Um som que eleva a alma para mais perto de Deus

Restauração. Instrumentos centenários voltam a tocar em Igrejas Evangélicas Luteranas

Havia problema nos mecanismos, nos foles de couro, de afinação e ainda de cupins

A música sempre foi uma forma de conexão com Deus. Cantar é um louvor pelo qual a pessoa eleva seu espírito, em harmonia com os irmãos na fé. Uma liberdade que agora os membros da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana União de Montenegro voltam a sentir, conduzidos pelo emocionante som de seus Harmônios. Os quatro instrumentos raros foram reativados pelo diácono Dério Milke, que encontrou no agricultor Jacó Kettermann um parceiro de jornada.

Nascido no Espírito Santo, seus primeiros acordes foram do hino ‘Deus Sempre Me Ama’, ensinados pelas mãos do pai, David Milke, um agricultor imbuído unicamente por Fé em Deus. Entre a lavoura e a família, o capixaba encontrou tempo para aprender a tocar Harmônio e reger o coral de sua comunidade. O exemplo motivou Dério, hoje com 35 anos, e que ainda piá aceitou sua missão, tornando-se especialista neste instrumento de sonoridade divina.

E quando chegou à Paróquia União, em 2016, transferido de Rondônia, ele ficou surpreso com os tesouros esquecidos nas igrejas de Santos Reis, Campo do Meio, Costa da Serra e Faxinal. Este último estava parado somente devido à falta de alguém que soubesse tocá-lo, mas os outros tinham problemas de cupins, afinação e peças. Harmônios não são mais fabricados no Brasil, o que torna estes, no interior de Montenegro, grandes relíquias que conferem às comunidades o diferencial das tradicionais celebrações com canto erudito embalado pela melodia acústica.

Seu talento ao teclado e a certeza de que a música toca a alma, impulsionaram Dério em resgatar a beleza dos cultos antigos. “Não pode deixar um instrumento com um som tão bom, uma história tão bonita, principalmente na Igreja Evangélica Luterana. Vamos restaurar”, definiu.

Jacó (em pé) diz que o Harmônio europeu de Campo do Meio, com 111 anos, foi o que deu mais trabalho

A história do Harmônio
Foi inventado pelo professor dinamarquês Christian Gottlieb Kratzenstein durante o Século XVIII, o chamado ‘Século das Luzes’, pois as ideias Iluministas promovidas por filósofos se espalharam pelo mundo. É um teclado, cuja música é gerada através da circulação de ar vinda de foles inflados por pedais. Um funcionamento – e som – similar a gaita. Sua estrutura lembra o órgão, porém não tem os tubos. Apesar de feito para uso doméstico, tornou-se um instrumento musical de uso típico em igrejas

No Faxinal, último a tocar este modelo Bohn, fabricado em Novo Hamburgo, foi o saudoso pastor Klaus Wolfgang Meirose. Este precisava apenas de outro músico

Logo a missão de Jacó ficou clara
E a solução para os três Harmônios estragados estava ali mesmo, em Campo do Meio. Há sete anos o agricultor – e artista plástico – Jacó se dedica em restaurar gaita e bandoneón. “Cada conserto é um novo desafio”, comenta o autodidata, que segue estudando a complexidade dos instrumentos de fole. Ele definiu esta nova carreira como “missão de Deus”.
Uma paixão sem precedentes despertou repentinamente e que, após três anos, fez todo o sentido. Tanto que o morador de 59 anos não queria cobrar pelas restaurações. “Mas pelo seu empenho e dedicação, assim como um incentivo por parte das comunidades, eu disse que ele deveria ser pago”, explicou o diácono. Assista ao vídeo em anexo, e ouça o som de um Harmônio.

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