Investigação. Delegado enviou inquérito à Promotoria, que promete prioridade na análise
Daqui a um mês, no dia 24 de julho, completa um ano do assassinato da agente de saúde de Capela de Santana Thaiane de Oliveira, de 29 anos. Ela foi morta em uma casa no bairro Arrozeira, onde morou com o marido Perci Brietzke, policial militar, por apenas três meses. Passados 11 meses do crime, a família da jovem não se conforma com a demora para o esclarecimento da tragédia.
As lembranças de Thaiane estão por toda a parte, na casa da família e também pela cidade. “Onde eu chego o pessoal pergunta como ficou o caso”, diz seu Norberto Cruz de Oliveiro, 60, pai da vítima. A faixa confeccionada para o protesto realizado um mês após a morte da jovem agora está afixada em frente à casa da avó paterna, de onde só deverá sair após o desfecho do caso.
Nessa terça-feira, 23, o delegado responsável pela investigação, Rodrigo Lorenzine Zucco, informou que concluiu o inquérito do caso, mas não quis revelar o que aponta a conclusão da investigação da Polícia Civil. Zucco disse ter encaminhado o inquérito à Promotoria Pública de Portão, e que não daria mais informações sobre o processo. “Agora cabe ao Ministério Público e ao Judiciário se manifestarem. Não estou mais com o inquérito e, por isso, a Lei de Abuso de Autoridade me impede de fazer qualquer comentário”, disse o delegado ao ser questionado sobre a conclusão do inquérito.
O promotor Pietro Chidichimo Júnior, diz que o inquérito foi distribuído no dia 15 de junho, mas não chegou à Promotoria ainda. Ele promete dar prioridade à analise do processo assim que o receber, mas, informa que, antes, o inquérido vai ao Poder Judiciário. A reportagem seguirá acompanhando o caso. O advogado de Perci Brietzke disse que seu cliente não tem interesse em se pronunciar.
“Pensamos em mudar daqui”
A casa onde Thaiane viveu praticamente a vida toda ainda é cuidada pelos pais, como se ela um dia fosse voltar. Depois do assassinato, dona Geneci pegou os móveis e objetos da filha, que estavam na residência onde ocorreu o crime, e remontou o “cantinho” de Thaiane.
Na sala, fotos, livros e a coleção de DVDs da jovem mostram o quanto era organizada. Há alguns dias, ao arrumar as roupas da filha dona Geneci foi surpreendida ao encontrar um pequeno enxoval de bebê. “Ela queria muito ser mãe. Acho que estava nos planos dela logo ter um filho”, comenta a senhora.
Seu Norberto olha para os objetos da filha com olhar de profunda saudade. Sentimento esse que não dá trégua, pois para onde quer que olhem há vestígios da jovem. “Pensamos em vender tudo e se mudar daqui”, conta o pai, emocionado. Contudo, ainda falta coragem para abandonar o local onde as filhas cresceram.
O drama da família que aguarda repostas
Desde que Thaiane morreu, a família busca força para apoiar uns aos outros. Thaiane há anos dizia que o pai deveria se aposentar para aproveitar mais a vida, mas seu Norberto só parou de trabalhar depois da partida da filha. Isso porque ele percebeu a necessidade de ficar mais tempo em casa, com a esposa, dona Geneci de Oliveira, 59.
Inconsolável, Geneci começou a apresentar complicações de saúde após a morte de Thaiane. Nos momentos de desespero, dona Geneci conta que pensava: “Quanto mais cedo eu for, mais cedo encontro com ela”. Contudo, a filha mais nova, Gabriela de Oliveira, de 21 anos, foi o motivo que deu forças para que os pais reagissem. Na casa, um apoia o outro.
Dona Geneci acredita que a dor pela perda da filha mais velha só será amenizada quando ficar comprovado o que realmente houve na noite do crime. “Dói a perda dela e saber que ele está solto, que nada aconteceu com ele. Ele matou e ficou por isso mesmo”, desabafa a dona de casa. “Ele tirou nossa filha, estragou nossas vidas, mas a vida dele está boa, né. Está trabalhando e anda solto por aí”.
Relembre o caso
Thaiane de Oliveira foi atingida no peito por um disparo de arma de fogo efetuado pelo próprio companheiro, durante a madrugada de 24 de julho de 2019. O crime ocorreu em Capela de Santana. O marido de Thaiane, que é policial militar, teria dito, em depoimento informal aos colegas que lhes prestaram socorro, que confundiu a mulher com um invasor.
Naquela noite, a energia elétrica do imóvel estaria desligada para evitar riscos com raios, já que havia instabilidade climática. Ao ver um vulto, o homem teria falado algo, mas como a pessoa não disse nada, ele acabou atirando, e acertou o peito de Thaiane de forma fatal.
Thaiane faleceu logo em seguida. O companheiro foi encaminhado para atendimento médico, por ter entrado em surto.