Hi-tech.Citricultura gaúcha implanta rastreabilidade para potencializar produtividade
O tablet ao lado do trator não é novidade nas lavouras. Mas, aqui no Vale do Caí essa inovação começa a ser implantada apenas agora, através da parceria entre a startup gaúcha Elysios Agricultura Inteligente e a empresa BioCitrus, principal produtora de óleos essenciais e expoente na produção de sucos concentrados. O projeto Caderno de Campo Digital foi implantado no último mês, com um workshop na sede da empresa em Montenegro.
Os agricultores e administradores de ‘packing house’ começaram a conhecer o APP Demetra Produtor, suas possibilidades de tarefas monitoradas, ferramentas de gestão e formas de operação. Michel Ricardo Kussler, gerente de matéria-prima da BioCitrus, explica que foi lançado o projeto-piloto com 11 clientes, mas a projeção é de impactar 60 produtores no Rio Grande do Sul, em um prazo total de até cinco anos.
Os fornecedores não terão custo e obrigação de aderir; sendo que a empresa foca nos maiores e principais fornecedores para trabalharem com o aplicativo. “É um recurso que está disponível” salienta. O Caderno Digital traz vantagens como rapidez, precisão e segurança do arquivamento do relatório de tarefas na ‘nuvem’ no relatório. Kussler condensa tudo na criação deste relatório, que será o documento oficial da rastreabilidade das frutas. Essa é uma exigência em lei para transporte e venda fora do Rio Grande do Sul, e que logo deve ser obrigatório também dentro do Estado.
Inclusive a motivação da BioCitrus para criar o projeto com a Elysios foi a garantia de certificação de origem e qualidade através deste histórico que vai do plantio ao embarque. Isso porque, ainda que a lei seja específica à fruta de mesa, o mercado alimentício tem cobrado das indústrias esta ferramenta de segurança e qualidade. Os compradores querem saber de onde vêm as frutas usadas no suco ou óleo de essência. A rastreabilidade gera segurança para a cadeia produtiva, e auxilia na abertura de mercado para a indústria e o produtor.
Registro diário das atividades
O aplicativo Demetra Produtor foi apresentado pela equipe da Elysios, dentre os quais o líder de agronomia Fernando Rauber foi um dos precursores. Seu colega Mário Apollo, Líder do Sucesso do Cliente, explicou que uma startup surge da necessidade de ‘dirimir a dor’ de um setor. Pois a empresa de Rauber precisava de uma estufa inteligente para produção de tomates, com controle autônomo de clima e irrigação.
O APP que surgiu deste ‘case’ evoluiu para um Caderno de Campo Digital, após interação com os vitivinicultores da Serra. Rauber salienta esta característica no desenvolvimento da solução, que ocorreu quase inteiramente no campo observando a rotina do agricultor. A teoria é muito simples, sendo este um sistema de tecnologia para gestão apoiado no tripé controle, sensoriamento e automação da pequena e média propriedade.
“Deixamos o mais simples e intuitivo”, afirmou, ao recorda que a tradicional caderneta de papel foi inspiração. O APP permite inclusive que o usuário renomeie links e ferramentas usando termos de seu cotidiano. Com seu pomar nomeado em lotes, diariamente, lá no campo mesmo, pois não precisa estar online, com um toque na tela registrará cada operação: plantio, poda, raleio, aplicação de agrotóxico.
O Demetrea permite ainda um diagnóstico da produção, pois o relatório gerado especifica dia, hora, localização e clima. Tudo incluso no documento de rastreabilidade. Apollo afirma que com esta atitude pioneira, a citricultura gaúcha ingressa na Agricultura 4.0. Ele recorda que o mundo adotou o controle de origem, então o produto brasileiro só tem a ganhar em confiança e, consequente, valorização de preço.
Usuários acharam o APP fácil de usar
Todo primeiro contato com novidade pede uma interação cuidadosa, mesmo que a navegação do APP da Elysios seja fácil, como referiu Fabiano Gustavo Viegas, 33 anos. Associado com sua mãe, ele cultiva 30 hectares de bergamotas no Calafate, e está empolgado com o fator agilidade. Ele usa o caderno físico, mas confessa que tinha o hábito de não registrar na hora, e depois se esquecia de alguma atividade. Isso gerava desperdícios, como uma aplicação dupla de agrotóxico. “Assim teremos uma gestão melhor”, enfatiza.
A exigência do mercado quanto a origem do alimento foi salientada por Bruna Roberta Wadenphul, administrativa no Paking Master Citrus, propriedade do montenegrino Márcio Mello, no Faxinal. “A gente não pode mais comprar do produtor que não tem o CFO (Certificado Fitossanitário de Origem)”, afirma. Primeiramente o Demetra será aplicado na relação comercial entre Master Citrus, que também possui pomares, e a BioCitrus. Mas o paking já avalia implantar o Caderno de Campo Digital com seus fornecedores. “Assim podemos fornecer a rastreabilidade”, diz.
