Sociedade Beneficente Espiritualista: 60 anos em prol das crianças desamparadas

Anita Harres Ferraz. Foto: Arquivo pessoal

Instituição completa mais um ano de atenção às famílias em situação de vulnerabilidade

Hoje é um dia especial para a Sociedade Beneficente Espiritualista (SBE), mais conhecida como Lar do Menor. Isso porque no dia 8 de dezembro de 1960, há exatos 60 anos, Anita Harres Ferraz, com 53 anos na época, se uniu a um grupo de senhoras seguidoras da doutrina espírita com o intuito de auxiliar crianças de diversas idades moradoras do então chamado “Morro da Favela”, que se encontravam em situação de vulnerabilidade. Foi aí que surgiu a SBE, hoje de aniversário!

Após toda a criação da Sociedade, o maior desafio era erguer um prédio para atender os pequenos. Foi em 1962 que os envolvidos na instituição, principalmente a primeira presidente, Anita, conseguiram com que a Prefeitura da época doasse o terreno, localizado na rua Bruno de Andrade, à causa. “A partir daí, os recursos para a construção do prédio vieram de várias fontes, como associados, doadores, promoção de eventos e também o Governo do Estado”, pontua Josenia Flores Cruz, diretora executiva da SBE desde 2011. Naquele momento, o prédio foi erguido com muito sacrifício e esforço de todos.

Mesmo sem estar plenamente construído, o Lar do Menor já iniciou com atendimento às crianças, sendo a primeira creche de Montenegro. Em princípio, iniciou atendendo crianças até os 12 anos de idade. Hoje em dia, contando com o Abrigo Menino Jesus de Praga, atende público até os 18 anos. O tempo se passou e o trabalho de assistência às crianças desamparadas tomou maiores proporções.

Josenia relata que nesses 60 anos de existência, a SBE contou com 11 presidentes. “Eles se doaram para que a entidade pudesse existir até hoje”, pontua. Hoje, todo o trabalho é desenvolvido com a colaboração de aproximadamente 200 funcionários.

A segunda UEI é a Cleo Heller. O nome vem da primeira dama do município que sempre se envolveu nas questões do Lar. Seu funcionamento iniciou em 1979 e hoje se localiza na rua Jacob Müller, 19, no bairro Panorama.

As seis instituições da SBE
Ao longo dos anos, a Sociedade Beneficente Espiritualista não parou de crescer e trabalhar em benefício das crianças desamparadas. É por isso que atualmente conta com cinco Unidades de Educação Infantil (UEI) e ainda um Abrigo, o Menino Jesus de Praga. Josenia relembra que até os dias de hoje atendem crianças encaminhadas pelo município. Atualmente, as cinco “creches” atendem 566 pequenos, dos 0 aos 3 anos de idade, enquanto no Abrigo são 25 crianças dos 0 aos 18 anos.

A terceira é a UEI Cinco de Maio. O nome faz alusão à data de fundação de município. Fundada em 1983, atualmente se localiza na rua Barão do Jacuí, 121, no bairro Cinco de Maio

A primeira, que leva o nome de sua idealizadora, Anita Harres Ferraz, foi fundada em 1977 e ainda está localizada na rua Dr. Bruno de Andrade, 940, no bairro Municipal. Além de unidade de educação, este local ainda é a Sede Administrativa da SBE.

Ano atípico traz preocupações e expectativas
Desde março, as cinco unidades de educação da SBE tiveram seus trabalhos totalmente paralisados em função da pandemia. Agora, o momento é de expectativa, mas também preocupações. “Estamos esperando que em 2021 possamos voltar a trabalhar. Inclusive já estamos fazendo matrículas. Nossos funcionários estão naquele regime de suspensão, recebendo, claro. De qualquer maneira, a gente não tem absoluta certeza do que vai acontecer. Não sabemos o que vai ser de janeiro em diante”, salienta Josenia.

A quarta unidade é a Hélio Soares Araújo. O nome referencia um membro do Lions Clube, entidade que construiu a unidade. O funcionamento iniciou em 1987, localizada bairro Germano Henke

A instituição tem feito o possível para seguir auxiliando as famílias e crianças carentes e sabe da dificuldade que todos passam desde os últimos meses. “A gente sabe que as famílias estão precisando de gente para ficar com as crianças, temos tentado ajudar. A merenda escolar que nós recebemos do Governo a gente tem repassado a elas. É o que a gente pode fazer neste momento”, comenta.

Além disso, há outra questão: mesmo que seja possibilitada a volta do funcionamento das creches, o custo dos itens de segurança para a saúde durante a pandemia. “Para nós recebermos as crianças de volta o custo de todo material que a gente precisa comprar e todos os protocolos que a gente precisa seguir para ter segurança com a saúde nesse momento é muito alto. Então vou te dizer que se mandassem a gente voltar hoje, não teria como, nós não teríamos condições de comprar todo o necessário. Os nossos funcionários não deixaram de receber em nenhum momento desde março, mas não teríamos condições, agora, de comprar o que precisa para reabertura”, afirma Josenia.

A quinta UEI é a Nilton Moreira. Seu nome homenageia um membro do Rotary Clube e também toda sua diretoria, sempre muito prestativa às ações do Lar. O funcionamento teve inicio em 1988 e hoje a unidade se localiza na Rua dos Imigrantes,900, bairro Senai

“Nós não somos fazedores de caridade”
Josenia pontua que a atual diretoria da Sociedade Beneficente Espiritualista preza muito pelo profissionalismo na entidade e que já não cabe mais dizer que a instituição serve de caridade. Ela relembra que atualmente, nenhum funcionário da SBE trabalha no local sem alguma formação. “A gente aqui tem profissão. Apenas alguns mais antigos que não. O nosso trabalho tem que ser valorizado. A gente não vive de esmola.

Precisamos ser reconhecidos pelo que fazemos. Isso nunca quer dizer que a gente não aceite doações, que as pessoas não possam nos ajudar, mas hoje em dia se precisa valorizar a função. Nós gostaríamos que a comunidade tomasse conhecimento disso”, ressalta.

Por último, e não menos importante, a Casa de Acolhimento Menino Jesus de Praga. Fundada em 1994 é a unidade mais recente que integra a SBE e se localiza na rua Rodolfo Heller, 771, no bairro São João.

Missa comemorativa ocorre hoje
Em função da pandemia, festejos tradicionais da SBE não poderão ocorrer neste ano. Lidando com as possibilidades, o Lar do Menor realizará hoje, 8, a partir das 18h30min, na Catedral, um momento de agradecimento na missa por todos os anos de funcionamento e parcerias conquistadas ao longo de sua caminhada.
Outra ação que também irá acontecer é a exposição de um painel na Câmara de Vereadores. Ele conta com histórico da entidade, fotos e informações essenciais. A população poderá visitar o painel até o fim do mês de dezembro para saber um pouco mais sobre a história da instituição.


Funcionária mais antiga permanece na Sociedade

Elisa de Oliveira, de 53 anos, é a funcionária mais antiga da SBE. Entrou na instituição com apenas 17 anos, no ano de 1985, como voluntária e após completar seus 18 anos, seguiu na entidade passando por diversas funções, atualmente é auxiliar administrativa. Elisa passou por quase todas as épocas da SBE e lidou com situações diversas, principalmente porque esse foi seu primeiro e único emprego.

Elisa de Oliveira. Foto: Arquivo pessoal

“Na época em que eu comecei era bem difícil porque atendíamos as crianças aqui do Morro. Elas eram bem pobres mesmo. Eles faziam a última refeição na creche e só iam se alimentar de novo no outro dia. Eles chegavam aqui muito sujos, sabe? A gente dava banho e tudo mais. Naquela época a gente vivia mais de doações, por exemplo, ia aos mercados, pegava as “sobras” que tinha lá”, relembra Elisa. “Não era fácil lidar com tudo. Tinha também adolescentes de 14 a 18 anos que ficavam aqui e era bem difícil. Imagina, né? Lidar com essa idade é meio complicado também, mas tudo bem”, pontua.

A SBE, sempre em transformação, mudou bastante, e Elisa pôde acompanhar tudo de perto. “Tudo mudou bastante. Na administração principalmente porque o pessoal vai cada vez mais atrás, consegue tudo o que foi necessário. E quanto às crianças também mudou bastante. Já não é mais aquele grupo de famílias em que as mães ficavam em casa e as crianças vinham para cá. Hoje em dia muitas delas trabalham”, conta ela.

Contudo, Elisa é objetiva em afirmar que a SBE sempre foi um ótimo lugar para se trabalhar e que enquanto puder, não abre mão da entidade. “Com certeza é muito bom trabalhar aqui. Eu tô aqui até hoje porque é um lugar muito bom de trabalhar mesmo. Já me aposentei tem cinco anos e continuo aqui. Um dia eu vou sair, mas vou ter que me preparar muito porque é meu lar. Meu primeiro amor”, pontua.

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