Operação Mascate. Esquema vendia celulares e itens proibidos nas galerias da Penitenciária Modulada de Montenegro
Atualmente, a Penitenciária Modulada Agente Jair Fiorin (Pesqueiro) tem 146 servidores da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), entre administrativos e segurança. Pois bastou que apenas uma fosse corrupta para que um esquema de comércio ilegal fosse criado, afetando a imagem de toda a corporação. Mas o trabalho da Susepe em consonância com a Polícia Civil (PC) de Montenegro colocou fim ao crime, que afetava a comunidade.
Basicamente, ela levava para dentro celulares, carregadores e fones de ouvido e vendia aos criminosos. A sociedade sabe bem que o telefone mantém os condenados em contato com o mundo externo, permitindo que articulem e ordenem ações criminosas. Foi o que aconteceu nas execuções recentemente realizadas em São Sebastião do Caí, por exemplo. Além disso, a servidora levava itens como desodorante aerossol e perfumes.
Esses são proibidos por questão de segurança, devido à condição de inflamável e das embalagens conterem metal e vidro que podem virar armas. Mas também havia alimentos, como chicletes vendidos a R$ 30,00 uma cartela. O transporte era feito dentro de artigos pessoais da servidora, como revelam os carregadores sujos de erva-mate. O delegado regional, Marcelo Farias Pereira, observou que a prisão em flagrante ocorreu justamente após encontrarem dois celulares; envoltos em plástico filme, que foram colocados dentro de um pote de achocolatado que a agente usaria em seus lanches.
Questionado, o diretor da Penitenciária, Loivo Machado, informou que os servidores não passam por revista pessoal. “Não é feita nos servidores, pois eles têm a fé pública. E na teoria, quem está do lado da polícia é polícia”, afirmou. O corregedor completou, que a Susepe trabalha confiando na boa índole de seu pessoal, acreditando que entra na carreira pensando na Justiça.
Presos de confiança transitavam por tudo
Para o sucesso do esquema, a agente administrativa se associou a dois condenados. Eles eram detentos trabalhadores, logo, gozavam da confiança da direção e tinham livre circulação em toda a unidade. Um deles cumpre pena por roubo, é de Novo Hamburgo e alcançava a remissão da pena atuando no almoxarifado, ao lado da acusada. Ele levava os itens até a cozinha e depois distribuia nas galerias, usando carrinhos de serviço.
O outro é montenegrino, autor de feminicídio contra sua esposa, em um caso que ficou conhecido por ele ter ocultado o cadáver no quintal de sua mãe. Esse desempenhava função no setor de manutenção e em setembro progrediria ao sistema semiaberto. Entre as formas de distribuição, foi descoberto um que consistia em descolar a caixa de leite no topo, introduzir o ilícito e fechar com super cola.
Esse é um alimento comprado pelo Estado e que inclusive é entregue direto nas celas. O delegado da 1ª DP, Paulo Ricardo Costa, não descartou a entrada de drogas e armas, que será investigado na segunda etapa da Mascate. Os depoimentos devem revelar ainda o valor movimento pela quadrilha. Em uma das folhas da contabilidade do preso, por exemplo, um saldo apontava para R$ 25 mil em um mês.
Outra averiguação a ser feita é se a servidora também desvia materiais de dentro para fora da cadeia. O chefe do Serviço de Inteligência Policial e Análise Criminal (Sipac) da Polícia Civil no Vale, comissário Wellington Camargo, explica que o esquema não fazia distinção entre os “clientes”. O objetivo era ganhar dinheiro, assim vendiam para todas as facções criminosas que dividem a Modulada e em todas as galerias.
Punições por formação de quadrilha
Os dois presos já perderam seus benefícios, inclusive a progressão de regime, ficarão 10 dias detidos no isolamento e responderão processo disciplinar. Já na esfera criminal, responderão processo no qual podem ser acusados de formação de quadrilha. A pior situação será da servidora, que certamente perderá o emprego; responderá processo administrativo e na criminal inquérito pelos crimes cometidos.
E não está descartado que seja acusada de peculato (crime na esfera pública) e que responda ao Tribunal de Contas. A Operação Mascate foi deflagrada na manhã de ontem, para cumprimento de três mandados de busca e apreensão em Montenegro. Os itens apreendidos foram localizados na casa da servidora, em seu local de trabalho e nas celas dos condenados.
O delegado Marcelo explicou que a ação, voltada a combater a corrupção no setor carcerário, partiu de denúncia anônima recebida pela Polícia. Imediatamente, o Sipac fez contato com a Susepe e iniciaram investigação conjunta. O diretor Loivo, assim como o responsável pela 1ª DP Penitenciária (Canoas), delegado Benhur Calderon, destacou a parceria com as forças policiais, inclusive a Brigada.
Loivo ainda classificou como fundamental o apoio da comunidade para manter o controle da cadeia, que com população de 1.650 presos é uma pequena cidade. “A gente coíbe, de qualquer forma, a entrada de ilícitos na penitenciária”, disse. O delegado Paulo assinalou que a Mascate desarticulou um sistema criminoso que durava a cerca de quatro meses. “Eram três pessoas que estavam maculando os servidores da Susepe”.