Preconceito. Segundo a consultora Telma Esmerio, não há como definir regra, mas a sociedade julga pela aparência
A tatuagem é um assunto que gera muita polêmica e ainda divide opiniões. As dúvidas são muitas: até que ponto ela influencia na hora da seleção para ingressar no mercado de trabalho? Deve haver um limite na proporção do desenho? É aceitável que algumas empresas ainda tenham preconceito com esse tipo de arte?
Segundo Telma Esmerio, diretora da Acerte Assessoria Empresarial, responsável pelo recrutamento e seleção de candidatos para várias empresas, não existe uma resposta definida. “O que acontece, muitas vezes, é o excesso e, em todas as empresas, existem regras a serem cumpridas. Uma delas é a apresentação pessoal do candidato, de acordo com o perfil do negócio”, aponta.
De fato, não há como determinar se candidatos tatuados serão aceitos no mercado de trabalho. O que se leva em consideração são os valores da empresa, a cultura, se atende a um público específico e se usa uniforme ou não. “Sabemos que as pessoas não querem abrir mão dos seus desejos e individualidades, mas sempre comento que bom senso nessas horas é fundamental”, afirma Telma. “E quem precisa pensar nisso é o profissional que está almejando uma vaga, identificando em qual área irá atuar”, sublinha.
Mesmo que a arte esteja superando a barreira do preconceito e que já não sejam tantos os empregadores que não aceitam candidatos tatuados, é importante lembrar que locais do corpo extremamente evidentes não são indicados para desenhos. Por exemplo, o rosto, pescoço, as mãos e o antebraço. Salvo naquelas empresas que fazem das tatuagens um chamativo para atrair clientes, que são minoria, isso pode ser problema.
Telma tem um desenho na perna direita e conta que, em breve, pretende fazer outro. Quando questionada sobre qual seria o conselho a seu filho se ele quisesse fazer uma, ela responde rápido: “Como direi para ele não fazer se eu mesma tenho? A recomendação que eu darei é a de que tenha cuidado no local onde será feita, porque ficará para sempre no corpo, que não seja tão evidente a ponto de prejudicá-lo de alguma forma”, ressalta. “A tatuagem tem que ter um significado por ser algo que você vai carregar por muitos e muitos anos. E tem que te trazer felicidade, e não tristeza e problemas”, argumenta a consultora.
Jhosy tem seis desenhos “honrados” e à mostra
Jhosy Garcia, professora de Inglês, tem seis tatuagens: no pulso, antebraço, peito, ombro e perna. “Todas bem à mostra”, diz, risonha. “Algumas têm significado, como, por exemplo, as que fiz em homenagem a bandas de que eu gosto muito. Outras fiz apenas porque achei bonitas”, conta.
Ela, felizmente, nunca sofreu nenhum tipo de exclusão nos lugares em que já trabalhou e não tem receio de mostrar os desenhos espalhados pelo seu corpo. “Tatuagem é arte e aparência não define caráter. Políticos, por exemplo, vestem ternos”, observa. “Se a pessoa ‘tá’ satisfeita com seus desenhos, sendo um ou 30, é o que importa”, define a professora.
O papel do tatuador na definição da tattoo
Para o tatuador Tiago Lopes, deve haver um diálogo, sobretudo se o cliente for muito jovem, com 16 ou 17 anos, e quer fazer um desenho muito extravagante. “Acho que, nessa idade, a pessoa não sabe nem o que quer ainda fazer da vida. Então, se for para tatuar, que seja discreto”, propõe.
Tiago diz que há uma série de fatores em que uma tatuagem muito grande implica. “Talvez na hora da entrevista, pelo tamanho do desenho, o empregador nem te avalie direito porque o que vai chamar mais atenção não é o que tu ‘tá’ falando”, aponta.
O tatuador enfatiza que a empresa não deve usar a tatuagem como ferramenta de exclusão, mas deve, sim, haver uma adequação do candidato à vaga. “Eu vejo nas redes sociais reclamações por desemprego, mas daí tu ‘conhece’ a pessoa pessoalmente e ela tem piercing, usa alargador, tem cabelo vermelho. Não combina, sabe?”, pondera. “Se tu não ‘vive’ da arte e não ‘tem’ uma profissão que te permita ser todo tatuado, tem que ser ciente dos desenhos que faz pelo corpo”, salienta.