Transplantados enfrentam a falta de oportunidades

Gustavo Henz tem 21 anos, passou por um transplante de rim e agora tem dificuldade de iniciar a carreira profissional

Imagine-se passar toda uma vida de restrições, desde a alimentação até locais e atividades. Desde criança, tudo foi regrado para Gustavo André Henz, hoje com 21 anos. Isso porque ele nasceu com uma insuficiência renal crônica. O rim direito tinha uma capacidade funcional de 8,6 % e o esquerdo não funcionava. Assim, foi se mantendo entre altos e baixos.

Adolescente que gostava de carros, Gustavo estudou chapeação e até chegou a trabalhar um tempo com um amigo da família nesta área. Em 2015, deixou um trabalho onde a remuneração era boa para atuar nisso, que era o que realmente gostava. “Saí de lá para ganhar a metade só pra fazer o que gostava”, conta o jovem. Mas logo teve que abandonar o trabalho em função da saúde debilitada.

Em 2016, a saúde ficou ainda mais frágil. A necessidade de realizar um transplante se tornou imediata. Incansavelmente, a família começou a procurar por um doador compatível, “que tinha de ser um parente de até terceiro grau”, explica Isabel Henz, mãe de Gustavo. Aos poucos, um a um os familiares foram sendo descartados por incompatibilidade.

Isabel até se lembrou do irmão, que ainda era criança quando disse que iria doar o rim ao sobrinho, mas ela imaginou que ele não poderia ser. “Na consulta a que fui em janeiro, até comentei para o médico que não tinha um doador. Falei: ‘só se poderia mudar o fator Rh do meu irmão’. O médico perguntou por que e falei que ele é O. Ele disse que isso não interferia e aí liguei pro meu irmão pra saber se ele ainda queria doar. Ele disse, ‘lógico’”, conta Isabel.

Em fevereiro do ano passado, após cinco horas de cirurgia, Gustavo estava com o novo rim.
Agora, depois de 20 anos de restrições, transplante e uma longa recuperação, parecia que tudo ia se encaminhar. Jovem, cheio de expectativas e vontade de ter crescimento profissional, Gustavo se lançou ao mercado de trabalho, mas não imaginava o que ainda iria encontrar: a dificuldade de se inserir.

A procura por um espaço
Estudante do curso técnico de Farmácia, Gustavo ainda pretende fazer uma graduação em Administração e seu sonho é conquistar uma vaga que ofereça reconhecimento profissional. Hoje, o jovem trabalha na área da saúde, mas, pela imunidade baixa, fica exposto a doenças. Desde que iniciou, já teve três infecções.

“Minha meta é chegar em uma empresa que produz máquinas agrícolas, justamente pelas oportunidades de crescimento que eles oferecem”, conta.

NEFROLOGISTA Tatiana Michelon

A preocupação do jovem e da família não é só com ele. Existe um grande bloqueio na hora de pessoas transplantadas conseguirem um emprego. “Temos restrições, precisamos evitar algumas áreas, mas isso não impede de mostrar que temos capacidade de ser bons profissionais”, argumenta.

Para Isabel, a dificuldade que Gustavo enfrenta agora é uma realidade para muitos outros. “Passamos por tudo isso, mas quantos mais passaram e agora têm a oportunidade de viver, de começar e não se tem porta aberta para eles?”, questiona.

O pedido dela não é só pelo filho, jovem e motivado, mas por todos os pacientes que passam por um transplante e precisam começar do zero a vida e a carreira. “Parti de um caso particular, do meu filho, por ver todo o sofrimento e frustração dele em não ser acolhido pela sociedade, mas com isto quero abrir caminho para os que passam pelo o que ele está passando e que os futuros transplantados encontrem as portas abertas”.

SAIBA MAIS
– Em 2016, o Brasil realizou 27,9 mil transplantes de rim.
– O Rio Grande do Sul é o quarto estado em número absoluto, mas o segundo em número de transplantes por milhão de habitantes.
– Em Montenegro, de 2000 a 2017, 74 pacientes foram transplantados. Apenas em neste foram quatro.

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