Ação voluntária. Movimento do Patrimônio Histórico busca manter viva a memória do Montenegro de ontem
Em 1981, o local que hoje é a Estação da Cultura estava com problemas. Antiga estação ferroviária, o fim da passagem do trem havia deixado o prédio em estado de total abandono. Logo, a edificação começou a ser depredada e invadida. Muitas pessoas começaram a morar irregularmente ali e a situação ia de mal a pior. Foi neste contexto que nasceu o Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico de Montenegro.
Um grupo preocupado com o prédio – tão importante para a história do município – se uniu e começou a lutar pela sua preservação. “O Movimento fez com que a sociedade montenegrina visse que aquilo lá tinha condições. Graças àquelas pessoas, hoje, a gente pode usufruir daquele belo espaço e isso nos orgulha profundamente”, resume o atual presidente do grupo, Mauro Henrique Kray. Com muito carinho pelo feito, Mauro e os demais integrantes tem as reuniões mensais do Movimento no local onde a entidade nasceu para salvar.
Composto por 10 pessoas – e com a participação pontual de mais integrantes -, apaixonadas pela história e pela preservação da cultura local trabalham para manter conservado o patrimônio histórico do município. Este patrimônio, ao contrário do que muitos pensam, não refere-se só aos prédios antigos, mas também à parte ambiental – como o Rio Caí e o Cais, que integram a história – e à cultural – como as intervenções artísticas da Fundarte e as bergamotas, por exemplo.
“É bem mais amplo que os prédios. A gente foca mais neles porque eles são mais visíveis e é onde se precisa ‘apagar maiores incêndios’”, explica Mauro. “Mas o cultural também faz parte, afinal qual é a identidade cultural do povo montenegrino? Um exemplo é o próprio Terno de Reis, que é uma coisa dos açorianos, que era muito conhecida no interior e praticamente está desaparecendo”, complementa. É bem pelo incentivo à valorização do “antigo” que trabalha o Movimento.
O grupo não tem fins lucrativos e, nele, todos são voluntários. “A gente se empenha para que as próximas gerações vejam que alguém se interessou em manter um traço histórico local. Buscamos colaborar e fazer a nossa parte pra que não se perca o nosso passado”, comenta o presidente. Qualquer um que tenha interesse, pode participar do Movimento. Ele pode ser contatado por sua página no Facebook ou em alguma das reuniões mensais, que ocorrem em toda primeira segunda-feira do mês, às 17h30, na Estação. Elas duram cerca de 1 hora e 30 minutos.
Relação consultiva com a Prefeitura
Existe, no município, uma lista feita pela Comissão Inventariante da Prefeitura – e com forte apoio e incentivo do Movimento – que apontou os prédios históricos da cidade. Cabe às instâncias da Administração Municipal que consultem esta lista ao liberar algum alvará ou obra e solicitem um parecer do Movimento, que analisa o pedido e elabora um texto com seu posicionamento. Há um decreto que protege os prédios desta lista de sofrerem interferências que façam com que sejam perdidas as suas características históricas.
Essa relação com a Prefeitura – e a importância que se dá à frente do grupo – não segue uma linha constante de governante para outro. “Cada mandato é um tipo de relação. É de acordo com a vontade do próprio poder”, lamenta Leticia Kauer, arquiteta e membra do grupo pelo Patrimônio. Ela salienta, no entanto, que a atual administração tem se mostrado muito receptiva em escutar e atender às demandas. É com o prefeito Carlos Eduardo Müller, o “Kadu” que, enfim, está andando um projeto de lei que corre há cerca de 10 anos e procura reafirmar a preservação dos prédios, prevendo incentivos e sanções.
Mauro frisa que, para emitir seu parecer, o grupo visita o imóvel em questão e sempre está aberto ao diálogo. “A gente sempre vai ao encontro do proprietário. Ao contrário do que se pensa, nós não somos do contra. Nosso desejo é o de trabalhar em parceria para que se chegue em um entendimento quanto à obra solicitada. Nada que não possamos dialogar”, explica. O grupo também fica à disposição para auxiliar algum dono de prédio histórico em um projeto que alie a necessidade de uma intervenção, com a preservação das características da edificação.
Preservação incentiva o turismo
“A arquitetura histórica sempre atrai. Quando uma comunidade valoriza seus bens históricos, ela encontra uma grande forma de alavancar o turismo”, afirma o presidente do Movimento. Para ele e os membros do grupo, não se pode nem colocar um preço em um bem histórico, visto a carga e a importância que ele tem para uma comunidade.
“A partir do momento em que uma sociedade começa a perder a sua história, ela começa a perder valor. Montenegro é uma cidade que tem muito potencial para este tipo de turismo”, coloca a integrante do Movimento, Leticia. Ela aponta que a preservação faz parte de um ciclo. Interessados em conhecer o passado vêm para a cidade, compram no comércio local, movimentam a economia e incentivam mais preservação.
Projeto voltado para a educação em elaboração
O Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico de Montenegro está desenvolvendo um projeto educacional. Preocupado com as gerações futuras e buscando conscientizar sobre a preservação da cultura e da história local, o grupo quer pensar em ações que possibilitem a mudança de uma mentalidade que pensa que o “velho” não merece atenção. O presidente Mauro frisa que a ideia é semear, na comunidade, o gosto pelo patrimônio. Existem conversas, para isso, com os setores de Cultura e de Turismo da Prefeitura, mas ainda não há informações de como o projeto será, na prática.