Há 50 anos, em 29 de outubro de 1969, nascia a internet. Essa jovem senhora está tão arraigada em nossas vidas que parece ter sempre existido. Não me refiro a essa gurizadinha que mexe no celular antes de saber segurar um lápis ou um talher. Estes, os nativos digitais, olham para a tecnologia e vêem algo comum, acessível e normal na sua vida. E tem de ser assim mesmo para eles. Estranho é passar a mão em um papel e nada saltar na “tela”.
Mas quem tem mais de 15 anos não brincou com um tablet ou smartphone ainda bebê, enquanto resmungava no almoço, ou recebeu um desses aparelhos para “dar um descanso” aos pais. E, mesmo assim, salvo raríssimas exceções, não consegue passar mais de uma hora sem conferir o WhatsApp. Lemos notícias, assistimos a vídeos, pedimos transporte e comida por aparelhos minúsculos. E provavelmente muito em breve este texto estará desatualizado porque outras revoluções tecnológicas já terão alterado a nossa vida.
A gente não tem como frear isso. Nem queremos, certo? Adoramos cada “brinquedinho” que a tecnologia nos oferece e nos beneficiamos das facilidades promovidas pelos avanços. A questão é que a tecnologia evoluiu rápido demais. E como não sabemos respeitar essa cinquentona, ela nos cria infinitos problemas. Um dos mais graves está nas já famosas “fake news”, em bom português, notícias falsas, que se alastram pelas redes sociais e WhatsApp fazendo vítimas.
Às vezes, elas são plantadas com a intenção de destruir. As últimas eleições ofereceram muitos exemplos deste tipo, com boatos criados a todo o momento e por diferentes candidatos Brasil afora. Mas também existe a fake news da pura desinformação, eventualmente até com um fundo de boa intenção. No objetivo de fazer um alerta, é possível causar pânico e desinformação, além de magoar pessoas envolvidas ou promover a discórdia dentro de uma comunidade.
A área da saúde é uma das que mais sofre com as notícias falsas propagadas rapidamente na internet. É remédio milagroso contra doenças ainda incuráveis. Campanha – burra e inacreditável – contra as vacinas. E relatos de surtos de doenças que não estão confirmados. Vivemos um caso esta semana em Montenegro, quando um áudio citando uma criança com meningite se espalhou. Não demorou muito para que, nas redes sociais, profissionais da saúde e da escola onde a criança estuda fossem acusados de negligência e de esconder informações. Tudo antes do exame que comprovaria a doença ter seu resultado confirmado.
Os boatos sempre existiram, mas, até a internet se popularizar, ficavam restritos a um pequeno círculo de pessoas. Agora se espalham como um rastro de pólvora que faz vítimas sem precisar de nenhuma explosão. A senhora internet é maravilhosa, tem muita vitalidade e promete sacudir a vida da gente cada vez mais. Porém, se não aprendermos a lidar com ela com responsabilidade, enfrentaremos o pior lado de sua personalidade: o caos. Tenhamos mais juízo.