A noite desta segunda-feira, 21, foi de aprendizado a respeito da existência de racismo, em Montenegro e no Brasil. O doutor em Sociologia Rogério Santos abriu na Estação da Cultura o ciclo de palestras “Me vi Negro”, projeto sociocultural da Cufa Montenegro dentro da Semana da Consciência Negro (Dia 20 de Novembro). O montenegrino falou de suas raízes, a infância em convivência com amigos brancos e as primeiras experiências de discriminação.
Usando como referência o estudo “A História do Negro no Vale do Caí”, apontou o privilégio branco na região, lembrando que os colonizadores europeus da Fazenda Parecy são ricamente recordados nos livros de história, enquanto as pessoas escravizadas quase não recebem reconhecimento. Fez reverência ao seu avô materno Isaías Custódio Flores, filho de pais libertos e que foi alfabetizado, o que lhe rendeu um trabalho na linha férrea e a compra de terra na área central da cidade.
Lembrou com orgulho da avó paterna Philomena dos Santos, filha de pessoas escravizadas e que nasceu dentro da Lei do Ventre Livre. E com orgulho falou dos pais e irmãos, destacando seu pai Domingos do Santos, capitão da Brigada Militar, atleta campeão gaúcho de salto em altura (1943) e jogador de futebol com passagens em clubes como o Brasil de Pelotas, que tem seu nome eternizado no ginásio “Domingão” no Parque Centenário.
Uma estrutura familiar que o colocou no Colégio São João Batista, no Centro, onde era um dos poucos negros. Apesar das amizades e da infância boa, hoje o sociólogo compreende algumas situações do passado. “Eu nunca era escolhido o garotinho da escola”, exemplificou. Santos também recorda de uma mulher branca que sempre perguntava se ele não tinha uma irmã para trabaçhar de doméstica em sua casa.
Entre essas recordações está quando foi desperto para o racismo, um ato de ensinamento e respeito da saudosa professora Márcia Rígon, após ser chamado por colegas do Colégio São João Batista de “Kunta Kinte’. Ela lhe explicou que aquele era o nome de um rei africano que não permitiu ser escravizado; e depois entregou a Santos o livro Raízes. Ao longo de mais de duas horas de palestra recordou das piadas feitas com negros, e dos tratamentos que ainda se perpetuam em locais públicos, como comércio e clubes.
Uma recordação que lhe dói muito foi ter vencido um concurso de redação na escola para ir à recepção ao Papa João Paulo II em Porto Alegre. Então um pai de outro aluno, membro da Diocese, se manifestou, não achando adequado um menino negro representar Montenegro. Mas os religiosos mantiveram Rogério na comitiva, que acabou abraçado pelo Sumo Pontífice na chegada à Rótula do Papa, sendo televisionado para o mundo.
Estes relatos e o debate a respeito do racismo no Brasil, a contribuição dos negros ao país e o guerreiro Zumbi dos Palmares serão levados as escolas. O ciclo “Me Vi Negro” é uma promoção da Cufa (Central Única das Favelas) e Frente Nacional Antiracismo, com apoio da Prefeitura Municipal de Montenegro, em contrapartida ao incentivo através da Lei Aldir Blanc.
Ciclo de palestras da Cufa
Dia 22 – 13 horas
Local: Emef Professora Maria Josephina Alves de Oliveira
Dia 23 – 9h30min e 13h30min
Local: Escola Estadual Jorge Moojen