Síndrome de Tourette: tiques podem ser variados

A Síndrome de Tourette (ST), apesar de um problema considerado ainda raro (com baixa incidência na população em geral), pode impactar de maneira significativa a vida e o convívio social de quem tem a doença. Isso ocorre devido aos tiques motores e vocais característicos da condição. Esta síndrome é um distúrbio neuropsicológico associado a uma variedade de alterações em padrões emocionais e relativos aos comportamentos.

O Dr. Carlos Roberto de Mello Rieder, neurologista da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da Academia Brasileira de Neurologia, explica que os tiques motores isolados são muito comuns em crianças e que tendem a melhorar ou até mesmo desaparecer com a maturidade, com exemplos como piscamento, caretas ou puxar o pescoço. “São tiques persistentes por pelo menos um ano e com uma frequência quase diária”, afirma. Sem o acompanhamento adequado, a doença pode se tornar crônica, com a intensificação dos sintomas, bem como o surgimento de outros transtornos emocionais e de personalidade.

Na maioria das vezes, os tiques são de tipos diferentes e variam no decorrer de uma semana ou de um mês para outro. Em geral, ocorrem em ondas, com frequência e intensidade variáveis, pioram com o estresse, são independentes dos problemas emocionais e podem estar associados a sintomas obsessivo-compulsivos (TOC), ao distúrbio de atenção com hiperatividade (TDAH) e a transtornos de aprendizagem. É possível que existam fatores hereditários comuns a essas três condições, mas a causa do transtorno ainda é desconhecida.

Sintomas
Os tiques são a principal manifestação da Síndrome. Em média, atingem mais de 80% das pessoas com a condição. Eles são caracterizados como movimentos anormais, rápidos, súbitos e sem propósito, que podem ser simples ou complexos. Por outro lado, eles são atenuados em situações que exigem atenção ou em períodos de repouso.

Entre as principais manifestações desses tiques motores, estão piscar os olhos, franzir a testa contrair outros músculos do rosto ou de outras partes do corpo e balançar a cabeça. Eles podem, ainda, estar relacionados ao toque e à movimentação de objetos próximos, que geralmente, envolvem ações mais complexas e que podem ser confundidas com atos intencionais.

Em relação aos tiques vocais, os mais frequentes e simples são fungar e coçar a garganta. Já entre os mais complexos estão o uso involuntário de palavras obscenas ou a repetição de um som ou palavra emitido por outra pessoa. Tanto tiques motores quanto vocais podem ser suprimidos por alguns instantes, mediante algum esforço da pessoa. Por outro lado, a supressão pode provocar um comportamento exacerbado em seguida.

Diagnóstico
Não existe nenhum exame laboratorial ou de imagem que confirme ou descarte uma suspeita de Síndrome de Tourette. Assim, o diagnóstico é clínico. Com isso, a partir da avaliação profissional, o quadro deve obedecer aos seguintes parâmetros: múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, não necessariamente ao mesmo tempo; tiques que ocorrem diversas vezes ao dia, quase todos os dias, geralmente em ataques, ao longo de mais um ano, com início antes dos 18 anos de idade; nenhuma perturbação deve ser reflexo do uso do qualquer substância ou decorrente de outras condições médias. O diagnóstico deve se preocupar em diferenciar a Síndrome de Tourette de outras condições que geram comportamentos estereotipados, que podem ser confundidos com os tiques. Além disso, é preciso considerar as manifestações como reflexo do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

Tratamento
O neurologista Rieder afirma que não existem estudos suficientes para dizer que há uma maneira de prevenir a Síndrome, mas destaca que há os fatores desencadeantes, como fadiga e estresse, que pode exacerbar. A Síndrome é uma desordem que não tem cura, mas pode ser controlada. Estudos clínicos têm demonstrado a utilidade de uma forma de terapia comportamental cognitiva, conhecida como tratamento de reversão de hábitos. Ela se baseia no treinamento dos pacientes para que monitorem as sensações premonitórias e os tiques, com a finalidade de responder a eles com uma reação voluntária fisicamente incompatível com o tique. É importante ressaltar, entretanto, que a eficácia depende de cada caso.

Medicamentos antipsicóticos têm se mostrado úteis na redução da intensidade dos tiques, quando sua repetição se reverte em prejuízo para a autoestima e aceitação social. Em alguns casos de tiques bem localizados, podem ser tentadas aplicações locais de toxina botulínica (botox). Alguns autores defendem que, excepcionalmente, pode ser indicado o tratamento cirúrgico com estimulação cerebral profunda, aplicada em certas áreas do cérebro. Atividades como meditação e ioga podem ser úteis para aliviar o estresse. Esportes, de maneira geral, também podem ajudar tanto ao promover o relaxamento como por sua prática demandar atenção.

Embora a farmacoterapia desempenhe um papel importante no tratamento da ST, o entendimento claro sobre a doença como condição neurológica, por parte da própria pessoa, familiares e da convivência social mais próxima em geral minimiza os impactos negativos dos tiques e comportamentos que possam carrear significado, em geral negativo e aversivo. Por isso, abordagens comportamentais e psicoterapia auxiliam muito e são muitas vezes consideradas de primeira linha, incluindo psicoeducação, intervenções comportamentais.

Psicoeducação e Terapia de Suporte
A psicoeducação e a terapia de suporte (PST) podem ajudar a mitigar mal-entendidos relacionados à ST, além de reduzir estigmas relacionados à doença que possam ser claramente percebidos ou até subliminarmente percebidos por pessoas na convivência social. Assim, o melhor entendimento sobre a doença pode fornecer explicações apropriadas mesmo que haja dificuldades relacionadas à idade de incidência da ST e comorbidades associadas. Desta forma, melhorar o conhecimento da população geral sobre a ST, que inclusive é objetivo desta publicação, reduz equívocos e mal-entendidos em eventuais situações constrangedoras.

Por outro lado, o diagnóstico deve ser sempre realizado por médicos familiarizados com a ST e, se possível, especialistas, pois rótulos diagnósticos indevidos podem causar mais mal do que bem à pessoas e familiares por provocarem expectativas negativas de certos comportamentos ou mesmo sintomas exacerbados. Portanto, é importante que as informações sejam utilizadas para aumentar a conscientização e promover a aceitação das pessoas para esta condição de saúde. Ou seja, há evidências de benefícios quando tais intervenções acompanham a farmacoterapia.

Várias diretrizes de tratamento recomendam que os médicos usem psicoeducação para ajudar a educar pacientes, professores e colegas sobre a história natural desta síndrome. Estratégias de como realizar a divulgação destas informações foram estabelecidas de forma que combinassem a educação em nível individual com a disseminação de recursos que podem auxiliar pacientes e membros da família no entendimento da doenças, sendo que estas estratégias estão presentes em organizações nacionais focadas na síndrome de Tourette.

Intervenções Comportamentais
As intervenções comportamentais têm a vantagem de serem eficazes na redução dos tiques sem efeitos adversos significativos e portanto, são o tratamento de primeira linha de acordo com várias diretrizes de tratamento. Pelo menos um estudo demonstrou que as intervenções comportamentais são comparáveis à farmacoterapia na redução dos tiques. A prevenção de exposição e resposta (ERP) expõem os pacientes à sensação desagradável associada a um premonitório desejo, ensinando simultaneamente a habituação ao desejo e como evitar que o tique ocorra.

A reversão de hábito terapia (HRT), que envolve treinamento de conscientização, está relacionada à prática de resposta competitiva, motivação e controle de hábitos. Este treinamento foi uma das primeiros intervenções usadas com sucesso para reduzir os tiques. Sendo que existem evidências de que estas intervenções são eficazes em reduzir os tiques. Desde então, o HRT foi ampliado em intervenção comportamental abrangente para tiques (CBIT), que inclui psicoeducação, treinamento de relaxamento, recompensas comportamentais e intervenções baseadas em função.

Várias críticas ao CBIT, incluindo que ele só é útil para pacientes com tiques leves, que requer um esforço considerável para pacientes, que as melhorias dos tiques são modestas e não sustentadas ao longo do tempo, e que o CBIT pode resultar na substituição dos tiques ou agravamento, foram refutados. Embora o CBIT não demonstrou melhorar as comorbidades psiquiátricas, o CBIT demonstrou repetidamente reduzir a frequência do tique e gravidade com melhora a longo prazo.

Foto: freepik

Teste do Bracinho será obrigatório na rede pública e privada de saúde
O Projeto de Lei N° 238/23, de autoria do deputado Gustavo Victorino, que institui a obrigatoriedade do Teste do Bracinho nas consultas pediátricas, em crianças a partir de três anos de idade, atendidas pela rede pública e privada de saúde no estado do Rio Grande do Sul, foi aprovado por unanimidade nessa terça-feira, 12.

O objetivo da proposta é garantir, por meio da aferição arterial e da frequência cardíaca, o diagnóstico precoce e a prevenção da hipertensão arterial, doenças cardíacas, renais e em retina. Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um problema de saúde pública global, a hipertensão arterial acomete mais de 26% dos brasileiros e a prevalência na população pediátrica pode chegar a 15%.

De acordo com o projeto, a criança que apresentar alterações da pressão arterial, deverá ser encaminhada a um atendimento especializado para a realização de exames complementares.  Ao defender a matéria, na Tribuna, o deputado Gustavo Victorino enfatizou: “Um teste simples pode salvar muitas vidas já que a incidência de cardiopatia em crianças até dez anos é muito significativa”.  A proposta segue agora para sanção do governador.

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