Inflação. Com a atual política de preços da Petrobras, sofre o consumidor e também sofrem os donos de postos
Ao fixar seu preço de venda às distribuidoras em R$ 2,2069 para a Gasolina e R$ 2,2964 para o Diesel, a Petrobras alcançou neste dia 6 de setembro de 2018 o maior preço de sua história. É lógico que essa política de preços afeta a população de muitas formas, ainda que nem tudo tenha sido repassado imediatamente pelo comércio varejista. Assim, ao contrário do coletivo popular, os donos de postos não estão enriquecendo; ao contrário, eles vêem suas vendas cair.
Na tarde desta quarta-feira, dia 5, alguns estabelecimentos de Montenegro ainda não haviam atualizado seus valores nas bombas. “Tem aumento todos os dias, mas não repasso sempre”, declarou Diego Weber, do Ipiranga da rua Osvaldo Aranha. Na terça-feira, ele recebeu um caminhão tanque com aumento de 5 centavos na nota fiscal. Agora, ele vai observar a postura da concorrência local para definir seu repasse ao consumidor.
O gerente confirma que essa situação não beneficia em nada aos comerciantes. Inclusive, há dois anos, o posto observa uma queda gradual nas vendas, com motoristas abastecendo somente o necessário para rodar na cidade ou reduzindo o uso do carro. “Todos estão procurando alternativas, como a bicicleta”, comenta. Ele ilustra a declaração, recordando que, em setembro de 2017, seu valor de bomba estava entre 15 e 20% mais barato.
Já o salário de seus clientes neste um ano não teve reposição no mesmo nível. Outra preocupação do mercado é com o Diesel, que simplesmente disparou após o fim do acordo com os caminhoneiros. Tanto, que nesta semana já retornou ao mesmo preço por litro que estava na véspera da greve de maio. No site da Petrobras, é possível confirmar que em 30 de agosto o valor às distribuidoras era R$ 2,0316. No dia 31, saltou para R$ 2,2964, um aumento de 26 centavos em 24 horas. A reportagem pesquisou os preços em alguns estabelecimentos do município.
Sulpetro avalia que momento atual é muito difícil
O presidente do Sulpetro, João Carlos Dal’Aqua, alerta para uma crise no setor. Ele explica que o cálculo do valor que chega aos varejistas é composto pelo preço da Petrobras e pelo custo de produção nas refinarias. Depois, soma-se ainda a margem de lucro e os custos das distribuidoras, entre os quais a adição de 27% de Álcool Anidro a Gasolina pura (A) que adquirem. E essa é uma despesa elevada, pois não há refinarias de Anidro no Rio Grande do Sul.
Dal’Aqua observa ainda que no estado gaúcho há 50% de carga tributária – estadual e federal – no preço final; sendo que apenas um terço dele é custo de produção ou importação da estatal. “Sobra para o posto em torno de uns 2% de margem líquida do faturamento total”, revela.
O presidente do sindicato dos postos reclama que os preços alteram “toda hora”, seguindo cotação internacional do Dólar. “Está muito difícil a vida dos postos hoje. O custo está alto para o consumidor e para o posto”, critica.
Ele reitera que não há interesse algum dos varejistas no preço alto, pois isso afasta o consumidor. Tudo tem culminado na mudança de perfil dos estabelecimentos, que se transformaram em postos de serviços – com lavagem, estacionamento, lancheria, conveniência – que também vende gasolina. “Não pode mais depender só de combustível”, avalia.
Postos do interior sofrem com a política de preços
A variação é de 16 centavos na Gasolina, 3 centavos no Etanol e 22 centavos no Diesel. O comerciante Fernando Reidel, que tem o Charrua na Costa da Serra, ontem não achava prático informar preços, pois receberá carga hoje. “Nem tem como dar um preço. Amanhã vai ser outro certo”, declarou.
Ele recordou inclusive que a lei impede repassar reajuste enquanto ainda houver estoque antigo nos tanques. Ele recorda que o Diesel de sua distribuidora subiu 26 centavos nos últimos dias, mas optou por repassar apenas 24 na bomba. Reidel comenta que todos pensam que os comerciantes ganham muito, mas a realidade é bem distante.
Antigamente, para cobrir impostos e encargos, ele teria que ter lucro aproximado de 50 centavos por litro de Gasolina e 30 de Diesel. Hoje, mesmo com aumento em todos esses custos, os postos não tiram nem perto desta margem de lucro projetada. “Essa política de preços com nós, donos de postos pequenos do interior, vai quebrar nós todos. Desanima”, afirma.