos quando foi convocado, mas acabou deportado do Brasil, que cunho o adjetivo “mercador de almas”. Kauer aponta as dúvidas a respeito o caráter de Von Schäffer, especialmente se sabia que suas promessas jamais seriam cumpridas. Foram seis anos de imigração (1824-1830) e cerca de 7.000 pessoas desembarcadas. Ao final, os soldados alemães se rebelaram, e quem se juntou às tropas que defenderam Dom Pedro foram negros escravizados.

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