Projeção. ACI traz o economista Fernando Marchet para palestra sobre as perspectivas neste ano eleitoral
A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Montenegro e Pareci Novo (ACI) abre hoje a agenda das reuniões-almoço deste ano com um debate acerca da economia brasileira. O foco é analisar as perspectivas da área, considerando que neste ano haverá eleições gerais no Brasil. O evento ocorre no Clube Riograndense, a partir das 12h.
A palestra estará a cargo de Fernando Marchet, executivo com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro e de capitais. Formado em Administração e mestre em Economia — ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul —, o especialista também já estudou na London Business School, é vice-presidente da Federasul e coordenador do núcleo de Economia da mesma entidade.
Em recente entrevista, Marchet afirmou que o cenário econômico aponta para um bom crescimento neste ano e, além disso, indica a retomada da estabilidade nos próximos anos. “O desafio será a escolha do novo presidente e se ele dará continuidade a algumas importantes e necessárias reformas que trazem efeitos na economia como um todo”, disse. Ontem, o especialista adiantou alguns pontos que serão desenvolvidos na reunião-almoço. Confira:
Entrevista com Fernando Marchet
De que forma os cenários econômico e político interferem um no outro e como isso fica mais explícito nesse ano eleitoral?
Durante o ano eleitoral, há um pouco mais de sensibilidade e essas duas coisas — política e economia —, que normalmente se retroalimentam, sofrem mais instabilidade, causada pelo âmbito político. Mas depende muito da situação em que a economia está no momento atual. Se a gente já vem de uma situação de instabilidade (com o estado político instável, um candidato ruim ou um que defenda uma coisa muito heterodoxa, muito fora das expectativas), ele tende a exacerbar uma situação que já é ruim. Se o cenário econômico está bem (até mesmo em 2014, quando estávamos em crise, mas a população ainda não tinha concepção disso), pode acontecer a coisa mais horrenda do mundo: o candidato se reelege, porque a economia está bem e a população não está se sentindo em um momento instável, não sente o problema no seu dia a dia.
Como está a situação atual, em sua opinião?
Sobre a nossa realidade atual: a gente passou por uma mudança importante no âmbito econômico, que pode refletir positivamente no ambiente político. Porém, ainda estamos em um momento de muita instabilidade. Se observarmos os gráficos de como se comportavam as expectativas econômicas no Brasil (que mede a propensão para investir e consumir), estávamos em um dos piores momentos dos últimos 10 anos durante o pré-impeachment da Dilma.
E depois?
Quando o Temer assumiu, ele acabou escolhendo o Henrique Meireles como ministro da Fazenda e outros nomes para compor aquela pasta. Pessoas inquestionáveis para cada função dentro dessa pasta. Currículo, experiência, técnicos. A escalação desse time permitiu que o ambiente de negócios mudasse, assim como as expectativas. A simples formação do time já cria uma expectativa positiva. Quando o empresariado percebe que o cenário vai melhorar, ele investe, contrata, não demite, investe… O trabalhador, por sua vez, também se movimenta: não fica com medo de perder o emprego, ele consome, troca a geladeira, fica propenso a voltar a consumir, a tomar crédito.
A inflação acabou caindo…
Na troca da economia, os bancos desobstruíram os canais de crédito, diminuindo burocracias, exigências e garantias. Isso porque, com a melhora do ambiente, os bancos entendem que as empresas terão condições de quitar seus compromissos. Não são coincidências. Foram ações técnicas, dentro do âmbito político, que mudaram tudo. A área política se compromete com as reformas, e a econômica se compromete em fazer o possível para que a inflação volte à meta, mesmo que tenhamos que subir a taxa básica de juros. Isso, de fato, provocou uma redução importantíssima na inflação num curto período. No governo anterior, ninguém acreditava que se podia usar a política monetária para levar a inflação à meta.
Como esse quadro tem evoluído?
Apesar de toda a sujeira que nós vivemos na política desde então, a economia vem melhorando. Pudemos perceber quantitativamente os sinais de melhora e retomada de alguns setores. Obviamente ainda de maneira muito lenta, o que é normal após uma crise severa como a que vivemos. Determinados setores perderam 40% da sua produção. O empresário e o consumidor vão testando e sentindo o mercado. Eles se interferem, relacionam e dependem muito de como as coisas estão. Se tivermos uma situação econômica melhor no segundo semestre, isso vai influenciar a eleição. Como isso? Determinando que a eleição se dê mais para o centro, ou seja, quem defende, entre outros aspectos, um estado menor, controle sobre a inflação, um câmbio flutuante e menor taxa de juros. Se estivermos vivendo um momento ruim da economia, há espaço para o que eu chamo de “bordas”, com ideias heterodoxas que já não são comuns no Brasil.
No RS, essa tomada está acontecendo?
O RS tem dois pilares importantes: o metalmecânico e o agronegócio. O setor de serviço, que inclui aí o comércio, também se destaca. Nos últimos anos, a indústria no Estado sofreu muito com a crise. Porém, o agro teve um 2017 muito bom e foi um fator importante para puxar a economia. Até porque em cidades do interior toda a cadeia é impactada pelo agro, diferente de Porto Alegre e outras cidades mais industrializadas. Hoje percebemos setores caminhando com melhora, alguns específicos crescendo até 12%. Mas no geral ainda é um crescimento modesto. A indústria de bens de capital, que sofreu muito na crise recente, será a principal responsável pela retomada. O setor de serviços é dependente do emprego. E esse movimento de retomada do emprego é mais lento. A expectativa é que viveremos um período bem melhor em meados de 2019. Mas acredito que já sentiremos melhoras durante o período eleitoral.