PAIXÃO reuniu colecionadores de vários objetos em evento realizado na Cidade das Artes
Um evento promovido pela Associação Numismática, Filatélica e de Multicolecionismo do Vale do Caí (Colecionar Caí) reuniu colecionadores no Espaço Cultural Braskem, junto ao complexo da Estação da Cultura em Montenegro. O encontro promoveu a possibilidade de troca, compra e venda de moedas, cédulas e diversos outros materiais. A iniciativa mostra que a história pode ser contata através de objetos, e que o valor do dinheiro vai muito além daquilo que ele permite comprar.
Cerca de 20 expositores marcaram presença na mostra realizada nesse sábado, 21, na Cidade das Artes. Essa é a primeira vez que Montenegro recebe o grupo de expositores. Formada há pouco mais de um ano, a associação já promoveu 15 encontros nas cidades do Vale do Caí. A meta é realizar mostras em todos os municípios da região.
Jairo de Oliveira, de 46 anos, é um dos organizadores do evento. Sua grande paixão são as moedas. Para Jairo, as feiras possibilitam a integração e trocas de mercadorias entre os colecionadores. Além disso, é uma possibilidade diferente de visitação para os cidadãos. “Aquelas pessoas que têm latinhas cheias de moedas em casa costumam trazer esse material pra gente”, conta o organizador. “Eventos como esse trazem movimento para a cidade e movimentam o comércio em restaurantes, cafés e lojas”, acrescenta.
Colecionador desde guri
Jairo de Oliveira é conhecido em meio ao grupo de colecionadores pelo apelido de Faustão. O que talvez alguns de seus amigos não saibam é a origem de sua paixão. Ele relata que aos 10 anos de idade encontrou uma moeda em uma gaveta. O menino se encantou pelo brilho daquele moldado pedaço de cobre, no qual constava a data de 1821 e o numeral romano XL.
Antes de tomar o objeto para si, e garoto pediu autorização à mãe. “Ela disse que eu poderia ficar e que aquela moeda havia sido usada no umbigo do meu irmão”, relata Jairo, sobre o ritual usado por muitas famílias no passado. Desde então sua admiração pelas peças só fez aumentar. “Pesquisei sobre as legendas em latim e minha paixão cresceu ainda mais”, acrescenta.
Para o montenegrino, as mais belas moedas são as brasileiras e as feitas em ouro. A admiração do colecionador é tão grande que o move para lugares como Minas Gerais, por exemplo. “Morei três meses em Sete Lagoas. Em Minas comprei 500 quilos de moedas, além de outros materiais de coleção”, conta Jairo.
Atualmente morando em Montenegro, ele se dedica à compra e venda de moedas. As viagens a outros estados são constantes. Mas o que mais desperta o entusiasmo do colecionador é saber que cada moeda representa um pedaço da história.
Cuidado com as peças é fundamental
Seu Adir Ceruti, de 63 anos, explica que os colecionadores passam por três fases. Na primeira eles juntam objetos, na segunda organizam esses itens, e na terceira passam a comercializá-los. “Depois que a gente junta muita coisa chega a hora de vender”, diz o colecionador e comerciante.
Adir se aposentou há oito anos e passou a dedicar seu tempo ao colecionismo. Hoje ele trabalha fornecendo materiais e dicas para que os colecionadores guardem suas moedas e cédulas de forma segura e adequada. “Para que as moedas e cédulas realmente tenham valor de investimento, elas precisam ser armazenadas adequadamente”, reitera.
“É gratificante esse contato. A gente passa a viver a história da moeda, se questiona sobre o que ela já comprou, para quê serviu….”, comenta Adir. Ele, assim como Faustão, também viu seu “romance” com as redondinhas surgir ainda na mocidade.
A história começou em seu primeiro trabalho. Como office boy de uma empresa, Adir usava com frequência o transporte coletivo e recebia o troco em moedas. Sempre que conseguia, ele juntava as moedinhas. A relação, iniciada há cerca de cinco décadas, perdura até hoje.
“Colecionar é uma maneira salutar de passar a vida”
Aos 82 anos, seu Vanderlen Amaral da Costa orgulha-se de ter sido o primeiro colecionador/comerciante a participar do Brique da Redenção, em Porto Alegre. “Naquela época era só eu. Hoje sou o colecionador mais antigo entre todos”, diz.
Natural de Lavras do Sul, o aposentado conta que foi lá mesmo, em 1944, que ouviu pela primeira vez a palavra colecionador. “Meu pai era sapateiro. Um dia, um moço apareceu por lá com uma caixa cheia de moedas, ele perguntou se o pai sabia quem poderia comprar. Ele respondeu que um senhor que morava na esquina colecionava moedas. Foi a primeira vez que ouvi aquilo”.
Vanderlen e o irmão acompanharam o rapaz para mostrar onde morava o vizinho. Ao entrar na casa, o menino ficou encantado com a coleção, exposta em vitrines espalhadas pelas paredes do sobrado. Foi ali que Vanderlen decidiu ser colecionador.
Com o passar dos anos, a diversidade de objetos foi crescendo. Gibis e cartões postais dão colorido à banca do expositor. Mas é longe dali que está uma de suas coleções favoritas. “Montei uma exposição itinerante com objetos que contam a história do negro. Hoje ela está em São Bernardo do Campo, em São Paulo”, comenta.