Tragédia Sete anos depois, Maratá volta a registrar morte por afogamento
Depois de quase sete anos sem registrar mortes por afogamento, o Parque da Cascata da Vitória, em Maratá, foi palco para o óbito do jovem Samuel Leandro Schwingel, de 28 anos. A tragédia ocorreu no final da tarde dessa quarta-feira, 6, quando ele e amigos se banhavam no local. Segundo testemunha, Samuel se arriscou ao ultrapassar o limite estabelecido para área de banho. A Administração Pública de Maratá afirma que as orientações de segurança aos visitantes são dadas desde a entrada no Parque. Samuel teria ignorado os avisos do ecônomo do local. Essa é a 5ª morte registrada por afogamento na região desde o dia 15 de dezembro.
Samuel Leandro era morador de Lajeado, solteiro, e pelo que mostra o seu perfil no Facebook, adorava ter contato com as águas. Em uma de suas fotos, a vítima aparece mergulhando. Nessa quarta-feira, o local escolhido para passear com amigos foi Maratá. Mas ao se arriscar na cascata não teve a correnteza a seu favor e acabou perdendo a vida.
Segundo o comandante dos Bombeiros Militares de Montenegro, sargento Ângelo de Lima, a vítima se afogou por volta das 18h. Cinco bombeiros participaram das buscas, que usaram caícos e garateia para localizar o corpo. O resgate se deu por volta das 20h20min. O cadáver foi encaminhado ao Departamento Médico Legal de Lajeado.
Douglas Modzelan, de 29 anos, morador de Brochier, testemunhou o acidente. Ele estava no parque fazendo um vídeo para seu canal no YouTube e acabou registrando, sem querer, o momento do afogamento. “A parte da filmagem eu já tinha feito. Estava tirando fotos e foi nesse momento que a minha mãe gritou que ele não estava brincando, estava se afogando atrás de mim. No que eu olhei, ele já tinha afundado”, detalha.
Douglas afirma que ouviu o ecônomo dizer várias vezes ao grupo que não deveriam ultrapassar a boia, mas os avisos foram ignorados. “Durante todo o tempo em que eu estava filmando, o ecônomo do parque de tempo em tempo orientava o pessoal, que estava bebendo lá, pra que não entrasse na água e, se entrasse, não passasse dos limites da boia”, conta. “Eu entrei na água, o limite da boia é suficiente para tomar um banho tranquilo. Eu tenho 1.80m e estava em pé no limite da corda com a água no pescoço. Já o limite da boia é muito fundo”.
A testemunha relata que não foi possível fazer nada pela vítima, pois estava distante demais. “O cara afundou no meio daquela água e eu não pude fazer nada”, lembra. Douglas acredita que os próprios amigos de Samuel teriam achado que ele estava brincando e afirma que o grande erro foi não terem dado atenção aos regulamentos do Parque. “Não seguir regras foi o que ocasionou a morte do cara, que tinha praticamente a minha idade. O povo precisa ter respeito a leis e regras. Foi uma imprudência”, opina.
Lucas Pacheco era amigo próximo e “parceiro de praia” de Samuel. Juntos eles aproveitavam locais de banho como o Parque da Cascata Vitória para se refrescar e divertir. “O ano que nos prometia (ser positivo), começou com muitas tristezas com o falecimento do nosso amigo. Ele vai deixar uma saudade eterna”, diz o rapaz. Em seu perfil no Facebook, Marli Schwingel, tia de Samuel, desabafou sobre a perda. “Fará muita falta para todos nós. Meu querido sobrinho foi ao encontro de Deus”, disse.
A morte de Samuel aumenta para cinco os casos de afogamentos registrados na região em cerca de 20 dias. E levanta o alerta para os riscos que banhos em rios e cachoeiras oferecem.
Sete anos sem afogamentos
A última morte registrada numa cascata em Maratá foi no dia 2 de fevereiro de 2014, quando Leonardo André Gerhardt, o “Tinho”, perdeu a vida nas águas do Parque da Cachoeira Maratá. O morador de Campo do Meio, interior de Montenegro, saiu de casa sozinho e desapareceu.
Familiares estranharam que, a noite, Leonardo não havia retornado e não respondia às ligações no celular. Então foram até o parque e encontraram a moto Honda Biz, com capacete, telefone, carteira, tênis e camiseta trancados no baú. O corpo apareceu por volta das 20h, boiando.
O ônus de descumprir as regras
A prefeita de Maratá Gisele Adriana Schneider assegura que a Administração Municipal tem feito a sua parte no intuito de evitar acidentes nos parques da cidade. Os locais são gerenciados por ecônomos e a prefeitura é encarregada por fiscalizar se as regras estabelecidas para funcionamento estão sendo cumpridas.
Conforme a prefeita, já na entrada do parque os visitantes recebem um tíquete e um folder com orientações para terem uma estada segura no local. Ao longo do balneário existem placas informativas e, na água há uma corda com boias demarcando o limite da área para banho. Além disso, durante os finais de semana e feriados existem salva-vidas contratados. Durante a semana os banhos são proibidos.
“Administração vem criando vários regramentos para reduzir essas fatalidades, e conseguimos realmente manter por sete anos esse resultado. O município de Maratá lamenta muito e se solidariza com a família desse jovem, mas são fatalidades. A gente tem várias regras que são disponíveis aos visitantes orientando sobre diversas situações, principalmente para evitar que esse tipo de situação aconteça”, diz a gestora do município.
Para Gisele, o acidente poderia ter sido evitado se o jovem tivesse seguido as normas estabelecidas para o local. “O ecônomo informou que havia orientado, verbalmente, várias vezes, o grupo. O afogamento ocorreu cerca de 10 metros da área demarcada para banho. O jovem assumiu o risco contra a própria vida”, avalia. O ecônomo não se manifestou sobre o caso.
Mortes por afogamento na região
O primeiro óbito por afogamento, neste Verão na região do Vale do Caí, ocorreu nas águas do Rio Caí no dia 15, em um balneário na cidade de Harmonia. Fernando José Lenhardt, de 56 anos, foi a primeira vítima. No dia 20, Douglas Pires, de 25 anos, perdeu a vida na localidade de Picada Cará, na Feliz. Já no dia de celebrar o nascimento de Cristo, foi a vez da família de Jandir Rodrigues sofrer a angústia de ver seu ente desaparecer nas águas do manancial.No último dia do ano, 31, Leonardo da Silva Trindade, de 19 anos, morador da cidade de Antônio Prado, morreu vítima de afogamento nas águas do Rio Caí, em Vale Real.