Trabalhadoras rurais demonstram espírito de luta por direitos do 8 de Março

Dia da Mulher. Agricultoras da região participaram de evento que iniciou com manifestação em Bom Princípio

Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher. A data foi criada com o objetivo de relembrar as lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres ao longo da história em todo o globo. Nesta sexta-feira, foi a vez das trabalhadoras rurais do Vale do Caí retomarem esse espírito de luta ao participarem de uma mobilização pelo seu dia e contra a proposta de Reforma da Previdência apresentada pelo presidente Jair Messias Bolsonaro.

A ação, organizada pela Regional do Vale do Caí da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Featg/RS), teve como principal alvo a proposta de aumentar de 55 para 60 anos a idade mínima para a aposentadoria das trabalhadoras rurais. Além da mobilização – que contou com caminhada pela ERS-122, em Bom Princípio –, as mulheres que participaram do evento também passaram uma tarde cheia de atividades, como palestras, baile e homenagem a ícone do movimento sindical Maria Helena Baumgarten, falecida em outubro do ano passado. Ela foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Feliz, ocupou também cargos na diretoria da Fetag/RS e é tida como uma das precursoras da inserção da mulher trabalhadora rural no Movimento Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais (MSTTR).

“O 8 de Março começou com luta e, esse ano, a gente permanece nessa luta. O lema que a gente tem é ‘Nenhum direito a menos’”, destacou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brochier, Marlise Keller. A agricultora disse ver com preocupação a possibilidade de que ocorra êxodo rural se for mantida a proposta de aumentar a idade mínima para aposentadoria da trabalhadora do campo para 60 anos. “Existem municípios onde há muitos homens permanecendo (no campo) e as mulheres estão indo embora e isso nós não gostaríamos que continuasse acontecendo”, afirmou.

Para Marlise, a idade já prevista não pode ser mudada. “Foi baseado em estudos que esse direito foi conquistado”, garantiu. Ela reforçou que a conquista se deu através do esforço de mães e avós que também trabalharam no campo. A presidente do STR de Brochier salientou que muitas agricultoras mantêm uma jornada dupla ao trabalhar na terra e também precisar cuidar dos filhos e afazeres domésticos. “Hoje não existe campo sem mulher”, assegurou.

Também na luta pela permanência do direito já adquirido de poder se aposentar aos 55 anos, a presidente do STR de Montenegro, Maria Regina da Silveira, destacou o espaço cada vez maior que a mulher vem conquistando no campo. Ela observou que na Regional do Vale do Caí são quatro os sindicatos comandados por mulheres. “A gente vem se destacando. Inclusive, numa época difícil”, afirmou ao apontar que muitos homens ainda enxergam com desconfiança a presidência de STRs por mulheres.

Sobre a mobilização no Dia Internacional da Mulher, a agricultora garantiu que o objetivo das mulheres do campo é continuar lutando para que seja mantida a idade mínima de 55 anos para a aposentadoria de mulheres trabalhadoras rurais e de 60 para os homens que trabalham no campo. “Hoje, a mulher tem idade (para se aposentar), mas não tem qualidade de vida. Ela precisa ter a aposentadoria com qualidade de vida ainda”, defendeu.

Jovens agricultoras também se mobilizaram
A mobilização, que iniciou com a passeata pela ERS-122, contou com forte presença do público feminino – a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), que acompanhou a mobilização, estimou que mais ou menos 500 pessoas participaram do momento – e não apenas de mulheres que estão próximas da idade de se aposentar, mas de trabalhadoras e trabalhadores já aposentados que se colocaram na luta para que outras tenham o mesmo direito que o seu de se aposentar aos 55 anos e de jovens trabalhadoras rurais. A coordenadora de jovens da Regional do Vale do Caí, Jaciara Maria Müller, lembrou que a luta da mulher do campo já vem de muito tempo e se mantém em tempos de dificuldade.

Produtora rural de Linha Catarina, no interior de Montenegro, Jaciara diz que fez um alerta aos jovens ao convidá-los para participar da mobilização. “Eu disse para eles: ‘independente de sermos ou não jovens, um dia a gente vai querer se aposentar e, pelo jeito que está, quando vê a gente nem consegue mais esse direito que é nosso’”, revelou. Ela salientou que acredita que se não fosse pelas manifestações ocorridas em outros momentos, os produtores rurais teriam perdido outros direitos.

Jaciara questionou ainda os motivos para se mexer na idade mínina para a aposentadoria da mulher trabalhadora do campo. “Por que não mexer em algo que vai dar lucro para ajudar a pagar todas as dívidas que o nosso País tem? Porque não são os agricultores (o problema)”, comentou. Ela salientou ainda que o agricultor possui uma carga horária bastante pesada e que sofre preconceito. “Se você parar para pensar, os agricultores são os mais criticados, os menos admirados e os que mais trabalham”, assinalou.

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