Capitão Aguirre. Montenegrino faz do barco J.L. seu novo propósito de vida
A ligação das comunidades do Vale com o Rio Caí é muito profunda. Fonte de vida e caminho para viagens, agora também palco de esporte e lazer. Uma beleza bucólica, que no Porto das Laranjeiras é colorida pelos barcos atracados nas duas margens (de um lado, Montenegro; do outro, Capela de Santana). Entre estes apreciadores da vida embarcada está Miguel Saldanha Aguirre, capitão do barco J.L.
Mas, antes de tudo, é bom salientar que o montenegrino de 69 anos mantém (pelo tempo necessário) seus pés em terra firme, com casa na área central. O barco é uma paixão, concretizada pouco antes de sua aposentadoria como inspetor federal em agricultura. “A gente passa o tempo de lazer aqui”, resumiu. Amigos não faltam a bordo, mas a maior parceria é a esposa, Marlene Ribeiro Almeida.
Um fato curioso a respeito do capitão Aguirre, é que sua infância foi mais ligada à segurança do trem e seu traçado de ferro sobre a terra. O pai, Justino Aguirre, foi da viação férrea. Sua família foi de ferroviários. Nada que tenha afastado o menino do movimentado porto de Montenegro, com cargas indo e vindo, e pessoas se despedindo. “Tinha transporte de passageiros para Porto Alegre”, recorda.
Uma nostalgia que ao longo dos anos criou o encantamento por barcos, que via em fotos e desejava ter. Hoje já são 15 anos de sociedade com o amigo João Carlos Silva, 70 anos, colecionando aventuras e histórias de pescador. “Vivo mais no barco do que em terra firme”, confessa o capitão, que faz do tombadilho ponto de encontro e salão de festa. Nunca foi por dinheiro! Os sócios não alugam para excursões. É apenas curtir o balanço do Rio Caí, suas margens verdes e a fauna que resta.
Aventuras em águas gaúchas
O barco J.L. tem calado de 1,20 metros, impulsionado por motor de carreta. O mais longe que o capitão já levou sua tripulação foi ao município de São Lourenço, perto de Rio Grande, na Costa Doce. Este trajeto impõe o desafio de navegar pela Lagoa dos Patos, o “Mar de Dentro”, com suas ondas e ventos.
Também desbrava o Rio Jacuí, irmão do Caí. Neste, seu porto seguro é a cidade de Santo Amaro, uma das poucas que ainda realiza procissão fluvial à Nossa Senhora dos Navegantes. “Lá tive a honra de levar a Santa no meu barco”, recorda.
Quanto ao sentimento de morar em um barco, em especial de dormir embalado pelo rio, o capitão Aguirre resume em “sensação de liberdade”. Sua esposa levou um pouco de tempo, mas foi conquistada pela vida no barco. Ela descreve a sensação de acordar com o canto de vários pássaros e de abrir a posta e encontrar o sol, suavemente, iluminando o rio serpenteado. “Gosto muito de ficar aqui. É a melhor terapia que encontrei”, declara.
O capitão do J.L. descreve essa vida como “estar no paraíso”. E o montenegrino que nasceu em 29 de setembro, Dia de São Miguel, na época das cheias, encontrou no Rio sua paz interior. “Aqui, pescando, esquece-se do mundo agitado”.