Última dia do Governo Kadu “Eu saio de cabeça erguida”

DESPEDIDA. Prefeito concedeu entrevista à Rádio Ibiá Web

Carlos Eduardo Müller, o Kadu, tem nessa quinta-feira, dia 31, seu último dia como prefeito de Montenegro. Vice-prefeito eleito junto com Luiz Américo Aldana, ele assumiu o cargo após o processo de impeachment do titular em 14 de setembro de 2017. Em pouco mais de três anos e quatro meses de governo, esteve à frente do Município durante enchentes, secas, vendavais; e também diante de acontecimentos marcantes, como a greve dos caminhoneiros e a histórica pandemia de coronavírus, desafios que talvez nem prefeitos com mandatos completos de quatro anos tiveram que enfrentar no passado. No balanço do período, Kadu cita o avanço na Saúde, com a implantação do Plantão 24 horas, como sua principal conquista; e não desconsidera concorrer mais uma vez ao cargo que está deixando.

Que legado Kadu Müller está deixando para Montenegro?
A primeira coisa que a gente pensou quando assumiu foi em fazer a gestão da Administração Pública. Não tinha outra forma de colocar Montenegro numa situação como está hoje sem fazer a gestão; olhar pra dentro primeiro. Eu acho que o legado é que eu posso dizer que dá pra fazer gestão pública pensando no bem estar das pessoas e não gastando o dinheiro público de forma errada. O resultado está aí. A gente conseguiu sanar dívidas que o Município tinha, gerar credibilidade, de novo, perante políticos e fornecedores; e trazer uma realidade financeira e administrativa muito positiva. Estamos encerrando um ano onde não tem atraso de fornecedores, os salários estão todos em dia e com um caixa positivo de virada de ano.

De quanto é esse caixa positivo?
A gente está encerrando o ano, porque ainda têm recursos do governo federal e do Estado que podem chegar hoje. Estamos estimando em torno de R$ 6 milhões que ficam no caixa do Município, podendo ter mais recursos ainda porque têm verbas como da Lei Kandir, FPM e algumas diferenças de ICMS que podem entrar até 31 de dezembro. A gente vira o ano muito bem, entregando para a nova administração um caixa positivo, do contrário do que nós recebemos, que era negativo.

O senhor enfrentou cinco pedidos de impeachment e também houve uma série de polêmicas envolvendo a relação da Prefeitura com a Câmara. Que impactos isso trouxe pro governo e pra cidade? Onde foi que isso começou?
Começou porque nós não vendemos secretarias, nem cargos dentro da Prefeitura. Nós focamos em fazer gestão pública e, na questão política, talvez tenha sido um erro que eu cometi de não ter feito os conchavos políticos. Nós não fizemos isso. A gente trabalhou em reduzir esse número de cargos dentro da Prefeitura para sanar algumas contas e a gente acabou não fazendo essa troca de cargos, então isso gerou uma animosidade política. Muitos me procuraram para ter cargos na Prefeitura e a gente optou por colocar em cargos de chefia e diretoria os próprios funcionários públicos.

Dos processos de impeachment, em nenhum deles foi apontada irregularidade, então é político e é óbvio que isso gera desgaste. Nós tivemos uma eleição e aquele foi um momento em que quanto mais desgaste a quem está na administração publica, melhor para quem queria pleitear um cargo de prefeito ou vice-prefeito. Dentro da Administração, nós acabamos perdendo tempo com isso porque o foco tem que ser na nossa argumentação pra gerar a defesa do processo; e acaba tirando o foco.

Após o impeachment de Aldana, Kadu assumiu oficialmente em setembro de 2017. FOTOS: ARQUIVO/JORNAL IBIÁ

O senhor entregou, na terça-feira, a obra da reforma da Biblioteca Pública; num projeto que se estendeu por muitos anos até a conclusão. Têm outras obras que o senhor quis, mas não conseguiu dar andamento?
Nós temos o Domingão, em que a reforma até já foi concluída (a previsão de entrega é o início do ano que vem); a EMEI Centenário, também, que já foi assinado o contrato, mas agora a empresa está em férias coletivas; algumas outras obras de infraestrutura, que são capeamentos de ruas; e a revitalização do Parque Centenário, que a gente tem o projeto pronto e contratado junto à Caixa Econômica Federal.

A gente poderia ter dado mais celeridade a esses processos, mas eu tive um ano bem atípico, de pandemia, e nós tivemos que recuar com muita coisa. Até porque a secretária da Saúde e nosso médico infectologista me apresentaram um cenário bastante catastrófico. Os números apresentados em março eram números que seriam, se bom, de mais de 600 mortes em Montenegro; se medianos, 1.200 mortes; e, catastróficos, 1.700 mortes. Então, eu disse: para tudo! Eu não vou fazer rua, eu não vou continuar com as reformas, nem fazer novos projetos de melhorias, porque eu não sei quanto eu vou ter que gastar em atendimento na Saúde. Quando um técnico me passa uma informação dessas, eu, como gestor, tenho que ter uma preocupação, mesmo sendo um ano de eleições, onde a política fala mais alto que qualquer movimento.

Só quando a gente viu em junho, julho, que estaria mais ou menos equilibrada essa situação da pandemia no sentido de prevenção, a gente começou a executar novas obras e colocar processos de licitação em prática. Então, muitas outras coisas que a gente gostaria de ter feito: a ampliação da orla do Porto das Laranjeiras, a conclusão da ponte do Baixio, a gente deixou um pouco de lado, focando na pandemia. Nós não falávamos em outra coisa. Mas entregamos a biblioteca, parte da orla foi entregue, o acesso ao Morro São João está pronto, coisas que a gente tinha como fazer e conseguiu, agora, no final, concluir.

Kadu, antes de ser empossado oficialmente como prefeito, já tinha assumido o cargo em agosto de 2017 com o afastamento de Aldana através de determinação judicial. Ele chamou os vereadores tentando construir uma aproximação. Na prática, relação com a Câmara acabou sendo bastante conturbada

Essa projeção de 600 mortes por Covid num cenário considerado “bom” foi obtida baseada em quê?
Eu sinceramente não sei dizer. Foi o infectologista do Município que trouxe esses dados com estudos feitos, onde tinha alguma projeção da Europa e dos Estados Unidos; e, de acordo com o percentual previsto e olhando a densidade populacional, seria o número para Montenegro. Isso assustou bastante. Depois, a gente foi vendo que, com a prevenção, com o tratamento precoce, a coisa ia minimizando. Mas veio através de um técnico, eu não sei a base científica de onde ele tirou. Felizmente, em dez meses de pandemia em Montenegro, nós tivemos, infelizmente, 35 óbitos, mas a grande maioria deles com alguma comorbidade que veio o coronavírus a afetar.

O senhor parece estar com um aspecto um tanto cansado. Entende que fez falta a figura de um vice no seu governo?
Fez muita falta. Por mais que tu tenha uma boa equipe de secretários, como eu tenho e todos foram muito engajados, a figura do vice é importante. A gente pode dividir agendas, pode dividir compromissos, pode dividir as tarefas diárias. Eu não tive isso. Muitas vezes, era durante o dia, era de noite, era final de semana; e eu tenho uma característica muito particular minha que não sou centralizador, mas gosto de estar a par do que está acontecendo. Por exemplo, final de semana, durante a pandemia, tinha a questão das bandeiras do Distanciamento Controlado e tinha que apresentar, com a Região 8, alguma resposta ou documento para tentar melhorar a condição da bandeira de Montenegro. Eu queria participar disso, também, porque, por mais que eu tenha uma equipe técnica, um corpo jurídico, um grupo ligado ao Comércio, eu precisava estar junto para poder falar sobre o assunto. Então, acabava me envolvendo. Isso, a gente não consegue dividir. O prefeito sozinho vai pra rádio, pro jornal, pra TV, pros compromissos oficiais, pra Brasília, pro governo do Estado e, sem a figura do vice, sobrecarrega.

Entre as obras e realizações do mandato, a inauguração do Pronto Atendimento 24 horas da Saúde é citada por Kadu como a sua “Menina dos Olhos”

Mudaria alguma decisão se pudesse voltar no tempo?
Não. A gente tomou as decisões que eram as mais cabidas para o momento. Sempre tem algo pra melhorar e eu acho que, quando a gente está dentro de uma administração, as decisões são tomadas de forma muito cautelosa. Às vezes, até demora um pouquinho. Eu levo comigo um aprendizado muito grande, justamente na questão de tomada de decisões. A gente pensa muitas vezes que a figura do prefeito tem o poder, mas antes de ter o poder, a gente tem que ter uma coisa que é muito séria: a responsabilidade.

Prefeito avalia que a pandemia foi
o principal desafio de seu governo

Então não tens nenhum arrependimento?
Não. Eu sempre digo que nos arrepender nos faz pensar que a gente errou. E, se houve algum erro, foi involuntário, não calculado. Eu levo comigo um sentimento de missão cumprida porque a gente tentou fazer nosso melhor e os resultados, a gente conseguiu apresentar de forma muito objetiva. A população recebeu uma boa condição de saúde, nós aumentamos o turno na Educação Infantil – não no turno integral, mas no meio turno em que nós, praticamente, zeramos a fila. Nós melhoramos a condição de segurança do Município com a implantação do videomonitoramento ligado diretamente à Brigada Militar com reconhecimento facial e de placa. Nós implantamos o estacionamento rotativo, que, infelizmente, uma empresa que não participou do pleito entrou com uma ação e tem liminar na Justiça brigando por isso; mas era uma necessidade e se transformou em realidade. Tem muitas coisas positivas que a gente pode citar. Eu tenho um sentimento de orgulho de ter sido prefeito de Montenegro; e não estamos falando de qualquer cidade. É uma cidade que é referência na região, que tem que ser protagonista.

Nesse ano, Kadu Müller tentou a eleição ao lado de Josi Paz. Ficou em segundo lugar, sendo a escolha de mais de 9 mil pessoas, 29,3% dos votos válidos

O prefeito eleito, Gustavo Zanatta, manteve dois de seus secretários – Antônio Filla na Fazenda e Cristina Reinheimer na Saúde – no novo governo. Especialmente na Saúde, a escolha foi muito bem recebida. O senhor encara isso como o reconhecimento de acertos da sua gestão?
Considero um reconhecimento pelo excelente trabalho que esses profissionais fizeram. É um período bem complicado pra fazer uma transição e realizar mudanças radicais na área da Saúde. A secretária Cristina tem conhecimento desde o início da pandemia e o Governo Zanatta fez uma excelente escolha em manter ela e sua equipe. O mesmo na Fazenda. Toda a situação financeira do Município está na secretaria da Fazenda; e o secretário Antônio Filla é uma pessoa muito competente e que colaborou muito para que chegássemos nesses números em que estamos hoje, mostrando onde tínhamos que ajustar, onde cortar. São dois profissionais que foram reconhecidos e mostra que a nossa Administração também fez bem.

O senhor já citou várias conquistas na Saúde, em obras, na segurança e também tivemos o andamento do projeto do Polo da Química. Há algo que o senhor classifique como a sua “Menina dos Olhos”?
A Menina dos Olhos foi, com certeza, o desafio de criar o Plantão 24 horas. Esse foi o maior desafio porque, comparando, fazer uma obra pra alguns pode ser bom e pra outros pode ser ruim; mas tu trabalhar Saúde, tu está lidando com a vida das pessoas. A secretária Cristina e a diretora de enfermagem vieram me trazer essa demanda de criar o Pronto Atendimento para desafogar a emergência do hospital, porque nós tínhamos contratado o Hospital Montenegro para o serviço de atenção básica das 22h às 7h da manhã; e se criava ali um gargalo muito grande junto da demanda de urgência e emergência de todos os municípios da região. Superlotava. Era sempre um problema. Essa decisão de colocar o plantão e estruturas de mais exames e atendimentos, então, é a minha Menina dos Olhos.

Müller, em coletiva no início desse ano para se defender de um dos processos de impeachment protocolados para que saísse do cargo. Esse, sugeria supostas irregularidades no contrato da coleta de lixo. Foi arquivado por falta de provas

Em entrevistas antes de assumir a Prefeitura, o senhor comentava sobre a rotatividade de cargos de confiança e a necessidade de enxugar a máquina pública. Isso teve influência em seu governo?
Sim. A gente reduziu de 136 cargos pra 74. A gente tirou cargos de comissão e botou em diretorias, servidores públicos, valorizando os servidores pela própria capacidade deles de ajudar no que a gente precisava. Eu tinha que reduzir custo e tinha que dar celeridade aos processos, e isso se dá com experiência. Não considero que o nosso governo tenha tido rotatividade grande. Eu troquei, eu acho, uns três secretários, justamente para ter essa continuidade do serviço. E deu certo. A gente conseguiu executar muitas coisas, mas a máquina pública, no todo, tem que ser mais enxugada ainda para a gente poder dar mais celeridade aos processos. A gente tem que trabalhar muito mais a informatização. Ontem, nós fizemos o lançamento do alvará online através da Sala do Empreendedor e todo ele poderá ser encaminhado via online na secretaria de Indústria e Comércio. Essa informatização tem que ser tratada de forma muito natural pra desburocratizar e aí, sim, entra a redução no número de pessoas.

O senhor ficou em segundo lugar na eleição pra prefeito nesse ano. Podemos esperar ver a figura do Kadu em novas eleições no futuro?
Esse momento, agora, é de descanso. O Kadu vai descansar com a família. Quero ficar muito com eles e voltar à minha atividade na iniciativa privada, que é na área de comércio exterior. Mas 9.190 pessoas acreditaram na proposta do Kadu, na pessoa do Kadu e na companhia da Josi Paz. Então, eu não posso, talvez de forma simples, dizer que não vou mais. Quem sabe, no futuro, a gente não possa estar participando de algum pleito pra algum cargo eletivo e tentar devolver a essas pessoas que acreditaram no Kadu, algo de melhor!?

Pra finalizar, qual tem sido a sensação de ir trabalhar no Palácio Rio Branco nesses últimos dias?
No domingo, dia 15 de novembro, saiu o resultado da eleição e é claro que a gente fica chateado, porque se a gente vai participar de alguma coisa, tu vai pra ganhar. Participar por participar não é o Kadu. Não deu resultado e, na segunda-feira, eu chamei todos os meus secretários à tarde e disse: o nosso compromisso com Montenegro é até 31 de dezembro. Eu mantive a mesma velocidade de trabalho, eu mantive o mesmo compromisso sabendo que a minha função como prefeito termina a meia noite e meu compromisso é até a meia noite. Eu mantive a mesma rotina, os mesmos horários; em nenhum momento desacreditando que eu não poderia fazer o meu melhor. Em nenhum momento, ter perdido a eleição, me desmotivou. Eu saio de cabeça erguida e torcendo pra que Gustavo e Cristiano também façam o seu melhor por Montenegro.

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