Tatuagem na terceira idade é quebra de preconceitos sociais

Driblando o preconceito, senhoras usam a tatuagem para expressar sentimentos

Ainda hoje, tatuagem é um tema que divide opiniões. Enquanto uns veem os desenhos como obras de arte ou ferramentas de expressão, outros consideram a prática de mau-gosto e chegam a ser preconceituosas com quem se tatua.

As “tattoos” são, ainda, frequentemente associadas a pessoas mais jovens. Quem não apoia a prática chega a perguntar a quem fez: “Como tu faz isso? Já imaginou, daqui a uns anos, tu velho e com esse desenho no corpo?”

Mas tem muita gente mais velha que vai contra essa onda de preconceito e que, mesmo beirando a terceira idade, faz a sua tattoo. Como avalia o tatuador Lius Pereira da Silva, para isso, não existe idade. “A mente só envelhece junto com o corpo se a pessoa quiser”, avalia.

Foi Lius que incentivou a madrasta Sirlei Viegas a fazer a primeira tatuagem, já aos 59 anos de idade. Aposentada do Estado, Sirlei recorda que brigava com seu filho, quando era mais jovem, pois ele estava se tatuando e ela temia que, por causa dos desenhos, ele teria problemas para conseguir emprego. Com o tempo, essa percepção mudou.

Com os incentivos do enteado, em uma visita a seu estúdio de tattoo, ela viu o desenho de uma pantera, que logo remeteu à sua infância. “Naquela época eu era muito braba. Ainda sou. E o pessoal sempre dizia que eu era igual a uma pantera. Quando eu vi o desenho, eu lembrei daquilo”, recorda. Ela comentou com Lius sobre a lembrança e este, prontamente, se ofereceu para tatuá-la.

Hoje, uma pantera negra fazendo uma escalada acompanha Sirlei por onde ela vai. A tatuagem foi feita em seu braço, em duas etapas. Primeiro vieram os contornos, em um processo que levou cerca de duas horas. Depois, o preenchimento. Nesta etapa, ela conta, entrou no estúdio às 8h e saiu só às 13h. “Tem que ter muita paciência e é bem dolorida. De vez em quando, eu pedia para ele dar uma parada”, conta.

Sobre quem possa vir a ser preconceituoso com a tattoo, Sirlei é categórica: “isso é frescura”. Ela compara a prática com quem faz uma maquiagem definitiva, prática que segue os princípios de uma tatuagem e é tratada normalmente pela população em geral. Quanto a fazer uma nova tatuagem, a aposentada tem cautela. “Outra, só se for com anestesia”, brinca.

Isabel Nis da Rosa avalia que, mesmo que o corpo envelheça, a mentalidade não precisa envelhecer. foto: Acervo Pessoal

“Sempre tem crítica. Eu nem dou bola”
Isabel Nis da Rosa é cuidadora e trabalha com limpeza. Sempre teve vontade de fazer uma tatuagem, mas a coragem só veio quando ela tinha 53 anos. Hoje, ela carrega com orgulho, na perna, um coração em homenagem ao pai e a mãe. “Sempre tem crítica. Acham que porque é velha, não tem que ter. Eu nem dou bola”, conta.

Os pais de Isabel faleceram com 21 dias de diferença entre um e outro. Ele, em dezembro de 2017 e, ela, em janeiro de 2018. A tattoo veio logo depois. “Foi muito triste. Eu sempre quis fazer aquela homenagem com a tatuagem e, quando eu fiz, aquilo ajudou a me sentir melhor”, revela. “Sei que os dois iam gostar. Uma pena que eles não chegaram a ver.”

A tatuagem tem as iniciais J, de João, e L, de Laídes. Isabel admite que chegou a refletir sobre o que as pessoas iriam pensar depois que ela fizesse o desenho, mas logo jogou o pensamento de lado. Os filhos aprovaram a ideia. “O corpo muda quando envelhecemos, mas, se a cabeça está boa, tu vai seguir pensando como se tivesse com 18, 20 anos. Vai ser a mesma coisa”, pondera. Ela afirma que faria outra tattoo. Um passarinho, ou uma flor. Ainda não se decidiu.

Na perna, a tatuagem de Isabel é uma bela homenagem aos pais. foto: Acervo Pessoal

Maiores cuidados com tattoos em idosos
Perto dos 60 anos, a pele vai perdendo colágeno e outras substâncias, o que compromete sua estruturação e manutenção. De acordo com o portal especializado em tatuagens “Tattoo Cursos”, a fragilidade da pele pode ser um obstáculo na aplicação da tattoo e, por isso, é preciso mais cuidado por parte do tatuador, levando em consideração técnicas e produtos que melhor se apliquem a este público.

As pomadas que auxiliam no processo de cicatrização são especialmente indicadas para pessoas nesta idade, pois otimizam o processo. O uso exagerado, no entanto, pode retirar a tinta do desenho. Considerando a fragilidade na pele de pessoas mais idosas, que ficam com o corpo mais ressecado, o uso de sabão antibacteriano e de protetor solar é essencial.

Tão antiga quanto a humanidade
Estudos indicam que a prática da tatuagem não é de hoje. Ela acompanha a história do homem, adquirindo diferentes simbolismos. Foi constatado em múmias egípcias, que teriam vivido entre 2160 e 1994 antes de Cristo, traços na região abdominal que dão indícios que, já no Egito Antigo, as tatuagens tinham relação com a fertilidade.

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