Caminhada em busca da Macela foi longa e frustrante pelo interior de Montenegro
A tradicional colheita da Macela (ou Marcela) na manhã de Sexta-feira Santa foi muito mais difícil esse ano, ao menos para os montenegrinos. Muita gente saiu de casa antes mesmo de o sol nascer, em busca das pequenas flores douradas, mas elas quase não foram encontradas pelo interior da região.
Morador da Vendinha, Alberi Pedrão, de 77 anos, conta que todos os anos sai na manhã da Sexta-feira da Paixão de Cristo para colher a flor. “Ano passado estava cheio aqui nessa estrada”, conta, apontando uma pequena rua ao lado. “Esse foi o primeiro ano que negou”, revela, após ter caminhado mais de uma hora em busca do chá sem encontrar um ramo sequer.
Ele acredita que esse pode ser um sinal de que a tradição esteja chegando ao fim. “Eu leio a bíblia e, quem lê, sabe que Ele (Jesus) disse que tudo tem começo, meio e fim”. Alberi reafirma a importância de colher a Macela sempre na manhã de Sexta-feira Santa. “Ela fica abençoada. Você faz chá para dor de estômago, coloca no chimarrão. Pra qualquer coisa”, diz.
Não foi somente na Vendinha que os moradores saíram em busca da planta e voltaram para casa de mãos vazias. Em Santos Reis, uma senhora caminhava pelo campo e também lamentou a falta da Macela. Segundo ela, nunca tinha faltado.
Na Fortaleza, outra senhora também afirmou que, esse ano, não viu uma flor sequer. Em Campo do Meio, Passo da Pimenta, São José do Maratá e tantas outras localidades, também foi possível ver pessoas de mãos vazias procurando pela flor, tida como “um Santo remédio”.
O coordenador da Emater Montenegro, Everaldo Silva, explica que a instabilidade climática pode afetar o ciclo de florada da Macela. O uso de agrotóxicos e a colheita indiscriminada também são citados. “As pessoas não têm a consciência de deixar um pouco, elas colhem a planta inteira e não ficam sementes. A tendência é que seja cada vez mais difícil achar a Macela”.
Presença de Deus
A Macela nasce por conta própria e floresce no período da Quaresma. Segundo o padre Diego Knecht, pároco da Catedral São João Batista, a crença é de que o orvalho da madrugada de Sexta-feira que antecede a Páscoa abençoa essa flor, e faz com que ela seja capaz de curar muitas coisas. “Que esta planta pode fazer milagres”, explica.
Chamada também de “Chá de Sexta-feira Santa”, a Macela é indicada para problemas estomacais, dores de cabeça, diarréias, cólicas, azia, além de ser conhecida pelo efeito calmante.
A tradição pede que os feixes da flor sejam deixados na cozinha, onde ocorre o encontro das famílias. “É um sinal de bênção, assim como os ramos que são abençoados no Domingo de Ramos e também são colocados na sala como sinal da presença de Deus naquele lugar. O chá da Macela colhida na Sexta-feira Santa também tem esse significado de ser um sinal da presença de Deus, que dá vida, às pessoas que dele beberem ou que olharem os ramalhetes, onde eles estiverem colocados”, afirma o padre Diego.